Há sete anos no Cruzeiro, Léo conta saga para realizar sonho de defender clube do coração

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
22/09/2017 às 14:43.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:41
 (Washington Alves/Cruzeiro)

(Washington Alves/Cruzeiro)

A paixão do zagueiro Léo pelo Cruzeiro está marcada na pele. Mas não em forma de tatuagem, como muitos poderiam imaginar. Na Raposa desde 2010, o belo-horizontino de 29 anos sonhava vestir a camisa do time celeste ainda na infância. Reprovado nos testes nas categorias de base, no dia em que pegou carona na caçamba de um caminhão e se esfolou no asfalto ao saltar do veículo, o jogador precisou tomar um caminho diferente antes de ser contratado pelo clube do coração, dez anos depois.

Formado no Grêmio, onde defendeu a equipe principal por quatro anos, o defensor ainda seria negociado com o Palmeiras antes de desembarcar novamente em terras mineiras.

Com 271 partidas e 18 gols marcados pela equipe, Léo vive a expectativa de levantar mais um caneco em Minas. Bicampeão brasileiro, ele estará em campo na próxima quarta-feira para lutar pela Copa do Brasil.
Curiosamente, o Flamengo, adversário na final, foi o primeiro rival de Léo com a camisa azul. A estreia foi com vitória por 1 a 0, no dia 1º de setembro de 2010.

Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o zagueiro fala sobre as dificuldades vividas no início da carreira, comenta o momento do time celeste na temporada e projeta fazer ainda mais história “em casa”.

Como você saiu do bairro Eldorado, em Contagem, e foi parar no Grêmio, em Porto Alegre?
Foi uma história muito legal. Nasci em Belo Horizonte, morava em Contagem e treinava com um rapaz chamado Antonino, que me levava para fazer testes. Consegui uma semana de testes no Cruzeiro. Pegava dois ônibus. Certa vez, peguei um do Eldorado até o Centro, mas acabei perdendo o segundo. Me deu um desespero e peguei carona na caçamba de um caminhão que ia em direção à Toca. Chegou uma hora que ele desviou o percurso, fiquei mais desesperado e decidi saltar. Saí rolando no asfalto quente e até hoje tenho marcas disso. Para piorar, não passei no teste. O Antonino me tranquilizou e garantiu que um dia eles iam me comprar. Depois de um tempo, fiz um mês de testes no Grêmio, aos 12 anos. Fiz a base toda lá e permaneci quatro anos na equipe profissional até me transferir para o Palmeiras.

Você chegou a morar debaixo das arquibancadas do Estádio Olímpico antes de se tornar jogador profissional. Como foi aquele momento?
A concentração era debaixo da arquibancada. Eram 36 jogadores da base e dois banheiros apenas. Comíamos e nos concentrávamos lá, num frio de três graus. Foram dias difíceis, passando dois anos sem ir para casa, pois a passagem era muito cara. De ônibus, demoraria 38 horas de viagem. Passava Natal e Ano Novo lá. As pessoas veem o estádio iluminado em dias de jogos, mas não sabem a escuridão que é nos dias normais. Batia muita solidão. Eu subia para a arquibancada, sentava e ficava imaginando muitas coisas.

Sobre o seu antigo treinador, Antonino, qual a importância dele na sua vida e carreira?
Ele foi fundamental. Foi o cara que me treinou, via minha dedicação e empenho e, por isso, acreditava em mim. Aprendi muitos fundamentos e formas de treinar com ele. O que faço hoje, aprendi naquela época com o acompanhamento dele.

Você hoje estuda administração de empresas. Vários jogadores atualmente buscam conhecimento acadêmico mesmo com o calendário complicado do futebol. Como você faz para conciliar sua agenda de estudos com a profissão?
Atualmente, eu tranquei a faculdade. Fiz até o quinto semestre. Tentamos conciliar o esporte com o estudo e outras funções, pois sabemos que não existe só o futebol em si. Existem outras áreas e conhecimentos para adquirir. Tento conversar outras coisas com as pessoas e acredito que isso agrega muito na minha vida. Conheço muitas pessoas de vários ramos.

Ainda falta algum tempo, mas o que pensa em fazer depois de deixar os gramados? Pensa em seguir nessa área?
Falta muito. Acredito que vá jogar até uns 45 anos (risos). Penso em várias coisas, sim, mas nada em específico ainda. Pode ser no seguimento do futebol ou até fora. Ainda tenho tempo pela frente para pensar e avaliar. Estou formando algumas ideias.
Você já teve propostas para deixar o futebol brasileiro e jogar em países como México e França. O que te fez optar pela permanência no Cruzeiro?
Tive propostas claras. Numa delas, foi uma decisão que tomei por estar bem adaptado aqui, por admirar o clube e por ser um lugar muito bom de trabalhar. Depois, apareceram outras propostas que o presidente não liberou, mas a minha vontade também era de permanecer. O Cruzeiro é a minha casa. Tenho muito prazer em trabalhar e exercer meu futebol aqui. É a minha segunda casa. Tenho um prazer muito grande de estar aqui na Toca da Raposa.Washington Alves/Lightpress/Cruzeiro / N/A

Há uma motivação diferente para o jogador que trabalha no clube do coração, que veste a camisa pela qual tem um apreço diferenciado desde a infância?
Vejo isso com muita seriedade. Sou de Belo Horizonte, cresci vendo o Cruzeiro jogar e admirando o clube. Claro que, quando começamos a jogar, temos muitas coisas profissionais relacionadas, que nos fazem ter uma certa frieza. Mas é uma honra poder vestir esta camisa de tanta história, pois é um clube gigantesco. Busco sempre servi-lo da melhor maneira possível, para que todos os jogadores sintam isso e abracem esta questão.

Qual é a sua participação hoje como “professor” do Murilo?
Quando subi da base, tive alguns companheiros de zaga que me acrescentaram bastante e com os quais aprendi bastante. Eles conversavam comigo e me mostraram o quão importante era ter os pés no chão, ser um cara de caráter... Foi muito legal. Um deles foi o Willian “Capita” (ex-jogador do Corinthians, atualmente comentarista de televisão). Em relação ao Murilo, vejo da mesma maneira. Trocamos ideias dentro e fora de campo. Temos nos entendido bastante. É um menino muito bacana e que ouve bastante. Ele tem assimilado bem os trabalhos e tem muita qualidade.

O Cruzeiro começou o ano com tropeços, mas agora tem a chance de fechar a temporada com o pentacampeonato da Copa do Brasil. Como está a cabeça para decisão de quarta-feira contra o Flamengo? O que esse título mudaria na sua vida e na dos demais jogadores?
A ansiedade é grande. Ela começou logo depois das semifinais contra o Grêmio. Contagiou todo mundo, e isso é normal. É um campeonato nacional importante que a gente busca. Para nossa carreira é fundamental, e para o clube é sensacional. É um título que a gente sempre almeja. Queremos marcar cada vez mais a nossa história no clube. Já fomos bicampeões do Brasileiro, do Mineiro e, agora, queremos cravar mais ainda o nome na história do Cruzeiro. Está todo mundo focado e pensando nisso.

Defina o Cruzeiro na sua vida.
Cruzeiro é minha casa. Tive uma adaptação muito grande, tenho muito prazer em  trabalhar e exercer meu trabalho aqui. É minha segunda casa. Tenho um prazer muito grande de estar aqui.Henrique André

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