"Imagina na Copa": os desafios do próximo gestor para 2014

Vinícius Las Casas - Do Portal HD
16/09/2012 às 14:33.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:19
 (Silvio Coutinho/Divulgação)

(Silvio Coutinho/Divulgação)

Meses atrás, um vídeo cômico fez sucesso no youtube com algumas situações engraçadas. Ao final do esquete, a expressão "imagina na Copa" surgia numa referência ao futuro das cidades brasileiras - no caso do humorístico o Rio de Janeiro - durante a disputa do Mundial.

Motivados por esse pensamento, resolvemos "imaginar" Belo Horizonte durante a Copa do Mundo e listar alguns dos desafios que próximo gestor municipal enfrentará para deixar a capital mineira preparada para o evento. Além do Mineirão - que foi reformado com fundos da iniciativa privada e do governo estadual - que segundo Valmir Campelo, relator da Copa de 2014 e ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), "é o estádio com obras mais adiantadas para o Mundial", a cidade terá que organizar a mobilidade urbana, os hotéis têm que ter vagas disponíveis para os turistas e o terceiro setor precisa estar apto a receber as mais diversas culturas.

O cientista político Rudá Ricci revela alguns pontos sobre os quais são necessários uma atenção redobrada por parte do próximo prefeito: a saúde e a segurança, mesmo que, inicialmente, não sejam estritamente ligados aos tópicos principais da Copa do Mundo. Vale lembrar que, além de recepcionar bem aqueles que estarão no país e na cidade por causa do Mundial, é importante que as benfeitorias sejam de proveito da população.

"As primeiras demandas sociais segundo as pesquisas são saúde e segurança pública. Há uma certa confusão, falta de foco em BH, não dos governos em si, mas da opinião pública, que desconsidera o que a população fala. A principal demanda do país é saúde e nós não temos politicas claras para resolver os problemas", declarou o cientista político. "Na questão da segurança, fiz uma análise do orçamento da prefeitura, disponível no Portal da Transparência. De fato aumentou o gasto com segurança e foi o setor que mais liberou recursos ao longo do ano. Segurança, me parece, é prioridade efetiva. Saúde é um problema. Por causa do atendimento, você o melhora com um sistema de controle acoplado à formação técnica. A crítica não é ao SUS: a crítica é ao atendimento. Todas pesquisas das grandes cidades, incluindo BH, falam que este é o problema. Tem que ter um programa de controle, com punição mesmo ao pessoal da saúde. Além isso, é necessário investir em formação para humanização do atendimento", criticou.

Mobilidade urbana

 

Obras de mobilidade urbana receberam elogios e críticas

No que diz respeito à mobilidade urbana, a expectativa também é negativa. Para Ricci, apenas a construção de um metrô solucionaria os problemas. Contudo, por falta de tempo e recursos, esse antigo sonho belo-horizontino está longe de se tornar realidade.

"Vamos entender o que teremos de demanda para o evento, que será acolhido para os turistas. Entra (de forma primordial) a questão da mobilidade urbana. Nós só temos uma saída em BH que é a construção do metrô, com capilaridade desta estrutura para demanda da mobilidade. Acho que não teremos tempo e só teremos recurso se o pré-sal for superior ao que se especula. Só com esse recurso é possível fazer obrar importantes, integração de instrumentos de mobilidade, mas sem dúvida o metrô é fundamental", avaliou Rudá Ricci, que completou, criticando a solução paliativa que se encaminha. "Como acho que não teremos tempo nem recurso, vamos ter corredores de mobilidade. Uma situação paliativa. Você cria corredores e limpa o trânsito. Basicamente isso ocorre em três ou quatro trechos, com as áreas de turismo, hotéis e locais de evento e escoamento da população (aeroporto, rodoviários etc)", afirmou Ricci.

Opinião compartilhada pelo setor de hotelaria. "A mobilidade urbana é um fator essencial e primordial. Não adianta ter apenas a disponibilidade de leitos, mas precisamos de mobilidade para os turistas chegarem aos hotéis. Precisamos de aeroporto e rodoviária com maior número de viagems. Além de placas indicativas da cidade e infraestrutura urbana maior", disse Rafaela Fagundes, presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis de Minas Gerais (ABIH MG).

O diretor executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel), Lucas Pêgo, entretanto, revela outra opinião sobre a mobilidade e urbana e, até mesmo, infraestrutura. Para ele, para os setores que estão intimamente ligados à Abrasel, as obras já em andamento e projetadas na cidade só contribuem.

"Não posso deixar de reconhecer que os investimentos em infraestrutura e mobilidade urbana estão ajudando", contou Pêgo.

Hotéis

 

Hotelaria pede investimentos municipais para o setor

Mas o evento também terá outras nuances, como é o caso da rede hoteleira. Belo Horizonte terá que se preocupar com o treinamento dos novos funcionários, já que o setor terá novas contratações neste período, com o surgimento de novos empreendimentos.

"As pessoas que têm interesse na hotelaria estão surgindo agora. É a hora para começar a treinar essas pessoas. A divulgação é de que o setor cresce, mas não divulga que tem vagas de emprego. A segunda língua nem é um problema. A hotelaria se preocupa mais com o treinamento básico para o atendimento para essas pessoas", afirmou Rafaela Fagundes, presidente da ABIH MG.

Se no passado este era um problema de BH, com a falta de leitos durante grandes eventos, o receio é que, no futuro, os novos hotéis se tornem elefantes brancos na capital mineira. Afinal, para o sucesso dos empreendimentos é necessário que Belo Horizonte se torne um polo para o turismo de negócios.

"Com relação aos hotéis, a preocupação é o pós. Tenho medo de BH não se projetar como uma cidade de turismo de negócios", disse o cientista política Rudá Ricci.

Um fator que também incomoda a indústria hoteleira de Belo Horizonte.

"O pós Copa nos preocupa muito. A gente vai ter um excesso de leitos e não adianta querer eventos maiores, mas sem espaços. Tem que pensar na infraestrutura para novos espaços e ocupar a hotelaria com eventos. Teremos uma ociosidade nos hotéis. Corremos um grande risco de fechar antigos hotéis por causa dos novos com uma estrutura mais nova", destacou Rafaela Fagundes.

Encerrando o tópico dos hotéis, Rafaela alertou para uma necessidade turística de Belo Horizonte. Seria interessante promover as belezas da capital mineira para proporcionar que o turista fique mais tempo na cidade.

"Tem que trabalhar para que o hóspede da Copa tenha interesse em ficar mais tempo em BH. A gente perde para as cidades com praia. Se não houver uma divulgação da cidade, dos atrativos da grande BH, os turistas vão embora. Isso abrange um âmbito maior que o setor da hotelaria consegue fazer", comentou Rafaela.

Setor de serviços

 

Bares e restaurantes reclamam da alta carga legislativa

A maior crítica de Rudá Ricci se desenha no campo do Terceiro Setor, outro que não se preocupa com políticas a longo prazo: "De maneira alguma. Não tem nenhum projeto. As políticas públicas estão focadas no imediato. O Terceiro Setor só discute questões imediatas, só tem discussões de alguns setores e obras", contou.

A crítica é compartilhada por Lucas Pêgo, diretor executivo da Abrasel Minas, que considera excessivo o número de leis fiscalizadores e repressivas contra esses estabelecimentos.

"BH é conhecida como capital nacional dos bares e restaurantes. Temos diferencial competitivo, sobretudo pela conhecida gastronomia mineira. A iniciativa privada tem se esforçado bastante, entretanto o setor de bares e restaurantes vive um momento que poderia considerar hostil. A carga legislativa que incide sobre o setor é maior do que a de muitas capitais do país", afirmou Pêgo, que continuou:

"Ter um bar e restaurante hoje é muito difícil. O dono virou praticamente um despachante da prefeitura, recebendo e lidando com uma série de notificações. Merece uma discussão mais ampla. Ver quais leis estão sendo eficazes".

O representante da Abrasel revelou a ausência de investimentos na qualificação dos profissionais dos bares e restaurantes.

"A qualificação profissional vinda do poder público caminha a passos lentos. Tinha um grande projeto do governo federal, "Bem receber Copa", infelizmente ele foi bloqueado, por causa da crise do ministério do Turismo. Qualificação profissional é muito carA, então o Estado e município têm investido pouco. Caminha a passos lentos", comentou Lucas Pêgo.

Elefante branco?

Por fim, o cientista político Rudá Ricci encerrou a discussão com um alerta importante e que merece total atenção da população que reside na capital mineira e, principalmente, que o próximo gestor municipal se atente ao fato.

"Meu medo é que o que ocorreu no Rio de Janeiro com os Jogos Pan-americanos (várias obras ficaram sem utilidade após o evento) se repita em 2014".

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