Em livro, Tostão relembra a conquista da Taça Brasil de 1966

Alexandre Simões
asimoes@hojeemdia.com.br
06/12/2016 às 20:23.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:58

No capítulo dedicado à Taça Brasil no livro “Rei de Copas”, lançado pela Editora Leitura em 2010, a campanha do Cruzeiro foi relembrada por ninguém menos que o craque Tostão, maior jogador da história cruzeirense e destaque do time de 1966.

Leia a seguir, o capítulo completo:

A TAÇA BRASIL DE 1966
Por Tostão

A caminhada cruzeirense na Taça Brasil de 1966 começou em Campos, contra o Americano, que representava o estado do Rio de Janeiro. O time já começava a chamar a atenção. A grande estrela era Tostão, que naquele ano já tinha defendido a Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Inglaterra. Mas o craque revela que a atração no primeiro jogo contra o time fluminense foi outro jogador cruzeirense.

"Foi um jogo muito esperado pela cidade, por ser oficial, decisivo, válido por um mata-mata. Além disso, o Cruzeiro começava a despertar curiosidade no Brasil, e também tinha o Evaldo, que nasceu na cidade, onde jogou e, depois, foi para o Fluminense", recorda o camisa 8.

O Americano foi eliminado sem dificuldade, com duas goleadas (4 a 0, em Campos e 6 a 1 em Belo Horizonte), mas a partir das quartas de final o que o Cruzeiro menos encontrou foi facilidade. A vaga na semifinal foi decidida com o Grêmio - pelos números, o adversário mais difícil de ser superado naquela Taça Brasil.

"Vencer o Grêmio sempre foi muito difícil, como é hoje. Desde aquela época, os times gaúchos jogavam um futebol de mais marcação. O time do Cruzeiro era formado de jogadores leves, hábeis e que praticavam um jogo mais vistoso que o Grêmio. Essa diferença continua até hoje", avalia Tostão. Os confrontos contra o Grêmio decidiram o vencedor da chave Centro-Sul, pois a Taça Brasil era regionalizada e ainda contava com a chave Norte-Nordeste.

Pela primeira vez um time mineiro alcançava as semifinais da principal competição nacional de clubes. Os dois jogos contra o Fluminense, que já entrava diretamente nessa fase, pela vantagem que os times de Rio de Janeiro e São Paulo carregavam, eram uma façanha e o Cruzeiro passou para a decisão sem muita dificuldade. Parece que a ansiedade, pelo momento histórico para o futebol mineiro que o time vivia, foi até mais adversária que a própria equipe carioca.

"Todo jogador fica ansioso antes de jogos decisivos. Assim também foi na época. Como o futebol mineiro não tinha o prestígio que tem hoje, havia mais curiosidade sobre o Cruzeiro. Acho que isso também nos ajudou", afirma Tostão. A decisão seria contra o Santos, de Pelé, maior equipe montada por um clube em toda a história e que buscava o hexacampeonato da Taça Brasil, pois dominava a competição desde 1961.

Apesar do poderio do adversário, recheado de jogadores da Seleção Brasileira, Tostão revela que o Cruzeiro não se sentia inferior: "O time do Cruzeiro estava tão bom que nos fez acreditar que seria possível chegar ao título. O Cruzeiro tinha uma equipe muto jovem, e veloz, diferentemente do Santos, que já era uma equipe mais lenta e mais cadenciada do que era no início da década de 1960. Na correria e na habilidade, chegamos ao título".

A grande marca da conquista cruzeirense foi a goleada por 6 a 2, na partida de ida da final, no Mineirão. O capitão do tri, Carlos Alberto Torres, revelou que aquele foi o maior vexame que passou como jogador. Segundo ele, na palestra antes da partida, Lula (técnico do Santos) tinha falado para os seus jogadores que o Cruzeiro era um time jovem rápido, habilidoso e que por isso era para eles segurarem uns 15, 20 minutos, para depois partirem para cima. Com 20 minutos, o placar já era 3 a 0.

"O Cruzeiro surpreendeu o Santos pela velocidade e habilidade. Sabíamos que tentariam segurar a bola, cadenciar o jogo, não só pela velocidade do Cruzeiro, como também porque esse era o estilo do Santos. Entramos com tudo para tentar decidir o jogo logo. Foi o que aconteceu", revela Tostão.

O primeiro tempo terminou com o placar de 5 a 0 para o Cruzeiro. Mas os dois gols do centroavante Toninho, logo no início da segunda etapa, chegaram a abalar o time cruzeirense, segundo Tostão: "Não há dúvida de que houve uma apreensão normal, ainda mais em se tratando do Santos, quando Toninho fez o segundo gol. O gol de Dirceu Lopes definiu o resultado".

Um empate na segunda partida, que foi disputada no Pacaembu, em São Paulo, era suficiente para que o Cruzeiro ficasse com o título. Uma vitória santista determinaria a disputa de um terceiro jogo. Uma história muito contada daquela final é a possível ida de Mendonça Falcão, na época presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), ao vestiário do Cruzeiro, no intervalo, quando o placar era de 2 a 0 para o Santos, para tratar do local e data do terceiro confronto. Ele teria sido expulso do local pelo presidente cruzeirense, Felício Brandi.

Tostão garante que não tomou conhecimento da visita e que o fato não foi usado para motivar o time: "Não tenho certeza se isso é verdade. Ficamos sabendo disso depois do jogo. Não me lembro de ter visto Mendonça Falcão no vestiário, no intervalo do jogo. Nem isso foi usado pelo Cruzeiro para motivar os jogadores, como falam".

Independentemente do que aconteceu no vestiário, no intervalo, a verdade é que o Cruzeiro voltou para o segundo tempo com uma postura diferente. O time passou a ter o domínio do jogo e nem a perda de um pênalti, por Tostão, aos 12 minutos, diminuiu o ímpeto da equipe.

"Fiquei triste no momento (da perda do pênalti), mas imediatamente reagi. Quando perdi o pênalti, o Cruzeiro dominava o jogo e criava muitas situações de gol. Por isso, percebi que ainda era possível virar a partida. Logo depois, fiz um gol de falta, quase sem ângulo", recorda Tostão.

Assim como tinha acontecido no primeiro tempo, no jogo do Mineirão, o Santos não conseguia segurar o Cruzeiro na segunda etapa, no Pacaembu. "Chegamos aos 2 a 2, que já eram suficientem para nos dar o título, mas não nos preocupamos em segurar o resultado, continuamos atacando, já que o Santos estava cansado, perdido, e o Cruzeiro muito bem. Viramos o placar e se tivessem mais cinco ou dez minutos de jogo, faríamos mais gols", afirma Tostão.

No mesmo ano, Tostão chegava à Seleção Brasileira, disputava a sua primeira Copa do Mundo e ganhava o título brasileiro. Um ano inesquecível, que deixa o jogador dividido sobre o que mais lhe deu satisfação naquele memorável 1966: "Difícil escolher. No vestiário, após o título conquistado, um fotógrafo colocou uma coroa na minha cabeça e bateu a foto. No outro dia, um jornal de âmbito nacional colocou na primeira página: "O novo rei". Fiquei constrangido. Senti-me usurpador do trono. Tinha consciência do meu lugar. Conto isso para mostrar a importância que foi o título para mim e para o Cruzeiro".

A CAMPANHA

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