Títulos importantes, idolatria pelo clube e professor do Fênomeno: Nonato conta sua vida no Cruzeiro

Guilherme Guimarães
gguimaraes@hojeemdia.com.br
08/12/2017 às 16:31.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:08
 (Geral Celeste/Divulgação)

(Geral Celeste/Divulgação)

Oito anos vestindo a camisa do Cruzeiro, quase 400 jogos pelo clube e 14 títulos conquistados, entre eles a Copa Libertadores (1997), a Supercopa (1991 e 1992) e a Copa do Brasil (1993 e 1996). O ex-lateral Nonato provou que, mesmo sendo destro, um jogador pode atuar com primor do lado esquerdo do campo.

Um dos mais importantes atletas a usar o manto celeste, o camisa 6 mais importante da história estrelada ensinou o Fênomeno a dirigir, quase fez gol “do meio da rua” em um jogo contra o Boca Juniors e mostrou em entrevista ao Hoje em Dia que, além das chuteiras de Dirceu Lopes, calçou as sandálias da humildade.

Você chegou ao Cruzeiro depois de uma passagem pelo Pouso Alegre e superou muita dificuldade para vingar no futebol. Como você ganhou a posição e se tornou o Nonato que muitos viram jogar?
Cheguei ao Cruzeiro em 1990 depois de disputar o Campeonato Mineiro pelo Pouso Alegre. No elenco estavam o Eduardo, que jogou no Vasco, e o Paulo César, que jogou no Flamengo. Coincidiu de o Paulo estar sem contrato e o Eduardo querer voltar ao Rio de Janeiro. Nesse meio termo eu fui titular na estreia do Campeonato Brasileiro. Consegui jogar bem e assim começou a minha linda história no Cruzeiro. 

Você é destro e fez nome no futebol como lateral-esquerdo. O que te levou a jogar no lado contrário de sua “perna boa”?
O que me fez virar lateral-esquerdo foram minhas atuações ainda no amador, em Mossoró, no Rio Grande do Norte. Eu jogava com a 10, mas no time Calouros do Ar sempre que faltava alguém eu jogava de zagueiro, lateral, volante, ponta. Acabou que um dos diretores do Baraúnas me viu jogando na esquerda, gostou e me fez o convite. Tive a carreira quase toda como lateral-esquerdo. No Fluminense é que fui segundo volante.

Ronaldinho, depois chamado de Ronaldo Fenômeno, apareceu para o mundo no Cruzeiro. Como foi a sua relação com ele? 
Relação boa, de um cara mais experiente para quem começava. Eu emprestava o carro para ele dirigir, mas isso era dentro da Toca da Raposa e não na rua. Tudo com responsabilidade. Sempre depois do jantar ele dirigia no centro de treinamento. Podemos dizer que eu que ajudei o Ronaldinho a começar a dirigir.

Em um jogo de Libertadores você enfrentou o Boca Juniors e quase fez um gol antológico, do meio de campo. O que te deu na cabeça pra chutar de tão de longe?
Eu cheguei ao Cruzeiro em 1990 e disputei várias competições sul-americanas pelo clube. A primeira foi a Supercopa de 1990, depois joguei a competição de 1991, 1992 e 1993. Peguei uma boa rodagem e quando chegou na Libertadores de 1994, novamente encontrei o Montoya, goleiro do Boca Juniors. Tinha jogado várias vezes contra ele e via que ele ficava adiantado. Pensei assim, um dia ainda vou fazer um gol de cobertura nesse cara. E coincidentemente naquela Libertadores apareceu a oportunidade, mas infelizmente a bola bateu no travessão e a bola não entrou. E o Ronaldinho teve a chance de fazer o gol, mas não conseguiu

Você fez quase 400 jogos pelo Cruzeiro, conquistou títulos importantes e tem uma enorme identificação com o clube. O que isso representa para você?
A identificação que tenho com o Cruzeiro é enorme. Joguei durante oito anos no clube, tive a oportunidade de ser capitão e conquistar 14 títulos no total. Depois, quando parei de jogar em 2002, trabalhei mais cinco anos no clube. Minha identificação é muito grande. Falei recentemente em uma palestra no Mineirão, que nunca entrei na Justiça contra o Cruzeiro. E olha que trabalhei durante muito tempo sem receber o Fundo de Garantia. Poderia ter feito o que vários fizeram, mas nunca fiz. Justamente por minha identificação com o clube.Arquivo/Hoje em Dia

O time campeão da Supercopa em 1991.: De pé: Ademir, Nonato, Paulão, Adilson, Célio Gaúcho e Paulo César Borges. Agachados: Mário Tlico, Boiadeiro, Charles, Luiz Fernando e Marquinhos

A Libertadores de 1997 foi um torneio de superação para o Cruzeiro. Qual o fator determinante para aquela conquista?
Aquele título foi o mais importante da minha carreira, torneio de total superação. Na primeira fase, perdemos os três primeiros jogos e tínhamos que ganhar os outros três, e conseguimos, vencendo inclusive o Grêmio, no Olímpico, onde o tabu que derrubamos era enorme. O determinante para o título foi após a derrota para o Sporting Cristal, no Peru. Resolvemos fazer uma reunião e a gente conversou, chegando a conclusão de que não poderíamos ficar de fora para dois times peruanos. Aí, ganhamos o restante dos jogos até o título marcante para todos nós.

Os bicampeões da Libertadores conversam? 
A gente se comunica até hoje, temos um grupo no Whatsapp. Passaram-se 20 anos daquela conquista e o que temos visto é uma valorização imensa. Já fomos homenageados pela torcida Geral Celeste, e agora seremos homenageados pela Associação de Grandes Cruzeirenses (AGC). Sem dúvida é uma satisfação muito grande participarmos desses capítulos da história.

Depois daquela monumental vitória sobre o Palmeiras em 1996 um corintiano ajudou a escolher o lugar da festa do título da Copa do Brasil? 
O grupo pediu para que o Zezé Perrella, então presidente do clube, pagasse uma resenha. Eu, como capitão, conversei com ele, que me mandou levar os jogadores para qualquer lugar, pagar no meu cartão de crédito, e depois ele me pagaria. Nos dividimos em três táxis, e no carro que eu fui o motorista era corintiano. Eu falei que queria ir a uma boate para comemorar, ele viu que éramos jogadores do Cruzeiro e que tínhamos vencido o rival dele. Aí nos levou à boate onde o Palmeiras faria a festa se fosse campeão.

Naquela final do Mundial Interclubes que o Cruzeiro perdeu para o Borussia Dortmund você foi reserva. Tem rancor do Nelsinho Baptista, técnico da época?
Ficou um clima muito ruim, porque há um mês da viagem para o Japão ninguém sabia quem iria. Até o Dida, titular absoluto, não sabia. Sem dúvida foi ruim para mim em particular. Você jogar oito anos no clube, ter a chance de jogar o Mundial, mas ser reserva. A vida seguiu, dei continuidade e não mantive rancor.

Você foi um capitão ativo dentro e fora de campo. Ajudou vários companheiros que passaram dificuldades, inclusive financeira. Orgulho para você?Ajudei várias pessoas. Criei um grupo de consórcio de carros, o Benecy Queiroz participou, o doutor Sérgio (Freire), doutor Carlos Piñon, o Ronaldo Nazaré (todos médicos). Depois construímos prédios, eu Cleisson, Ricardinho, Dida, Luiz Fernando. Aí alguns deles tiveram mais noção do que era guardar dinheiro para ter rendimento futuro e não passasse dificuldade. E no Fluminense, que viveu situação complicada nos anos 1990, fiquei oito meses com salários atrasados. Ajudei alguns atletas que poderiam ter perdido casa, despejados por falta de pagamento. Eu entregava um cheque e falava. Vai lá e paga.Arquivo/Hoje em Dia

Nonato participou da festa de despedida do também lateral-esquerdo Sorín, quando ele deixou o futebol

Você usou chuteira que foi do Dirceu Lopes? 
O Geraldinho roupeiro falou isso, que não era para perder a chuteira pois ela tinha sido usada pelo Dirceu Lopes. Mas a gente ganhou um título e eu fiquei só de sunga no gramado. Nunca mais vi a chuteira.

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