Depois do doping russo, pesadelo do abuso sexual nos EUA mancha esporte olímpico

Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo Horizonte
28/01/2018 às 21:10.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:00
 (Jeff Kowalsky/AFP)

(Jeff Kowalsky/AFP)

Depois da revelação de um escândalo sistemático de doping acobertado pelas autoridades russas que comprometeu a participação nos Jogos do Rio-2016 e vai tirar o país da próxima Olimpíada de Inverno, o mundo do esporte vive os reflexos de outra bomba envolvendo a maior potência esportiva do planeta.

Nada menos que 156 ginastas norte-americanas confirmaram ter sido vítimas de abuso do médico da USA Gymnastics (a federação do país), Larry Nassar, uma lista que inclui várias atletas menores de idade e campeãs como Simone Biles (quatro ouros e um bronze no Rio) e Aly Raisman.
De forma sumária, Nassar foi julgado e condenado pela juíza Rosemarie Aquilina, do Condado de Lansing (estado de Michigan) a pena que varia de 40 a 175 anos de prisão, por sete crimes. A magistrada foi chamada de “heroína” por Biles.

A condenação, no entanto, é a ponta de um iceberg que pode provocar mudanças radicais na estrutura do esporte norte-americano. As atletas sustentam que a USA Gymnastics tinha conhecimento da ação de Nassar (dispensado em 2015, depois do alerta de alguns técnicos) e fez de tudo para impedir o vazamento da informação na preparação para os Jogos do ano passado.

Além disso, há elementos nas investigações que sugerem que Nassar teria cometido praticas semelhantes em seu trabalho na Universidade de Michigan State – a entidade de ensino também está na mira do FBI. E mesmo o Comitê Olímpico Norte-Americano (Usoc) se vê em situação delicada, acusado, pelas ginastas e por especialistas, de não desenvolver qualquer esforço de monitoramento e proteção dos atletas.

No Senado

As senadoras Jeanne Shaheen (Partido Democrata) e Joni Ernst (Partido Republicano) conseguiram convencer os colegas a instalar o equivalente à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso brasileiro para discutir o caso e sugerir mudanças na legislação.

Elas sustentam que, se o abusador foi identificado e devidamente punido, é necessário averiguar como ele pôde agir por quase uma década impunemente e até que ponto foi acobertado por superiores, temerosos de que a revelação do escândalo tivesse efeito nas pretensões olímpicas.

O Usoc deu prazo até o meio dessa semana para que toda a diretoria da USA Gymnastics seja substituída, sob pena de descrendenciar a entidade e tirar dela a responsabilidade sobre a modalidade nos EUA. A recomendação é de que um comando provisório assuma os destinos do esporte e colabore com total transparência com as investigações, aceitando eventuais condenações.

Além disso, todos os integrantes da nova diretoria deverão ser submetidos a um treinamento de três meses no Centro Nacional por um Esporte Limpo (SafeSport), entidade que funciona em Denver, no Colorado, para disseminar a importância da diversidade, do apoio emocional e do combate ao uso de substâncias proibidas – também conta com um serviço que permite denúncias anônimas de abusos e assédio sexual.

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