Invasão celeste ao Maraca: do martírio à gloria cruzeirense no Rio de Janeiro

Guilherme Guimarães
Hoje em Dia - Belo Horizonte
08/09/2017 às 15:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 10:28
 (Guilherme Guimarães)

(Guilherme Guimarães)

RIO – Com o passaporte para a decisão da Copa do Brasil de 2017 em mãos, o Cruzeiro mobilizou milhares de torcedores, que se organizaram em Minas Gerais e seguiram em grande caravana para o Rio de Janeiro, cidade-sede do jogo de ida da decisão contra o Flamengo.

Mas quem acha que a vida desse pessoal foi feita (só) de sombra, água fresca, praia, biscoitos Globo e mate no feriado prolongado está completamente equivocado. Teve isso também, avião sobrevoando a Praia de Copacabana com faixa alusiva à torcida estrelada, brindes distribuídos nas praias, e festa para os mascotes, Raposão e Raposinha.

Entretanto, apenas uma pequena e privilegiada parcela viveu o conforto da vida boa na Cidade Maravilhosa. Já a maioria, justamente no 7 de setembro, dia que marcou os 195 anos da Independência do Brasil, viveu a experiência e sentiu na pele que o torcedor visitante no país ainda é um escravo da burocracia e da violência.

Desde o momento em que os primeiros ônibus chegaram ao Rio de Janeiro – cerca de 60 veículos se deslocaram de Minas Gerais ao litoral -, foi preciso muita paciência para lidar, principalmente, com a  burocracia e truculência da Polícia Militar. Na maioria das vezes totalmente desnecessária, como a reportagem flagrou e tomou conhecimento por depoimentos de torcedores que se aventuraram nos quase 500 quilômetros entre a terra do pão de queijo" e a terra do Cristo Redentor.

O martírio da torcida cruzeirense começou por volta de 11h da manhã de quinta (7), já no estado do Rio. Alguns torcedores demoraram 15h para chegar aos arredores do Maracanã após deixarem a capital mineira na madrugada.

Houve uma longa espera nas proximidades da BR 040, no município de Três Rios (que fica aproximadamente a 130 quilômetros da capital), onde o Grupamento Especial Policiamento em Estádios do Rio de Janeiro (GEPE) faria inspeções e revistas em todos os ônibus e torcedores celestes. Depois de quase cinco horas para os ônibus serem todos revistados, mais problemas. Além do trajeto entre Três Rios e o Rio, quando os veículos estavam próximos ao Maracanã, por volta das 20h30, o torcedor precisou esperar ainda mais. E só adentrou ao estádio quando a bola já estava rolando, quando o relógio marcava quase o fim do primeiro tempo.

Ao fim do jogo, na hora de partirem rumo a Belo Horizonte novamente, um grupo do GEPE, que deveria orientar a saída dos ônibus, tornava esse procedimento ainda mais cruel. Um dos policiais usava um cassetete e até acertava os ônibus ao gritar para os motoristas: “Acelera essa porra aí, minhoca. Vamos embora. Não atrapalhe as coisas”. Foi assim com pelo menos 20 ônibus, momentos flagrados pela reportagem e também denunciados por uma fonte ouvida pelo Hoje em Dia.
"A polícia deles é covarde demais. Ontem quando estávamos indo embora, saindo do estacionamento, os caras vieram vender água para os passageiros do ônibus. Fui pagar o ambulante, dei o dinheiro para ele e peguei a água, o vendedor também vendia pipoca. O policial o puxou pela camisa, o empurrou, deu um soco na pipoca do cara. Fiquei com dó demais. A pipoca caiu no chão, o cara foi pegar o pacote, mas o PM chutou o pacote longe e ainda chamou o ambulante de vagabundo. Fiquei revoltado com isso”, comentou.

Além desse episódio, a reportagem também flagrou um cruzeirense ensanguentado. Segundo o irmão do rapaz, um policial o agrediu com um golpe de cassetete na cabeça. A blusa azul do torcedor estava manchada de vermelho pela quantidade de sangue que escorreu da ferida muito evidente no rosto do rapaz.
"O policial ainda quebrou o celular dele, uma covardia. Não somos torcedores organizados, viemos com o pessoal da Cruzeiro Tour (transporte chancelado pelo Cruzeiro, feito por uma empresa de turismo que tem parceria com o clube)”, completou.

Mais espera

Não fosse o gol de empate marcado por Arrascaeta, que deixou tudo igual (1 a 1) aos 38 minutos do segundo tempo, o retorno dos torcedores azuis para casa seria mais doloroso. Mas, se antes da partida os flamenguistas levantaram um belo mosaico com os seguintes dizeres: "Nós somos uma nação”, o Cruzeiro teve uma espécie de Ghiggia particular.

Arrascaeta calou a nação rubro-negra no Maracanã. Guardadas as devidas proporções ao real Maracanazo, em 1950, quando a Celeste Olímpica venceu o Brasil e faturou a Copa do Mundo de 1950.

“Saí de BH para calar 60 mil”, gritava o cruzeirense a pleno pulmões nas arquibancadas.

Ao menos uma espera não foi tão ruim, apesar dos pesares. Depois do jogo, um cordão de isolamento foi feito pela polícia no portão de saída dos visitantes, e os torcedores só foram deixar o estádio quando o fluxo de flamenguistas nas adjacências do Maracanã diminuiu. Praxe Brasil afora e que demorou quase duas horas após a partida.

Nesse momento, uma festa e tanto foi realizada. Com os portões ainda fechados, os torcedores cantaram alto. A partir do momento em que os portões foram abertos, uma explosão azul tomou conta do caminho até a saída do estádio.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por