Há três anos, Libertadores livrava atleticana de 'síndrome' criada por Roberto Drummond

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
22/07/2016 às 21:40.
Atualizado em 15/11/2021 às 19:58
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

Na madrugada belo-horizontina, há três anos, o barulho da bola tocando na trave direita do goleiro Victor explodiu o Mineirão. Ao mesmo tempo, fez uma torcedora alvinegra silenciar a “síndrome” criada pelo atleticano Roberto Drummond e se libertar da sina traçada pelo escritor.Reprodução/Estado de Minas

Marcela Sternick não tem lembranças daquele dezembro de 1987, mas conheceu o falecido jornalista logo após o Atlético vivenciar mais uma decepção. A gestora ambiental, quando ainda era uma garotinha de 4 anos, virou personagem da coluna “Bola na Marca”, que Drummond mantinha no jornal Estado de Minas. O Atlético acabara de perder para o Flamengo, na Copa União.

Na Savassi, região que o imortalizou com uma estátua de bronze, o autor de “Hilda Furacão” se deparou com o ex-diretor Alberto Sternick, um dos mentores da Vila Olímpica. Alberto passeava com a neta Marcela, que havia decorado o hino do Galo e encantou o escritor.

Triste pela falta de títulos, o escritor imaginou como seria a vida daquela entusiasmada criança atleticana pelas próximas décadas. Previu que ela sofreria vendo bons times do Atlético falharem na hora de erguer taças. “A menina Marcela ficará moça, vai frequentar a universidade, mas a ‘síndrome da morte na praia’ continuará”.

Contudo, após uma campanha quase perfeita na fase de grupos, com uma caminhada cheia de obstáculos, sofrimentos e milagres, culminada no erro do argentino Matías Giménez, na disputa por pênaltis, veio a pá de cal nesta história.

“Quando o Atlético foi campeão, na hora veio o Roberto no pensamento. Corri para escrever no Facebook que ele poderia se sentir feliz onde estivesse, pois a tal síndrome de morrer na praia havia terminado”, lembra Marcela, que mora em Porto Alegre há seis anos.

“Eu estava com a Marcela na Savassi quando o Roberto passou do outro lado da rua. Eu o chamei e falei: ‘Marcelinha, canta o hino para ele’. A Marcela cantou e o Roberto se encantou. Então, ele resolveu criar a coluna baseado nesta cena”. Alberto Sternick

Ainda falta uma taça

A torcedora passou a frequentar os jogos do Atlético aos 5 anos. O maior incentivador da paixão foi o avô Alberto, de 87. O engenheiro aposentado participou da diretoria que montou a equipe campeã brasileira de 1971, na última vez que o Galo havia “derrotado o vento”.

Foram 42 anos de jejum. Drummond não suportou esperar. Faleceu em junho de 2002, durante a Copa do Mundo na Coréia/Japão e não assistiu à maior conquista do clube. Continua, porém, como uma figura presente na família Sternick.

“O Roberto faleceu antes, mas tenho certeza de que o título da Libertadores o deixaria muito feliz. Foi sofrido demais. Tínhamos más experiências do passado, aquele jogo contra o Flamengo no Serra Dourada (Libertadores de 1981). Ficamos sempre com a pulga atrás da orelha. Mas veio o título, foi um alívio”, diz Alberto.

Avô e neta vivenciaram dois vices nacionais (1999 e 2012), e sofreram com o rebaixamento à Série B em 2005. Remaram juntos mais uma vez, há três anos. Não só chegaram à praia como conquistaram todo o continente e, em 2014, ainda celebraram a Copa do Brasil. Agora falta uma etapa, queimada neste processo. “Precisamos ganhar outro Campeonato Brasileiro”, sentencia o ex-diretor.

Marcela fundou 'consulado' em Porto Alegre

O trabalho de Marcela a obrigou a deixar Belo Horizonte e fixar residência em Porto Alegre. Na capital do Rio Grande do Sul, entretanto, a paixão pelo Atlético continuou viva e ganhou nova cara. Na busca por companhia para ver o Galo atuar, Marcela, com a ajuda de uma amiga, acabou criando um “consulado” do clube nos Pampas.

A turma da “TrileGalo” cresceu. Já são 35 representantes fiéis da torcida alvinegra na terra de Grêmio e Internacional – eles se reúnem religiosamente no mesmo bar para acompanhar, mesmo de longe, os caminhos do time agora comandado pelo técnico Marcelo Oliveira.

“Quando cheguei a Porto Alegre, busquei na internet atleticanos que moravam aqui. Juntamos uma boa turma. Na Libertadores, nos reuníamos no mesmo bar em todos os jogos. Nos tornamos uma família atleticana. Fazemos churrasco, saímos juntos até mesmo sem ter jogo do Atlético. São todos mineiros radicados aqui”, diz Marcela. A vontade de criar a torcida vem do sangue. Ela é filha de Hugo Sternick, membro da “Hebraica Alvinegra".

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