Em 2004, Brasil e Haiti se enfrentaram em jogo 'pela paz'

Estadão Conteúdo
08/06/2016 às 13:12.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:48
 (Nilton Santos / CBF)

(Nilton Santos / CBF)

Defender a seleção de seu país é o sonho da maioria dos jogadores. Mas, em algumas circunstâncias, entrar em campo pode ter uma representatividade muito maior do que atuar em uma simples partida de futebol.

Em fevereiro de 2004, o Haiti viveu um novo conflito civil, que resultou na renúncia do presidente Jean-Bertrand Aristide, acusado de corrupção pela oposição. Visando reorganizar o país, a ONU criou em junho a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. O projeto pacifista teve o Brasil como coordenador.

Após discussões sobre a participação brasileira na missão, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs à CBF fazer um jogo amistoso no Haiti para iniciar uma campanha do desarmamento e dar um pouco de alegria a um sofrido povo apaixonado por futebol. A confederação gostou da ideia, que também foi aceita pela Fifa, resultando no "Jogo da Paz", marcado para 18 de agosto daquele ano, em Porto Príncipe.

A proposta não foi vista com bons olhos por alguns clubes, como Milan e Bayern de Munique, que não liberaram Dida, Cafu, Kaká, Lucio e Zé Roberto, respectivamente. Mesmo pouco tempo antes do jogo, a ideia de ir ao Haiti ainda era vista com desconfiança, já que o elenco brasileiro só desembarcaria no país duas horas antes do jogo.

No entanto, toda a apreensão que existia se transformou num mar de emoção após a equipe chegar à capital Porto Príncipe. "Quando a gente desceu foi impressionante. Você via aquela multidão com dificuldades de sobreviver, e, mesmo assim, todo aquele povo todo alegre. Só quem estava lá viu como o futebol pode ajudar uma sociedade", disse ao Estadão.com o ex-zagueiro Roque Júnior, que atuou naquela partida.

A trajetória até o estádio Sylvio Cator, feita em veículos militares Urutu, mais parecia um desfile de campeões a céu aberto. Em todo o caminho, os brasileiros foram ovacionados por um povo que parecia não acreditar estava a metros de distância de Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e companhia.

Sob o intenso calor caribenho, a seleção deu show e goleou o Haiti por 6 a 0, com direito a três gols de Ronaldinho Gaúcho, dois de Roger e um de Nilmar. Cada gol do Brasil era comemorado pelos 15 mil torcedores no estádio como se fosse dos anfitriões. "Na hora que a gente fazia gol eles aplaudiam também. Eles nunca iriam imaginar que receberiam uma seleção brasileira naquele momento", afirmou o ex-zagueiro.

Apesar disso, não houve tempo de retribuir todo o carinho recebido. Logo após o jogo, a delegação embarcou no Urutu. A despedida teve o mesmo tom da recepção: ruas tomadas de haitianos fanáticos, que tiveram a oportunidade inesquecível de saírem de suas casas para encostar nas mãos de seus grandes ídolos por um dia. "Nós só fomos recebidos daquele jeito no Brasil após ganharmos a Copa do Mundo e lá era só um amistoso", relembra Roque Júnior, que considera o "Jogo da Paz" uma das experiências mais emocionantes de sua vida.

FICHA TÉCNICA
HAITI 0 x 6 BRASIL

HAITI - Max (Gabart); Thelanor, Germain (Jacques), Gabbardi e Bourcicaut (Stephane); Guillaune, Bourdot (Barthelmy), Gilles (Telamour) e Romulut (Mones), Fleury (Francis) e Desir (Herold). Técnico: Carlo Marzelin

BRASIL - Júlio César (Fernando Henrique); Belletti, Juan (Cris), Roque Júnior e Roberto Carlos (Adriano); Juninho Pernambucano, Gilberto Silva (Renato), Edu (Magrão) e Roger (Pedrinho); Ronaldinho e Ronaldo (Nilmar). Técnico: Carlos Alberto Parreira

GOLS - Roger, aos 19, Ronaldinho Gaúcho, aos 32, e Roger, aos 41 minutos do primeiro tempo; Ronaldinho Gaúcho, aos 21, e aos 36, e Nilmar, aos 40 minutos do segundo tempo.

CARTÕES AMARELOS - Roger.

ÁRBITRO - Paulo César de Oliveira.

PÚBLICO - 15 mil expectadores.

LOCAL - Estádio Sylvio Cator, em Porto Príncipe (Haiti).
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