Jogadores se unem em campanha contra abuso sexual no futebol

Estadão Conteúdo
21/02/2018 às 07:43.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:29
 (Divulgação/Cruzeiro)

(Divulgação/Cruzeiro)

Nos últimos meses, o esporte mundial foi tomado por diversas denúncias de assédio, exploração e abuso sexual, ainda mais depois de casos de repercussão internacional, como das ginastas nos Estados Unidos e de jogadores na Inglaterra. No Brasil, atletas de grandes clubes de futebol entraram numa campanha do Sindicato de Atletas de São Paulo para tratar de um tema que é considerado tabu no meio.

Diego Lugano, Rodrigo Caio, Giovanni (ex-Santos), Julio Cesar (goleiro do Red Bull Brasil), Leandrão (Boavista), Danilo Fernandes, Felipe (zagueiro do Porto), Souza (ex-Flamengo), Cicinho, Edu Dracena e Moisés, entre outros, gravaram vídeos e mensagens para chamar a atenção para o assunto. "A ideia foi chamar jogadores de destaque, que são ouvidos pelo grande público e são formadores de opinião", explicou Alexandre Montrimas, ex-goleiro e que já passou por situações delicadas em sua carreira.

"Eu sofri essa tentativa de abuso durante muitos anos, mas sempre entendi o que era isso, pois tinha meus pais perto de mim. Em 10 dos meus 20 anos de carreira, entre categoria de base e clubes pequenos, eu fui assediado. Justamente em um período em que eu me encontrava vulnerável", disse.

Agora, Montrimas dá palestras para crianças e adolescentes dos clubes em todo do Brasil para alertar sobre esse perigo. "O assédio vem em forma de convite, de abuso psicológico. Explico aos jovens o que é assédio e o que fazer para evitar e como denunciar. Após as palestras, às vezes eu tenho relatos de abusos sexuais, não no clube, mas de um amigo de alguém. Eles se identificam com isso, pois acaba criando uma ligação de confiança."

As palestras são de prevenção. Quando o público é formado por crianças dos times sub-10 e sub-13, Montrimas pede também a presença dos pais, que muitas vezes precisam ser alertados sobre os perigos que rondam seus filhos. "Aos poucos, os assistentes sociais foram entendendo o projeto. Hoje tenho o apoio de todos eles", comentou o ex-jogador, ciente de que a quantidade de assistentes sociais nos clubes brasileiros - 45 no total em todo País - é muito pequena.

O início do trabalho foi no ano passado. Segundo o presidente do sindicato, Rinaldo Martorelli, em torno de 1.500 jovens já foram atendidos pelas palestras. "O que a gente percebe é que a 'autoridade' do assediador acaba intimidando o assediado, ou às vezes a fragilidade, inclusive financeira, do assediado leva a esse tipo de situação. A ‘autoridade’ do treinador, do preparador, do agente. Muitas vezes o menino nem entende que é assédio", afirmou.

Tanto Martorelli quanto Montrimas lembram que esse tipo de campanha pode ajudar a prevenir situações como a que ocorreu na ginástica dos Estados Unidos, quando o médico Larry Nassar abusou de 156 mulheres e foi condenado a 175 anos de prisão. Na segunda-feira, o ex-treinador inglês Barry Bennell foi condenado a 30 anos de prisão por abusar de 12 crianças de 8 a 15 anos em um time que está atualmente na quarta divisão inglesa.

"Se tivesse tido campanha explicando o que é abuso, até para os pais, talvez esses episódios tristes não tivessem acontecido. Futebol é um esporte de massa e os alvos ficam fáceis para esses predadores. Queremos chamar atenção para o assunto", concluiu Montrimas.

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