#Galo110anos: carta, fotos e a vida de Aleixanor, fundador do Atlético e ex-presidente do América

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
25/03/2018 às 02:19.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:01
 (Reprodução/TV Galo)

(Reprodução/TV Galo)

Belo Horizonte não havia completado 10 anos de existência quando o estudante Aleixanor Alves Pereira desembarcou na jovem capital de Minas Gerais, em maio de 1907. Menos de 12 meses depois, ele estava presente na reunião do Parque Municipal, responsável pela fundação do Clube Atlético Mineiro, há exatos 110 anos. Um acontecimento histórico, com fatos relatados por ele próprio, através de uma carta de seis páginas, obtida pelo HD

Neste domingo de América x Atlético pelo Campeonato Mineiro, no Estádio Independência (às 16h), e que marca o aniversário do Galo, o Hoje em Dia conta a história de um dos 22 fundadores (e presidente) do clube alvinegro e que também foi presidente do Coelho (em 1915). Além disso, Aleixanor também está eternizado na história de Atlético x Cruzeiro. Afinal, ele foi o árbitro do primeiro clássico em 1921.

Aleixanor, nascido em Diamantina em 4 de julho de 1893, era apenas um garoto de 15 anos incompletos quando fez parte dos 22 estudantes-fundadores do Galo. Segundo presidente do clube, em 1911, viveu até os 90 anos incompletos, falecido em 4 de março de 1983.

Deixou registros sobre os tempos em que o Galo era criança - assim como ele - numa BH também à espera da adolescência. Em uma carta guardada pela família (veja abaixo), e enviada à reportagem através do filho caçula - José Maurício Alves Pereira -, Aleixanor conta como participou do nascimento do Atlético, e explica o desentendimento interno que o fez trocar, assim como outros amigos, o alvinegro pelo alviverde. Lucas Prates/Hoje em Dia / N/A

Aleixanor foi o segundo presidente do Atlético,
em 1911, após Margival Mendes Leal, o Vate

A biografia de Aleixanor reúne outros nomes imortais da história de Belo Horizonte, todos eles conhecidos hoje como nome de avenidas e ruas. Ele próprio batiza uma no bairro Mineirão, região do Barreiro

Foi servidor público do Estado de Minas Gerais durante 40 anos. Aposentou como auxiliar de gabinete na gestão de Juscelino Kubitschek, em 1953.

Desempenhou mesma função - convidado por Olegário Maciel (avenida onde se localiza a Sede do Atlético) - no governo estadual de Fernando de Melo Viana, que seria vice-presidente da República quando eclodiu a Revolução de 1930. 

Aleixanor teve 12 filhos com a esposa Manoela Vilhena de Moura: Lúcia, Helena, Nícia, Eny, Maria Eugênia, Anna, Dalton, Martha, Rômulo, Célia, Eduardo e José Maurício. Seis ainda estão vivos. , e Humberto Alves Pereira Filho. 

O caçula, Zé Maurício, aos 58 anos, com o DNA alvinegro pulsando nas veias, segue o Galo pelo Brasil afora, e estará mais uma vez presente para acompanhar o jogo do clube que o pai ajudou a fundar contra a outra agremiação que também tem o sangue e suor da família Alves Pereira na história.

"Todos os filhos viraram atleticanos na família. Isso incluiu os netos também. Tenho uma filha que mora nos EUA, e é casado com um americano. Até ele ama o Atlético. Vou aos jogos do Galo em BH e também fora de Minas. Estive no jogo contra o Figueirense em Florianópolis (Copa do Brasil). Fui a Salvador, Recife e Campinas no Brasileirão do ano passado, além de ter estado em Santa Catarina também", conta José Maurício. 

"A contar a história do clube que ajudei a fundar"
Em carta escrita e posteriormente grafada à máquina pela família, Aleixanor explica o contexto no qual o Atlético surgiu, em 1908 e como o clube conseguiu seu primeiro campo oficial, curiosamente construído ao lado do que seria o primeiro campo no América (Minas Centro e Mercado Central, na atualidade, respecitivamte). 

Também conta da relação com outros clubes que existiam na época, como o Sport Clube Visserpa (em homenagem ao "pai" do futebol mineiro, Victor Serpa) e o Yale, que depois seria extinto e teria ligações com o Palestra Itália, hoje Cruzeiro Esporte Clube. 

Primeira parte da carta de seis laudas de Aleixanor Alves Pereira (conteúdo completo aqui)

Vida pública
Da mesma maneira, Aleixanor Alves Pereira também registrou sua carreira profissional como servidor público, tendo ficado 40 anos na profissão, sendo 30 no Palácio do Governo. Naquela época, o chefe do estado mineiro era chamado de "Presidente". 

Aleixanor foi convivado por Olegário Maciel, que havia sucedido a gestão de Raul Soares após a morte do mesmo, para integrar o gabinete de Melo Viana (presidente de Minas entre 1924 e 1926). Olegário Maciel seria um dos líderes da Revolução de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder e acabou com a Velha República. Nesta tomada de poder, o presidente do país, Washington Alves, foi derrubado, junto com Melo Viana (seu vice).

Alves Pereira fazia parte dos "8 batutas", conforme foto abaixo, ao lado do Coronel Oscar Paschoal, que foi presidente do América e dá nome à avenida próxima ao Mineirão, e que interliga justamente a Avenida Otacílio Negrão de Lima (Lagoa da Pampulha), o ex-Prefeito de Belo Horizonte e responsável por convidar Aleixanor para integrar o América após a "desinteligência" no Galo. Arquivo Pessoal/José Maurício Alves Pereira / N/A

Aleixanor, em destaque, no último dia do Governo Melo Viana (ao centro, sentado), em 1926 (clique aqui para acessar outros documentos pessoais da vida profissional de Aleixanor)

Aleixanor foi presidente do Atlético e do América. Algo que aconteceu também com Jair Pinto dos Reis, que também deixou o Galo no mesmo episódio de briga. Aleixanor morou na Rua Aimorés, 327, e também na Rua Paraíba, 1o27, ambas no bairro Funcionários, batizado assim por justamente ser a região onde moravam os funcionários públicos.
Os 22 fundadores do Atlético: Aleixanor Alves Pereira, Antônio Antunes Filho, Augusto Soares, Benjamim Moss Filho, Carlos Maciel, Eurico Catão, Francisco Monteiro, Hugo Fracarolli, Humberto Moreira, Horácio Machado, João Barbosa Sobrinho, Jorge Dias Pena, José Soares Alves, Júlio Menezes Mello, Leônidas Fulgêncio, Margival Mendes Leal, Mário Neves, Mário Lott, Mário Toledo, Mauro Brochado, Raul Fracarolli e Sinval Moreira.
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