'Ganhar o Brasileiro pelo Atlético é meu grande estímulo', avisa o treinador Oswaldo de Oliveira

Henrique André e Frederico Ribeiro
esportes@hojeemdia.com.br
30/11/2017 às 19:23.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:58
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

Dos 42 anos dedicados ao futebol, Oswaldo de Oliveira passou mais da metade trabalhando fora do país. Campeão do mundo pelo Corinthians, em 2000, e com rápida passagem pelo Cruzeiro, em 2006, o treinador agora encara o desafio de acabar com o jejum do Atlético, que desde 1971 não sabe o que é ser campeão brasileiro.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o carioca, que completa 67 anos na próxima terça-feira, fala da experiência adquirida no Mundo Árabe e no Japão, comenta o desafio de salvar o ano do Galo, e projeta os próximos passos pelo clube alvinegro, com o qual tem contrato até 2018.

Oswaldo, sua história no futebol, até onde conseguimos pesquisar, começa no Bonsucesso em 1975. São 42 anos de futebol. Mas quais foram os primeiros passos no esporte? Chegou a ser jogador profissional?
Futebol eu jogo até hoje, e bem pra caramba (risos)! Mas, profissionalmente, não cheguei a jogar não. Eu tentei. Treinei no Vasco, depois no Fluminense e, por último, no Bangu. Eu era um meia-direita.

Sua carreira como treinador tem duas experiências antes de assumir o Corinthians em 1999. Mas a trajetória começou de fato no Timão, já aos 49 anos. Como foi esse processo de deixar a função de auxiliar para decretar ser treinador?
Eu trabalhei no Al-Sharjah, dos Emirados Árabes, como preparador físico do Procópio Cardozo. Ele ficou adoentado, com problemas particulares, e eu assumi o time com um turno todo pela frente. Isso foi em 1983, 1984. Dali, porém, eu fui para o Catar, onde fiquei onze anos, ainda como preparador do Al-Arabi, clube que eu fui dirigir só agora (antes de assumir o Galo), e o tirei do rebaixamento. Trabalhei lá, de janeiro a maio (de 2017), como treinador. 

“O Eduardo Maluf era um grande amigo. Eu estava ainda no Japão e ele falava que iríamos trabalhar novamente e que me traria para o Galo. Infelizmente vim depois que ele se foi. É meio nostálgica esta situação”

Em cinco anos de Japão, o que mais te surpreendeu na cultura do país? E qual foi o maior aperto que passou num local tão diferente do Brasil?
Sinceramente, sem medo de errar, foi a melhor experiência que tive no futebol. Fui lá para ensinar, mas aprendi. O Japão é um país maravilhoso. Sou brasileiro, adoro o Brasil, não viveria para sempre em outro lugar, mas, se eu tivesse que escolher outra opção, com certeza optaria pelo Japão. Com uma semana de treinamento, na pré-temporada, a gente ia para Miyazaki, que é uma cidade no Sul, onde é um pouco mais quente no inverno. O Kashima Antlers vai todo ano para lá. Nestes dias por lá, chamei meus auxiliares e falei que ganharíamos tudo. Os caras (atletas) disciplinados e obedientes. Eu mandava e não pulavam uma vírgula. Fui questionado apenas uma vez, por um zagueiro. Ele não concordou com a forma que eu estava mandando marcar uma bola parada. Expliquei e ele entendeu.Divulgação/FMAGE / N/A

Por que os jogadores no Brasil não têm a mesma postura?
Depois da Copa do Mundo, quando se contestou muito o treinador brasileiro, eu falei várias vezes em entrevistas que a formação do jogador brasileiro é a melhor do mundo. Ninguém forma mais atletas que nós. O Brasil tem mais de 5 mil jogando fora do país. Eu fui ao Vietnã e encontrei jogador brasileiro, assim como Omã. Em todo lugar do mundo você encontra. A diferença é que nós não formamos pessoas como se forma em outros países. Este é o fator determinante. No Japão, aluno não agride professor na sala de aula.

Como você enxerga essa disputa entre técnicos medalhões e técnicos da nova geração? Acha que ela existe? Os mais novos são mais estudiosos que os mais consagrados?
Eu estou sempre em contato com Abel, Autuori, Tite, Levir... Todo mundo estuda e procura se aprimorar. Aqui, tentou-se criar esta divisão. Eu estudei minha vida inteira. Em 42 anos de carreira, vinte dois e meio eu passei fora do Brasil. Na última Copa do Mundo, inclusive, três treinadores eram meus adversários no Japão. Em cinco anos, ganhei nove títulos lá. 

Você citou nomes de treinadores mais experientes, com os quais mantém contato, mas não mencionou nenhum da nova safra...
Falei destes que nunca deixaram de estudar. Os outros, trabalhei com a maioria deles. Um pouquinho com o Carille no Corinthians, dois anos com o Jair Ventura no Botafogo. Trabalhei com o Alberto no Palmeiras, com o Zé Ricardo no Flamengo e outros. São os caras que estão aí, batalhando há muito tempo.

Em 24 de setembro, você estava na ESPN Brasil quando o telefone toca ao vivo. Era alguém do Atlético? Qual foi a primeira coisa que veio na sua cabeça com essa possibilidade de voltar a BH e treinar o Galo?
Eu fiquei muito excitado. O Eduardo Maluf era um grande amigo meu. Eu estava ainda no Japão e ele falava que iríamos trabalhar juntos novamente (ambos trabalharam no Cruzeiro) e que o dia que ele pudesse, me traria para o Galo. Infelizmente vim depois que ele se foi. É meio nostálgica esta situação.

E como foi o contato feito pela diretoria?
Fomos jantar depois do programa. O Carlinhos Neves me ligou e falou que o presidente gostaria de conversar comigo. Era madrugada de segunda-feira. Disse que queria muito trabalhar no Atlético e que meu advogado ligaria durante o dia para acertar os detalhes. Na terça-feira eu já estava aqui. 

“O Carlinhos Neves me ligou e falou que o presidente gostaria de conversar comigo. Ainda era madrugada de segunda. Eu disse que queria muito trabalhar no Atlético e que meu advogado ligaria durante o dia para acertar os detalhes”

13 partidas, 5 vitórias, 5 empates e 3 derrotas. 19 gols feitos, 13 gols sofridos. Dois meses de trabalho. Como você avalia o desempenho do Galo sob suas mãos?
São duas derrotas. Perdemos nos pênaltis para o Londrina e não conta. É muito pouco tempo para avaliar. Em dois meses não dá. Tudo tem que ter início, meio e fim. Cheguei numa situação dificílima, “trocando pneu com carro andando”. Se não fosse para vir para o Galo, eu não teria aceitado. Tinha muita vontade de trabalhar aqui.

Talvez algo mais chamativo do seu trabalho seja o rendimento de Robinho. Até dois jogos atrás, ele tinha nove participações a gol em nove jogos com o senhor. Qual foi o despertar de Robinho sob o seu comando?
Eu não usei nenhum segredo e não tem nenhuma história particular. Eu apenas coloquei o cara para jogar. O Robinho eu já conheço e é um dos melhores jogadores com os quais trabalhei. É a terceira vez que eu trabalho com ele. Conversamos normalmente, como fiz com todos os outros. Eu motivei todo mundo. O Léo Silva, inclusive, era um zagueiro que eu sempre tive uma imensa vontade de trabalhar. É um zagueiro técnico, artilheiro e líder. Eu o respeito demais. Tem também o Victor, que é um ídolo da torcida, o Marcos Rocha... Eu estava animadíssimo e procurei motivar esses caras. 

Por outro lado, um jogador que já demonstrou talento com a camisa do Galo está em baixa. Cazares, em duas temporadas no Brasil, passou nas mãos de seis treinadores, sempre com altos e baixos. Como decifrar o que se passa na cabeça de um jovem que veio do Equador para fazê-lo um jogador de ponta?
As pessoas são diferentes entre si. O Cazares é um cara que veio “lá não sei de onde”, no Equador. De repente vira ídolo nesta cidade. É um menino humilde, que em pouco tempo tem uma ascensão tão grande. É natural que aconteça. Ele tem que passar por uma tal adaptação que a gente não admite. Parece até videogame. Eu vejo no Cazares um potencial enorme. Com paciência vamos conseguir dar asas para que ele desenvolva seu máximo. Vamos trabalhando, conversando e apoiando. Passa pela afetividade e pelo cognitivo. Não vejo jogador como robô; um relê de fusca que você troca. É um ser humano. Tenho certeza de que o Cazares vai jogar muito aqui.

Por falar em idade, agora voltando ao elenco do Atlético, uma das análises vistas para explicar a temporada aquém das expectativas é de um time envelhecido. Concorda com tal análise? Acredita que é preciso “rejuvenescer” a equipe?
A média de idade do jogador profissional subiu. A durabilidade e o prazo de validade subiram muito. É uma coisa a ser muito bem avaliada e de cunho pessoal. Depende de quem. Tem que ser vista com muito cuidado. Bruno Cantini/Atlético / N/A

Robinho cresceu com Oswaldo de Oliveira; um ficará para 2018, o outro ainda não se sabe

Você vê a necessidade de tornar este elenco mais jovem, até pela pressão que os torcedores fazem pela volta do “Galo Doido”?
A gente pode conjugar muito bem as duas coisas. Virtualmente hoje não é possível. Eu gosto deste estilo e já fiz desta forma intensa. Só que aqui temos um calendário que não absorve. Temos quase 70 partidas na temporada. O Adilson, por exemplo, jogava 30 por ano e não está aguentando. Ele está acima daquilo que estava acostumado lá fora. Aqui, o calendário, combinado com a temperatura e as logísticas, é mais complicado. No Catar, a viagem mais longa é uma hora de ônibus. 

Os clubes têm parcela de culpa nisso?
O futebol brasileiro ficou com uma autonomia muito grande da televisão, que interfere. O clube não decide tanto assim e, muitas vezes, tem que participar e aceitar determinadas injunções.

“Não usei nenhum segredo e não tem nenhuma história particular. Eu apenas coloquei o cara para jogar. O Robinho eu já conheço e é um dos melhores jogadores com quem trabalhei. É a terceira vez que trabalhamos juntos”

Chegar no Atlético, que não ganha o Brasileirão desde 1971, é um fator que te motiva para 2018?
Esse é o meu plano e o meu estímulo. É o meu alvo e a minha intenção. Quero trabalhar muito para isso.

O que você achou do “Caso Drone” envolvendo o Grêmio? Muitos disseram que foi imoral, antiético, agir de má fé, etc...
O que te dá mais informações é ver o adversário jogando. É uma tecnologia que você pode empregar, mas, se o adversário não permite, você não tem que usar. É preciso ter um limite. Não acho imoral. A moral é muito do ponto de vista de quem está fazendo. 

Se o Grêmio colocar um drone na Cidade do Galo, antes do jogo da última rodada do Brasileirão, você não vai achar ruim?
Não. Dificilmente eu fecho um treino. Não gosto apenas que filmem as minhas bolas paradas, pois é a forma de surpreender os caras. Na véspera de jogos sempre faço isso. No Japão, treinei uma jogada com alguns jogadores, após o treino, todos de calça jeans. O estádio estava cheio e não dava para ensaiar antes. Esperei os visitantes irem embora e chamei alguns atletas. Montamos a estratégia e deu certo no jogo. Ganhamos por 3 a 0.

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