Gol da Alemanha, Bernard milionário, nome não ganha jogo e saúde da filha: a palestra de Luan

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
23/06/2017 às 19:28.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:13
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

Seria preciso uma busca detalhada no canal da TV Galo no Youtube para constatar o fato 100%. Mas na quinta-feira (22), o meia-atacante Luan registrou uma das mais longas entrevistas coletivas já registrada pelas lentes do próprio clube. E foi uma aula.

31 minutos e 36 segundos de um discurso que fugiu completamente das quase sempre superficiais respostas de coletivas. O jogador revelou ter entrado em campo diante do Sport vivendo um problema de saúde com a filha Louise, gêmea de Luanzinho. Mas provou que quase nada o abala para tentar ajudar o Atlético. Só mesmo as contusões, o grande pesadelo do camisa 27 nos últimos anos.

A alcunha de “Maluco” vai muito mais da sinceridade nas palavras que do nonsense. Luan conseguiu explicar a turbulência na qual o Atlético está imerso na temporada, principalmente pelo arranque muito fraco no Brasileirão. Frases marcantes, que emocionam e fazem aflorar e renovar as esperanças do torcedor alvinegro que, basta um novo ingrediente para um elenco recheado de jogadores renomados entrem no trilho.

Luan lembrou que não adianta mais olhar para o passado de Ronaldinho, Tardelli, Bernard (que, segundo Luan, ficou milionário por conta de R10) e Jô. Das conquistas da Libertadores e Copa do Brasil. O Galo de 2017 é outro, mais toque de bola que velocidade. Mais cadência do que “porradaria” com Donizete e Pierre, que o contagiava a “bater também”.Bruno Cantini/Atlético / N/A

"Pierre e Donizete batiam o jogo inteiro e era
gostoso, batíamos junto com eles"

O caminho a ser retomado já tem inspiração. No momento em que sentou na cadeira na Sala de Imprensa da Cidade do Galo, Luan vinha como espectador do jogo Alemanha 1x1 Chile pela Copa das Confederações. E como observador, disse que o Atlético precisa retomar o controle das partidas, forçar o adversário a abrir brecha, assim como Emre Can fez para encontrar Hector na ponta direita, e este cruzar rasteiro para Stindl empatar o jogo.

O meia-atacante treina como joga, joga como se a vida dos entes queridos dependesse disso. E é na família que o atleta se sustenta, no amor ao Atlético e no sofrimento a cada derrota. Mas a cabeça em pé com a certeza de que as glórias virão para, assim, manter o plano de se aposentar no Galo.

Confira os grandes momentos da “palestra do Maluquinho”:

SUAR SANGUE
“Cara, eu, cinco anos que estou aqui, e sempre o mesmo pensamento de ajudar a equipe, no mesmo jeito maluco de ser. Não adianta me mandar ficar quieto no treinamento, porque eu não vou. É meu jeito. Posso machucar no treino, que machuco feliz, sabendo que dei tudo”.

NOME NÃO GANHA JOGO
"Temos jogadores para fazer o que fizemos nos últimos anos. Basta a gente querer, pô. Treinar, treinar mais, buscar mais, podemos mais. É como falei, se for jogar achando que vai ganhra só com nome, vamos sofrer. Futebol brasileiro está nivelado. Vai pegar a Chapecoense lá, não dá carrinho, não brigue por causa da bola para tu ver...Apodi voando, Rossi fazendo a dobradinha com ele, Luiz Antônio jogando para caramba, Wellington Paulista fazendo gol todo jogo".

CHUTAR MAIS A GOL
"Temos jogadores diferenciados. O time do passado já não existe mais. Temos que viver e sofrer com quem está aqui. Dar as mãos e brigar por cada bola, porque isso é o Galo. O Galo não é só time cadenciado, é time dinâmico o tempo todo, briga, volta, ataca, não estamos dando chute de fora da área, vamos ser realistas. Antigamente batíamos de tudo quanto é canto, chegávamos pelos dois lados. E precisamos resgatar isso. O Roger é inteligente, ele sabe. E o jogador tem que assimilar os pedidos do técnico. É dividir a culpa e graças a Deus não entramos no Z4". 

ATÉ DE LATERAL
"Estou à disposição, se o Roger precisar de mim até como lateral-direito, estou à disposição. De volante já joguei com Cuca e com Levir. Não importa aonde vou jogar, o que importa é que vou dar tudo de mim para ajudar o meu companheiro. Eu já joguei de lateral-direito, não seria novidade para mim, mas o Yago já jogou e está fazendo bem a função, creio que o Roger vai escolher ele, por ter força física e é um garoto de qualidade". 

GOL DA ALEMANHA COMO EXEMPLO
"A pressão da torcida, quando começa a vair, atrapalha? Atrapalha. É normal. Mas é tampar (os ouvidos) e sair jogando, sem medo. Nosso time era assim. Você mata qualquer adversário quando sai jogando, os caras ficam com medo, não vão marcar pressão, porque sabe que o nosso time vai sair jogando e pegará eles de surpresa. Viram o gol da Alemanha agora? Eu assisti lá em cima. Os caras atraíram o Chile, deram um 'migué' ali, o meia veio e deu (o passe) entre as linhas, veio o cruzamento e saiu o gol. A gente precisa resgatar isso. O Roger sabe disso, os jogadores também. Eu sei o que é Galo porque estou há cinco anos aqui".

COBRANÇA INTERNA
“A pressão vem, é normal. Jogar em time grande é assim. Nosso time tem jogador bom, elenco bom, qualidade. Mas está faltando uma coisa. Precisamos dar um pouco mais. Se for para cobrar de mim, já falo para os meninos novos, pode me xingar! Eu xingo no treino inteiro! Mas eu quero o bem do menino, quero que ele faça o certo. Se eu tiver errado, pode me xingar que volto e faço o certo. Mas é cobrar suave, com respeito, levantar o companheiro. Temos decisões importantes agora e não podemos pecar e errar. Se tivermos 3 vitórias seguidas, estaremos  brigando no G6. Se Deus quiser vai acontecer e vai voltar tudo ao normal”.

MUDANÇA DE ESTILO

“Nós tínhamos o Carlos que era um jogador fundamental no elenco. Tinha as manias dele de toda hora cair, colocar a mão no joelho, tornozelo. Depois levantava e dava pique. Tinha o Tardelli, dinâmico, é ídolo, é diferente. Nós tínhamos, sem comparar e espero que ninguém fique bravo comigo, o Lucas Pratto que brigava por cada bola. Não que o Fred e o Rafael (Moura) não briguem. Porque os caras, porra. O que o Fred apanha no jogo, os árbitros estão de brincadeira. Só marcam contra nós. Não deram pênalti contra o São Paulo. Vamos cobrar deles mesmo, tem que ter alguém aqui para cobrar deles lá. Eles vem aqui e marcam (pênalti) sem dúvida. Agora jogamos com duas linhas de 4 (4-4-2), antes era um 4-3-3, 4-2-3-1. Não sou burro não, entendo de futebol, eu assito futebol".

"O Roger tem a filosofia dele, deu certo no Grêmio e vai dar certo aqui também, basta a gente querer. Era diferente. Tínhamos dois volantes, vamos elogiar, é passado mas vamos elogiar. Pierre e Donizete batiam o jogo inteiro e era gostoso, batíamos junto com eles (risos). O Ronaldinho, eu corria para ele. Falava para ele ficar parado porque eu ia dar porrada em um, dar a bola nele para resolver. Até o Ronaldinho tava dando carrinho. E ainda segurava três jogadores, por isso o Bernard ficou milionário (risos)". 

"R10 segurava três, dava no Jô, Jô enfiava no Bernard e tome! Saudades do Bernard, meu parceiro, espero que volte em breve. Mas é diferente, Roger está tentando implantar a filosofia dele. Jogamos bem, mas estamos sofrendo. Tinha o Dátolo, meu parceiro, que parecia que jogava de calça jeans, mas gostava do estilo de jogo dele. Hoje temos Cazares, Valdívia, Marlone, eu também faço o meio. Temos que nos adaptar com os jogadores que estamos aqui. Tem jogadores de seleção brasileira. Victor, Fred, Robinho, Fabio Santos, Elias. O Rocha foi para a Seleção e é um dos maiores laterais do Brasil. Injustiça não ter ido para a Europa. Mas a gente precisa se adaptar o quanto antes. Tem 9 rodadas e fizemos 10 pontos. É muito pouco para o Atlético. Temos que conversar bastante e de alguma forma, seja na porrada com Donizete e Pierre, ou na técnica com Tardelli e Ronaldinho. Temos que dar a volta por cima”.Bruno Cantini/Atlético / N/A

Bernard e Luan se reencontraram em Atlético x Shakhtar em 2015: um sucedeu o outro

PROMESSAS PARA POSITIVIDADE
“Eu falo todo dia em casa que vou fazer gol. 'Olha, vou fazer gol para você filha'. Quando não faço, aviso que deixei para outro jogo. É assim, pensar positivo. Dar a volta por cima. É nos momentos difíceis que surgem os grandes jogadores. Vamos fazer tudo pela nossa família, tanto em casa quanto aqui no clube. Estamos todos juntos. Galo é Galo e vamos brigar a cada bola”.Reprodução/Instagram / N/A

Luan, a esposa Jéssica e a guerreira Louise

SACRIFÍCIOS E DRAMA
“Eu sofro porque, eu as vezes ligo para a minha esposa em casa, ou ligo para o meu empresário desabafando. Tem 5 anos que estou aqui e sempre respeitei o atleta que está jogando. Sei que tenho qualidade para estar entre os 11, tenho qualidade para jogar em qualquer clube do Brasil. Eu sei disso. Eu sei! Muitos não sabem, mas eu sei. Todo mundo sabe que tem especulações, todo ano chega da China, Europa, Dubai. Mas eu amo o Galo. É uma coisa diferente. Eu sei que um dia o Atlético pode não renovar comigo, mas vivo cada dia como se fosse o último. Olhe meus treinamentos...Temos que viver cada dia como se fosse o último". 

"Ninguém sabe, mas minha filha quase perdeu a vida. Sai daqui (CT) quase 23h. A médica salvou a vida da minha filha Louise, que está internada no (Hospital) Mater Dei. E ontem pedi para ir pro jogo. Fui ajudar o meus companheiros. O Luanzinho com observação em casa, com oxigênio. Ela teve bronquiolite. A médica salvou a vida dela. Eu pedi para ir pro jogo. Até fico emocionado. Mas é isso que todo mundo tem que viver, como se fosse o último, cada jogo. Se for assim, tu vai ver onde o Galo vai chegar. Hoje eu xinguei aqui porque queria treinar mais. Precisamos melhorar, dar a volta por cima, porque eu gosto daqui. A partir do momento que eu não quiser ficar mais aqui, vou no presidente e peço para ir embora e ser feliz em outro lugar Mas sou feliz aqui. Minha família é mineira hoje, meus filhos são mineiros porque escolhi viver aqui. Vou viver meus mais 2 anos e meio de contrato e pode ter certeza que vou dar tudo". 

"Dentro de campo, meu filho, espera contra a Chapecoense para tu ver. Vou dar “porrada”, se faltar na técnica, vou dar dois piques e brigar pela bola. Vou brigar em cima, pode ser o cara mais alto do mundo que vou subir com ele. Se a minha guerreirinha (filha) sobreviveu, aí é que eu vou jogar muito. Temos três grandes títulos para disputar. E o meu maior sonho é conquistar um Brasileiro. Depois que eu conquistar um Brasileiro pelo Atlético, eu paro de jogar, vou estudar para ser treinador ou gestor de pessoas. Acho que meu intuito na terra é esse. Pode esperar de mim é tudo, vou dar tudo. Roger sabe da importância que tenho”. Bruno Cantini/Atlético

CONVIVÊNCIA COM CRÍTICAS
“Os caras cobram, pô. Cobram! E ás vezes sofro até demais. A Jéssica (esposa) fala que eu me preocupo muito com o Galo. Não preciso falar isso para marketing porque se quiserem me mandar embora, tenho 10 portas abertas (em outros clubes) para mim, hoje. Mas eu sofro muito, quando o Atlético perde. Quando ganha, eu quero que ganhe mais. Em casa tem pessoas que me aguentam até demais. Quando perde, falo para minha esposa nem vir falar comigo. Ponho no jogo (VT) para ver onde acertei, onde errei e tenho que melhorar. Quando entro no Instagram, tem um monte lá: 'Pô Luan, tem que falar para os caras correrem mais. E você? Só corre?'. É aí que você vê que o cara não entende de futebol (risos)". 

"Já escutei cada coisa! O que mais me deixa chateado é quando chega um idiota e fica falando, não sabe de nada, e fica falando bobagem: 'Vai jogar dois, três jogos e vai machucar'. Aí respondo para ele: 'O mal que você me deseja, não desejo para você nunca'. Nisso você mata o cara, deixo ele ler e bloqueio. Mas tem uns que me xingam quando eu jogo mal. Mas o velho Levir me ensinou muita coisa quando passou por aqui. Um cara que admiro muito e respeito. Se preocupava comigo e minha família. Ele me pediu para não ver essas coisas (redes sociais). Eu sofro muito, porque amo aqui, amo Minas Gerais. Se eu puder, encerro minha carreira aqui, ganhar mais títulos e marcar ainda mais meu nome na história do clube". 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por