Final estadual: Toca da Raposa II é 'cercada' por ruas que homenageiam figuras do Atlético

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
07/04/2018 às 23:14.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:14
 (Riva Moreira/Hoje em Dia)

(Riva Moreira/Hoje em Dia)

O ônibus do Cruzeiro sairá, neste domingo (8), da Toca da Raposa II rumo ao Mineirão, para a decisão do Campeonato Mineiro 2018 diante do rival Atlético. O trajeto de cerca de 20 minutos passará, necessiariamente, pela rua Adolfo Lippi Fonseca. Numa rota alternativa, a delegação celeste poderá pegar a rua Gregoriano Canedo, que corta a Lippi Fonseca.

Dois nomes que passam facilmente invisíveis diante das 11,6 mil ruas/avenidas de Belo Horizonte. Mas que escondem um passado de DNA atleticano num território cruzeirense, que só virou azul anos depois de tais denominações.

A rua de entrada do Centro de Treinamentos da Raposa - Adolfo Lippi Fonseca - é batizada em homenagem a um dos cinco filhos do falecido médico e deputado federal Fábio Fonseca e Silva. Ele foi duas vezes presidente do Atlético (1962-63 1 1967), além de  vice do clube na conquista do título de 1971.

Uma ironia do destino que une os rivais Atlético e Cruzeiro. A rua Adolfo Lippi Fonseca ganhou este nome em 1978, vinte anos antes de a criação do projeto da Toca II, quando o Bairro Enseada das Garças era um loteamendo de sítios e chácaras. O CT só seria erguida em 2002, levando a equipe profissional que treinava na Toca I desde 1973. 

O Decreto de nº 3.247, realizado pelo então prefeito Luiz Verano, em 16 de maio daquele ano, substituiu o nome de "rua A" por "Adolfo Lippi Fonseca", no limite entre Enseada das Garças e Trevo, na região da Pampulha. Homenagem ao filho de Fábio Fonseca, que havia morrido na época aos 18 anos.

 "Há na família uma doença hereditária que é a hemocromatose. É o excesso de ferro no sangue. Adolfo faleceu acometido dela aos ainda jovem. Então deram o nome dele para aquela rua, para também homenagear o meu pai. Era um atleticano fanático, daqueles que brigava na cadeira cativa do Mineirão, dava bandeirada nos outros. É uma coincidência, mas que ele não iria gostar muito (risos)", conta, ao Hoje em Dia, Angela Maria Lippi Fonseca, a única filha viva de Fábio, irmã de Adolfo.

PRESIDENTE DO GALO, DEPUTADO, DIRETOR DE JORNAL E RUA DA TOCA II
O logradouro que marca a porta da Toca II não é o único exemplo de "sangue atleticano" nas imediações do CT celeste. A que corta a Adolfo Lippi Fonseca na parte sul também é alvinegra: rua Deputado Gregoriano Canedo. Leva este nome também desde 1978, em referência a um ex-presidente do Atlético, ocupante do cargo entre 1946-1949.

Canedo, natural de Monte Carmelo-MG, foi diretor do Diários Associados, sendo chefe no jornal Estado de Minas. Formado em direito na UFMG, Gregoriano foi colega de Carlos Drummond de Andrade. Juntos, ao lado de Emílio Moura, da criação d'A Revista, em 1925. 

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, DRAGÕES DA F.A.O, 'PAI DOS JOGADORES'
Nas enciclopédias alvinegras, Fábio Fonseca tem espaço reservado. Nascido em 1920 em Uberlândia, formou em medicina na UFMG em 1950, fez parte do Conselho Federal e foi chefe de clícina da Santa Casa. Virou lenda a história de que só andava de camisa preta e calça branca. As fotos, e a própria filha dão veracidade à questão.Reprodução/Enciclopédia do Atlético/Adelchi Ziller

Dr. Fábio Fonseca (último) no título de 1971: ele próprio tem nome de rua perto da Vila Olímpica

Fábio Fonseca foi veterano da 2ª Guerra Mundial, membro da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Viu "a cobra fumar" na Itália, onde viveu momentos dramáticos. Ângela Fonseca relembra que o pai não era muito de falar sobre as experiências em combate. "Os amigos dele falavam mais. Ele contava que foi salvo por uma família italiana, que o impediu de perder a pena enquanto esteve sorretado na neve".

Dr. Fábio costumava se referir à presença da torcida do Atlético no estádios como "F.A.O - Força Atleticana de Ocupação", parodiando um organismo da ONU em combate à fome. Tal alcunha levou a inspiração da primeira Organizada do clube, em 1969: Dragões da F.A.O, até hoje presente nos jogos do Galo. A vida política de Fonseca dentro do Atlético ficou marcado pelo sua gestão de pessoas, principalmente pelos jogadores.

"Lá em casa a gente costumava dizer que tínhamos 22 irmaõzinhos. Porque meu pai cuidava dos problemas dos jogadores, eram iguais filhos para eles", diz Angela. Relacionamento este que tem relatos dos próprios jogadores no livro "1971 - O ano do Galo".Riva Moreira/Hoje em Dia / N/APraça Elias Kalil fica "aos fundos" da Toca II

PRAÇAS DOS DOIS LADOS DA LAGOA
O terceiro exemplo de referência ao Atlético nas redondezas da Toca da Raposa II é a praça Elias Kalil, que ganhou este nome em 1994, um ano após sua morte, por Lei municipal assinada pelo então prefeito Patrus Ananias. Elias é pai do atual prefeito de BH, Alexandre Kalil. E ambos ocuparam a cadeira presidencial do Atlético. 

Há um contra-ponto neste caso. Uma das praças da região, que inclusive é a interseção entre as ruas Adolfo Lippi Fonseca e Gregoriano Canedo, homenageia um dos maiores jogadores da história da Raposa: Leonísio "Niginho" Fantoni. A nomenclatura foi dada em 2003, por meio de projeto de lei do ex-presidente celeste César Masci, então vereador de BH.

Com passagem vencedora na Lazio, na dinastia dos Fantoni, Niginho era artilheiro nato. Só Dirceu Lopes e Tostão marcaram mais gols com a camisa celeste. Batiza a praça perto do local de sua morte: a Lagoa da Pampulha. O "tanque", curiosamente, também foi jogador do Atlético, em um único jogo, em 1935. 

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