Guerra e paz: o Brasil nas Copas e a mudança na geografia mundial

Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo Horizonte
24/06/2018 às 19:18.
Atualizado em 10/11/2021 às 00:57
 (Christophe Simon e Ozan Kose/AFP)

(Christophe Simon e Ozan Kose/AFP)

Ao longo dos 88 anos de história das Copas do Mundo, a Seleção Brasileira testemunhou em campo, de forma privilegiada, as mudanças provocadas na geopolítica do planeta. Guerras mundiais, a ascensão e a queda do comunismo no Leste Europeu alteraram o mapa mundi e também o da bola. Por isso, afirmar que a partida decisiva de quarta-feira contra a Sérvia, em Moscou, é um encontro inédito na competição merece no mínimo um asterisco e uma explicação extra.

Afinal, a república balcânica que declarou independência em 2006 era uma das que integravam a Iugoslávia, criada depois da I Guerra Mundial agregando ainda Eslovênia, Montenegro, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Croácia e Kosovo. Assim reunida, foi a primeira rival do Brasil numa Copa, impondo também a primeira derrota (2 a 1).

O troco viria em 1950, em casa (2 a 0). Nos Mundiais de 1954 e 1974, tudo igual (respectivamente, 1 x 1 e 0 x 0). Além disso, os sérvios são, para a Fifa, os "herdeiros morais" das estatísticas dos iugoslavos. E ainda poderiam ser postas no mesmo caldeirão as duas vitórias sobre a Croácia, em 2006 (1 x 0) e 2014 (3 x 1).

Aliás, os anfitriões deste mundial também entram no rol dos que encararam a Seleção em diferentes encarnações. Em 1958, na Suécia, nem mesmo o Aranha Negra Lev Yashin foi capaz de impedir que os futuros campeões levassem a melhor por 2 a 0 sobre a União Soviética. Na Espanha'1982, novo triunfo verde e amarelo (2 a 1), com direito a um belo gol do ex-atleticano Éder Aleixo. A campanha do tetra, em 1994, foi marcada pelo encontro com a Rússia, já separada das ex-repúblicas soviéticas, mas de mesmo desfecho (2 a 0) –  foi, na verdade, o primeiro jogo dos russos como país independente em Mundiais.

O mesmo vale para a seleção que se transformou em sinônimo recente da última grande alegria brasileira e, também, de um dos momentos mais trágicos da trajetória pentacampeã. Antes de ser adversária na grande final de 2002 e superada graças aos dois gols de Ronaldo Fenômeno e aplicar os 7 a 1 da semifinal de 2014, no Mineirão, a Alemanha pós-guerra vivia a distinção entre os lados ocidental (capitalista) e oriental (comunista). E foi justamente a segunda a batida por um magro 1 a 0 em 1974.

Curiosamente o mesmo não aconteceu com outro país comunista que acabou desmembrado no fim do século passado. A Tchecoeslováquia é sinônimo de bons momentos desde 1938 quando, depois do empate no primeiro confronto, acabou superada por 2 a 1 no jogo-desempate que permitiu aos brasileiros seguir adiante rumo ao terceiro lugar.

E esteve duas vezes no caminho da amarelinha também em 1962, inclusive na grande decisão, quando os gols de Vavá, Amarildo e Zito garantiam o bicampeonato em solo chileno. No México, em 1970, foi a primeira a sucumbir a Pelé e companheiros (4 a 1). Mas República Tcheca e Eslováquia (ambas fora da Copa da Rússia) ainda não cruzaram o caminho do Brasil.

Outro nome

No caso do Zaire, que atravessou o caminho da Seleção na Copa de 1974 (3 a 0 para os comandados por Zagallo), não houve divisão, mas uma mudança de nome. Depois da deposição do ditador Mobutu Sese Seko, em 1997, o país centro-africano retomou a denominação anterior, adotada até hoje: República Democrática do Congo. 

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