Luan prepara retorno e projeta título nacional: ‘Sempre que eu volto, o Atlético é campeão’

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
02/07/2016 às 14:37.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:08
 (Bruno Cantini/Atletico)

(Bruno Cantini/Atletico)

Henrique André/Hoje em DiaLuan recebeu a reportagem do Hoje em Dia em casa e falou sobre carreira, dramas e do Atlético

 Quando criança, ainda na Fazenda Coité, zona rural de Alagoas, Luan contrariava a mãe, que queria vê-lo pastor, e dava os primeiros passos no futebol antes de se tornar o “Maluquinho” do Atlético. Lesionado desde abril, após a derrota por 3 a 2 para o Independiente Del Valle, no Equador, pela Libertadores, o atacante não vê a hora de voltar a campo para ser ovacionado pela torcida alvinegra.

Como aliadas durante a recuperação, o religioso jogador tem, além da fé, a esposa Jéssica e a filha Lara sempre por perto. O amor por elas é tanto que Luan escolheu o número 27 no uniforme para homenageá-las: o número dois remete ao mês do casamento, e o sete, ao mês de aniversário das mulheres da família.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Luan fala sobre os momentos difíceis durante o tratamento, comenta os boatos de que não poderia mais voltar a jogar e relembra os principais momentos da vitoriosa carreira.

Seu último jogo foi no início de abril, contra o Del Valle. Como tem sido a recuperação? Como é a rotina dentro e fora do CT?
De vez em quando, desconto na família. Tem hora que a gente chega estressado. Mas é pela ansiedade de querer voltar. Nossa vida é muito difícil, muita gente acreditando que eu não poderia voltar mais. Essas pessoas não sabem a força que me deram. O mais difícil é o dia a dia. Você tem que passar por cima de adversidade, de dor, de sofrimento.

Essa primeira metade de 2016 desafiou a sua fé, com a contusão no joelho e até mesmo problemas pessoais. Como manter a cabeça no lugar?
Não vim aqui para ganhar dinheiro. Vim para cumprir o que Deus tinha me prometido, bem antes de acertar com o Atlético. Uma coisa engraçada é que, toda vez que eu me machuco, sempre que volto sou campeão. O presidente Daniel (Nepomuceno) sempre falou para os médicos que, independente da minha lesão, ele queria que eu jogasse no Galo e estava junto comigo.

Atlético Sorocaba, Ponte Preta e Galo.Tijuana e Raja.Veja o que o Luan tem pra falar desses timeshttps://t.co/YctjgteJAX— Jornal Hoje em Dia (@jornalhojeemdia) 2 de julho de 2016

  

Mesmo lesionado, você sempre faz questão de ir ao estádio quando o Galo joga em Belo Horizonte. É uma recomendação do clube ou faz isso por conta própria?
O clube não faz nenhuma recomendação. Nos jogos importantes eu prefiro estar junto. Às vezes, fico em casa para curtir com a minha filha e com a minha esposa.

O Galo é tudo para mim, não tenho porque fazer marketing ou querer me promover em cima do clube. Meu sonho é conquistar mais uns quatro títulos e encerrar a carreira aqui, sem nenhum arrependimento”

Como se sente como torcedor? Você também ‘corneta’ lá em cima?
De fora, você vê coisas que não vê dentro do campo, e as pessoas comentam. Eu não corneto, e observo que, ali de fora, é muito fácil falar. Eu tento ficar na pele de quem está lá dentro do campo.

Ainda pela Ponte Preta, você encarou o Atlético em Belo Horizonte e contou ter se encantado com a torcida atleticana. Como foi aquele dia? Sabia que jogaria no Galo? Você aprendeu a cantar o hino do clube ali?
Ali eu aprendi a cantar o hino. Muitas pessoas acham que a gente quer aparecer e está no clube por marketing. Esse tipo de comentário não faz sentido. Esse hino nos motiva. Quando o torcedor está junto, a gente se fortalece. A torcida é apaixonada. Esse dia foi legal. Eu tinha o sonho de conhecer o Ronaldo (Gaúcho) e, desde o Atlético de Sorocaba, falava sobre isso com um amigo. Comentei, e ele me chamou de doido. Depois, vim jogar contra o Galo e ali estava ele (Ronaldinho).

Você esteve próximo de se transferir para o futebol chinês. Perdeu noites de sono pensando nas cifras dos orientais? Gostaria de ir para o outro lado do mundo? 

Conversei muito com a minha família e com o meu empresário. Um dos fatores para eu ficar foi o amor ao clube e o respeito pelo Daniel (Nepomuceno). Minha filha estava pequena, e eu não queria sacrificá-la por dinheiro. Tinha as propostas e os valores na minha mão, mas não me deixariam melhor que eu estou hoje. Não compensava. Meu empresário foi fundamental para eu ficar também.

Às vezes, dá vontade de ligar para o Ronaldinho. Ele me dava muitos conselhos. Coisas que fiquei admirado e que guardo com muita emoção. Não posso falar o quê. Quando ele foi embora, me disse algo que eu nunca vou esquecer. Quando parar de jogar futebol eu conto”

 Qual é a diferença do Luan que saiu de São Miguel dos Campos, em Alagoas, para o que foi parar em Belo Horizonte?
Começou tudo lá na Fazenda Coité. Meus primos jogavam muito. Eu ficava no campo e levava as chuteiras pra eles. A gente jogava com trave de tijolo. Minha mãe me batia, porque não queria que eu fosse jogador de futebol. Queria que eu fosse pastor. Tinha um padrasto violento, e ela sofria muito com isso. O falecimento da minha avó, em 2004, me fortaleceu muito. Fui embora e prometi dar uma casa e uma vida legal para minha mãe. Tudo isso eu cumpri com ela. Todas as promessas que fiz ainda quando criança.

Luan fala sobre sua juventude e como era sua vida no futebol antes da profissionalização.https://t.co/wSfvXoMUTc— Jornal Hoje em Dia (@jornalhojeemdia) 2 de julho de 2016

  

Você foi uma das principais peças do Atlético na conquista da Copa do Brasil, em 2014. Seu nome, inclusive, foi pedido por alguns jornalistas na Seleção Brasileira. Por que o Maluquinho ainda não vestiu a camisa amarelinha? É um sonho que você ainda alimenta?
Naquele momento, eu não estava preparado. Ser convocado é uma coisa, se firmar é outra. Eu sonho em ir para fazer história na Seleção. Aquela vai ser a Copa do Brasil mais histórica de todas. O Levir (Culpi, ex-técnico) me sacou do primeiro jogo contra o Flamengo, e eu fiquei muito bravo. Me concentrei tanto para o jogo da volta que estava com uma lesão muito grande na parte de trás do joelho e nem percebi. O Levir queria me tirar, e eu não deixei. Quando a gente coloca na cabeça que o Atlético merece, que a torcida merece, e que a gente também, não tem nada que possa impedir.

Aquele time de 2013, campeão da Copa Libertadores, ainda faz parte das suas memórias mais fortes? Você se sentiu frustrado por não ter entrado no último jogo?
Faltou eu entrar e fazer o gol do título. Era um elenco muito bem escolhido pelo Atlético. Eu era o escolhido para ser o 12º jogador, com grandes jogadores no banco. Foi um momento especial para mim. A ficha vai cair daqui uns 50 anos. Tem vezes que vou em restaurante e não me deixam pagar a conta, por causa daquele título. Foi o mais marcante. Ficava me roendo porque o Cuca (ex-técnico) não ia me colocar. E quando o anjo puxou a perna do cara (Ferreyra)? Ele estava pronto para fazer o gol e escorregou. O Cuca não me colocou, mas guardei a perna para comemorar.

O médico me perguntou se eu queria jogar futebol de imediato ou ter o joelho bom daqui a 60 anos. Eu respondi que queria jogar logo. Ele riu e concordou. No futuro, penso em estudar e ser técnico. Vou ser bem louco, como Sampaoli e Simeone”

O Atlético faz uma campanha de recuperação no atual Brasileirão. Você acredita que ainda possa brigar pelo título?
Você tem que sonhar alto. Com paciência, com a torcida apoiando, com os jogadores sabendo que têm capacidade. Temos um elenco recheado de jogadores de excelente qualidade, e um treinador bicampeão (Marcelo Oliveira). Temos tudo para ser campeão.

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