Em 1955, Galo e Villa Nova travaram um dos capítulos mais violentos da história do futebol mineiro

Alexandre Simões - Hoje em Dia
21/09/2015 às 07:36.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:48
 (Editoria de Arte)

(Editoria de Arte)

O futebol mineiro vivia há 60 anos um dos capítulos mais polêmicos e violentos da sua história. Na tarde de 25 de setembro de 1955, um domingo, Atlético e Villa Nova faziam no Estádio Independência o terceiro jogo pela decisão do primeiro turno do Campeonato Mineiro. E a partida terminou aos 20 minutos do segundo tempo. Após Paulinho Valentim abrir o placar para o Galo, uma briga generalizada provocou a expulsão de 21 jogadores. Apenas o atleticano Joel não foi excluído pelo árbitro carioca Eunápio de Queiroz no confronto que ficou conhecido como “O jogo dos 21”.

A primeira metade dos anos 50 foi o período em que mais se acirrou a rivalidade entre Atlético e Villa Nova. Os dois clubes fizeram as finais do Estadual em 1951, quando o Leão levou a melhor, e em 1953, quando o Galo deu o troco.

Além disso, a própria decisão do turno de 1955 já tinha começado, uma semana antes, com um primeiro jogo violento, com quatro expulsões, duas de cada lado, num empate por 1 a 1.

Na quinta-feira, dia 22 de setembro de 1955, a vitória por 2 a 1 do Villa Nova fez com que o time entrasse em campo naquele dia 25 precisando apenas do empate para ser campeão.

Apesar de todo o histórico de rivalidade, os relatos mostram que a partida transcorria de forma tranquila, como evidencia o parágrafo seguinte, retirado do Diário de Minas de 27 de setembro de 1955.

“Ninguém acreditava, ao presenciar o primeiro tempo, que o ambiente pudesse mudar tanto de um momento para outro. Isso porque a peleja transcorria em clima de monotonia. Os dois quadros mostravam-se frios, e pouca impressão davam de que jogavam uma peleja decisiva”.

A segunda etapa foi completamente diferente. E a violência já tinha entrado em campo antes da pancadaria. O texto do Diário de Minas revela que Afonso, do Atlético, deu uma entrada desleal em Nelsinho, do Villa, mas não foi expulso.

Em seguida, com a típica intenção do revide, foi a vez do zagueiro Anísio saltar sobre Amorim com os dois pés para frente, também sem ser expulso.

PANCADARIA

“Aos 20 minutos, numa carga cerrada do Atlético, Dick defendeu parcialmente. Pressionado por Joel, soltou a pelota. Paulinho entrou na jogada e arrematou com violência, no meio de um verdadeiro bolo de jogadores. A pelota foi ao fundo das redes. Pouco depois começava a confusão, quando dois valores do Atlético foram à pelota no fundo das redes”, narra o Diário de Minas, sobre o gol alvinegro e o início da briga.

O jornal relata ainda que os dois lados tinham versões diferentes para a pancadaria: “A explicação do início dos acontecimentos é coisa bastante difícil de se fazer. Os atleticanos justificam-se dizendo que apenas foram buscar a pelota no fundo do gol, e ali foram agredidos. Já os vilanovenses dizem que Dick sofrera falta, e ainda que os jogadores do Atlético o teriam insultado, com a conquista do gol”.

Expulsos pela pancadaria foram suspensos por dez partidas

 

 

Com a expulsão dos 21 jogadores, o jogo entre Atlético e Villa Nova foi encerrado, pois desde 1948 a Fifa tinha determinado que uma equipe não poderia ficar com menos de sete atletas em campo. A polêmica é como ficaria o título do primeiro turno. O regulamento falava em melhor de três partidas, mas se um clube ganhasse duas seria campeão.

Na súmula, o árbitro apontou Tão, do Villa Nova, como o jogador que deu origem à confusão após uma agressão a Amorim, do Atlético, mas sem indicar um vencedor, limitando-se a relatar que o jogo foi suspenso em virtude da pancadaria e que, naquele instante, o Atlético vencia por 1 a 0.

No dia 30 de setembro, o TJD mineiro se reuniu para julgar a súmula da partida. Todos os envolvidos na confusão foram suspensos por dez partidas, mas não aconteceu nenhuma definição em relação ao vencedor do confronto.

TÍTULO

Em 7 de outubro, a FMF declarou o Villa Nova campeão do turno. O presidente Natalicio Carsalade acatou parecer do assistente técnico Adalberto Faleiro.

Como o regulamento não era claro em relação ao número de pontos, mas apenas ao número de jogos, no máximo três, para Faleiro, a partir do momento em que o Atlético teve dez expulsos, e o Villa 11, a partida foi encerrada pela falta do número mínimo de atletas em campo.

E ele garantia que cada clube tinha que somar zero ponto, pois nenhum lado poderia ser beneficiado. Assim, o Villa seria campeão, pois tinha marcado três pontos e o Atlético 1.

O Galo recorreu da decisão e ganhou. A FMF foi obrigada a remarcar a terceira partida da decisão do primeiro turno, depois que o segundo, conquistado pelo Democrata-SL, e o terceiro, vencido pelo Atlético, já tinham sido disputados.

GOLEADA

Em 15 de abril de 1956, Atlético e Villa voltaram ao Independência para disputar a terceira partida da decisão do primeiro turno do Estadual de 1955.

O Leão precisava apenas do empate para ser campeão. O Galo tinha que vencer para forçar a realização de um quarto jogo, em 6 de maio.

Depois de um primeiro tempo equilibrado, que terminou 2 a 2, no início da segunda etapa, duas falhas do goleiro Sinval deram início à última goleada aplicada pelo Villa Nova sobre o Atlético .

Aos 8 e 9 minutos, Nelsinho fez 4 a 2 para o Leão. O resultado final da partida foi de 6 a 2 para o Villa Nova.

Com o resultado, o Villa Nova garantiu presença no triangular final da competição, disputado pelos três vencedores de turno, em ida e volta. O Atlético foi campeão ganhando as suas quatro partidas. O Democrata-SL foi vice. O Leão perdeu todos os seus jogos e ficou em terceiro.

Nos anos 50, o Atlético ser campeão mineiro não chegava a ser uma novidade, pois o clube contava com um dos maiores esquadrões da sua história levantou a taça sete vezes em dez edições.

Por isso, o Estadual de 1955 ficou marcado mesmo pelo “Jogo dos 21”.

 

 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por