'Era a segunda opção do Minas e fui embora’, revela Serginho

Felippe Drummond Neto
Hoje em Dia - Belo Horizonte
12/04/2015 às 08:48.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:36
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Perto de disputar sua 12ª decisão de Superliga, Serginho, líbero do Sada/Cruzeiro, falou com exclusividade ao Hoje em Dia, onde falou sobre a grande final da competição diante do Sesi, neste domingo (12), a partir de 10h, no Mineirinho.   Eleito duas vezes o melhor líbero do mundo, Serginho revelou as frustrações que teve na carreira, como nunca ter disputado uma Olimpíada e a mágoa com o Minas, clube que o revelou.   Como é atuar em uma posição em que nem sequer é possível pontuar? Infelizmente, a posição foi criada com esse impedimento. Mas não acho que a estatística de pontos faria diferença na minha carreira ou na de qualquer outro líbero. Não fico esperando essa regra mudar. Eu tinha sido mandado embora da base do Minas quando criaram a posição de líbero me chamaram de volta. Voltei a jogar e abracei a posição.Eu queria era jogar, independentemente da posição, mas acabei me especializando na função e hoje posso dizer que sou o jogador que mais chegou em finais de Superliga e um dos que mais conquistaram títulos. Além disso, o líbero também não pode ser o capitão do time. Não que eu queira ser, mas não há necessidade de essa regra existir.   A posição de líbero é meio discriminada na montagem das equipes. Mas é possível receber um bom salário como líbero? Claro. Tudo que tenho foi o vôlei que me deu. Lógico que não recebo como oposto, é a mesma comparação de quanto recebem um atacante e um goleiro. Ainda é mais gritante, porque o vôlei não paga tão bem quanto o futebol. Mas tenho uma vida confortável. Estou entre os jogadores que melhor recebem na minha posição.   Você é um dos atletas mais vendoresda história do vôlei brasileiro e esta será sua 12ª final, quinta consecutiva. O que você sente quando ouve esses números? Não gosto de falar isso em primeira pessoa. Sempre me lembro de todo mundo com quem joguei em cada uma dessas finais, pois todos tiveram uma parcela de contribuição. Mas fico muito feliz, porque eu sei que mais difícil que ser campeão é se manter no topo. A grande armadilha que um atleta enfrenta durante a carreira é não poder se acomodar com as conquistas. Além disso, meu maior objetivo é sempre vencer o próximo jogo, nesse caso a final contra o Sesi.   Você acredita que será um jogo mais difícil do que na temporada passada? No contexto geral tem tudo para ser mais equilibrado. Se pudesse escolher gostaria de uma final tranquila para a gente. Mas se for equilibrada temos que encarar. Para o público é ótimo que seja um jogão de cinco sets, mas para nós jogadores o objetivo é sempre acabar com a partida o mais rápido possível.   Você passou toda a carreira sem uma lesão. Qual o segredo? O segredo é cada ano a mais de vida, sete dias a menos de férias (risos). Para nós, atletas de alto rendimento, é muito difícil ficar um mês parado e depois voltar a jogar. A função de líbero também não tem alto nível de lesão, o que ajuda.   Qual a maior frustração da sua carreira? Ter tido poucas oportunidades na seleção acabou me privando do meu maior sonho que era jogar uma olimpíada. O mundial nem faço questão, pois joguei o de clubes e fui campeão. Mas o que eu queria era medir meu nível nessas competições, o que consegui fazer isso pelo Cruzeiro tendo sido eleito duas vezes o melhor líbero do mundo. Isso abafou um pouco a minha frustração de não ter ido a uma Olimpíada. Esse lance da seleção me incomodou por muito tempo quando era mais jovem. Mas hoje não incomoda.   Você acha que ter o mesmo nome do Serginho (Escadinha) atrapalhou sua carreira, já que acabou virando o outro Serginho? Não acho que isso tenha me atrapalhado, pois as pessoas que realmente acompanham o vôlei sabem qual Serginho é cada um. A opinião de quem não entende e não gosta de vôlei não importa. Sou o Serginho do Minas e do Cruzeiro, ele o Serginho da seleção. Além disso, eu nem posso achar meu nome ruim, se não minha mãe briga comigo (risos).   Esta final pode ser considerada um tira-teima? No primeiro ano em que nos enfrentamos na final éramos franco-atiradores, tínhamos o sexto investimento e por isso a medalha de prata valeu como ouro. Depois daquilo nosso projeto decolou. No ano passado, já em pé de igualdade com o Sesi, levamos vantagem, pois o adversário sofreu com as lesões. Acho até que a ausência do Evandro foi o maior problema deles e não os outros que jogaram machucados (Murilo, Serginho e Sidão). E este ano as duas equipes novamente chegaram a decisão, sem grandes problemas.   O que você pensa a respeito do ranking de pontuação que a CBV usa para equilibrar as equipes? Como atleta acho que precisa acabar. Mas pensando do lado do empresário, o ranking tem que continuar, pois se corre o risco de desnivelamento. Além disso, não é uma coisa que eu ou outro jogador tem que ficar opinando, porque em nenhuma decisão tomada no vôlei brasileiro até hoje os atletas foram consultados e não vai ser agora que serão.   Você começou no Minas. Qual a sua relação com o clube hoje? Tem saudade? Atualmente eu convivo muito pouco com o Minas (clube, atletas, etc). Como jogo no grande rival, não tem como manter essa ligação. Tenho o maior respeito pelo clube onde fui criado, aprendi muito lá dentro, tive grandes treinadores e passei por muitas situações que me ajudaram a amadurecer como jogador e pessoa. Fiquei muitos anos no Minas e até pensava que poderia encerrar minha carreira lá, mas não foi assim que aconteceu. Em um certo momento eu escutei deles que eu era a segunda opção. Quando você não é bem quisto em um lugar tem que pegar as coisas e ir embora. E foi o que fiz. Negociei com o Cruzeiro e logo no meu primeiro ano já me deram dois anos de contrato, algo incomum, mostrando a confiança que eles tinham em mim. E aqui (no Sada/Cruzeiro) tive minhas maiores conquistas.   Existe a possibilidade de voltar a jogar no Minas? Claro, pois sou atleta. Não posso ficar fazendo juras de amor, pois não sei o que o dirigente pensa. Se fosse assim faria um contrato vitalício. No vôlei você pode ser amado em janeiro e odiado em maio. Eu tenho a intenção de ficar no Cruzeiro até o final da carreira, mas faço parte de um mercado que sofre com a economia brasileira e não posso viver de amor.   Você foi lançado pelo Minas ao lado de uma geração de grandes jogadores (Henrique, Anderson, Douglas Cordeiro, André Nascimento). Como foi isso? Eu sou um privilegiado de ter jogado com essa galera desde novo. Isso ajudou muito na minha evolução. Eles fazem parte da minha história e estão guardados no coração e no meu HD.   Você tem planos para se aposentar? Não tenho um plano de idade para isso. O que vai me fazer parar são os números. Quando não estiver mais jogando bem, não precisa ninguém me falar. Irei examinar as estatísticas e parar. Mas enquanto eu estiver com os bons números, não precisam olhar para minha idade. Atualmente, temos grandes exemplos de jogadores considerados “velhos” que estão jogando em altíssimo nível. Tetyukhin na seleção russa, Marcelinho no próprio Sesi. Atleta não se mede pela idade e sim pelos números.   O que você pretende fazer depois que parar? Meu sonho é ser jornalista, mais exatamente correspondente internacional. Me imagino trabalhando em Londres, Nova Iorque. Mas sei as dificuldades da profissão. É muito trabalho, não ter direito aos fins de semana, plantão em feriado, isso me desanima. Também gostaria de ser comentarista de vôlei. Mas o que eu já sei é que vou fazer depois é ser empresário no meio, e vou trabalhar com meu pai na corretora de seguros dele. Tenho me preparado para isso, estudando inglês e administração.   Foto: Wesley Rodrigues/Hoje em Dia

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