Primeiro brasileiro da NFL fala sobre desafios

Felippe Drummond Neto - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
06/09/2015 às 10:19.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:39
 (Mark Robinson/Divulgação)

(Mark Robinson/Divulgação)

Cairo Santos, de 23 anos, já tem o nome escrito na história do esporte nacional por ter se tornado o primeiro jogador brasileiro na NFL, a liga nacional de futebol americano. Nascido em Limeira, no interior paulista, Cairo se mudou para os Estados Unidos aos 15 anos em busca de um sonho comum para muitas crianças do Brasil: tornar-se um jogador de futebol - soccer, nos EUA. Com a potência do chute, porém, ele foi convidado para jogar futebol americano. Destacou-se ainda no colegial e ganhou bolsa para jogar pela Universidade de Tulane, na qual foi eleito em 2012 o melhor kicker universitário do país ao fazer uma temporada perfeita com 100% de aproveitamento - 21 field goals convertidos. Após uma ótima primeira temporada no Kansas City Chiefs, Cairo está pronto para o início da temporada 2015/16 da NFL, que começa na próxima quinta-feira. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o jogador conta como chegou à maior liga de futebol americano do mundo e fala das dificuldades que enfrenta para se destacar no esporte preferido dos americanos.

Como é ser o primeiro brasileiro da história na NFL?
É muito legal, imagino que essa seja a mesma sensação que um jogador de futebol sinta ao jogar pela Seleção Brasileira pela primeira vez. Estou representando meu país no esporte que eu amo, e isso é inacreditável.

Quando você foi para os Estados Unidos?
Fui para lá em 2007, quando tinha apenas 15 anos. Nasci em Limeira, mas morei em Brasília desde pequeno.

Você vai para a segunda temporada na NFL. Como está se sentindo?
Estou ótimo, com ânimo ainda maior que o da temporada passada. Estou confiante, me dedicando bastante nos treinos para ser melhor do que fui no ano passado.

O que é mais complicado: entrar ou permanecer na NFL?
Os dois são difíceis. Entrar não é nada fácil, afinal milhões de jogadores querem estar aqui. Já permanecer envolve muitas outras coisas, relacionamento com o grupo, treinos, números e tudo mais. Então, os dois são bem difíceis, mas não sei se um é mais difícil que o outro.

Infelizmente a posição de kicker é uma das mais mal pagas no futebol americano, só que é uma função muito exigida e, muitas das vezes, decisiva numa temporada. Isso chateia você? E por que acha que essa desvalorização ocorre?
Acho que é uma desvalorização natural, assim como acontece no soccer (futebol). Um atacante é mais valorizado que o zagueiro e o lateral, por exemplo. No futebol americano não é diferente, todos na liga sabem da importância do kicker. Por isso me sinto bem reconhecido pelo Kansas e estou feliz com isso.

Você teve um aproveitamento de 83,3% na temporada passada. Houve alguma disputa de vaga com outro jogador na temporada?
Felizmente não precisei disputar com ninguém nesta temporada. Este ano o Kansas nem contratou ou draftou outro kicker. O que é bom, pois mostra que eles gostaram do meu trabalho, e, por isso, segui cumprindo meu contrato normalmente, que ainda tem mais duas temporadas.

Você marcou 113 pontos, ou seja, 32% dos pontos do Chiefs em toda a temporada. Quando você olha para esses números, o que você sente?
Muito orgulho! Gostei muito dos meus números na temporada anterior, e por isso me dediquei ainda mais nos treino para essa que se aproxima.

Como você viu a mudança de regra para o extra point (Passou da linha de duas jardas para a linha de 15)?
Agora vocês serão ainda mais exigidos. Está pronto? Sim, eles tiveram essa ideia para deixar mais emocionante. Eu gostei da ideia, treinei muito com essa nova distância. Estou indo bem na pré-temporada, e espero acertar todos na temporada regular.

Qual o objetivo do Chiefs para essa nova temporada?
Ficamos muito próximos dos playoffs na temporada passada, e nesta temporada o objetivo é disputarmos a fase final. O time está bem, fez boas contratações e estamos muito motivados para conquistar essa vaga. Acho que este é o objetivo de todos.

Você participa de uma das divisões mais fortes da NFL (AFC Oeste), ao lado de Broncos, Chargers e Raiders. Como é brigar por uma vaga nos playoffs contra excelentes times, correndo o risco de ficar fora mesmo com uma boa campanha?
Nossa divisão é muito complicada. São times duros, principalmente os Broncos. Ainda tem o clássico com o Chargers, que é sempre divertido de jogar. São times difíceis, mas temos totais condições de nos classificarmos.

O Chiefs, hoje, é uma equipe muito mais forte na defesa que no ataque. Como você lida com isso, já que em muitos esportes o ataque é considerado o principal foco?
Mesmo com os números mostrando isso, discordo. Acho que temos um bom ataque também, principalmente depois da chegada do Jeremy Maclin (wide receiver). Acredito que estamos melhores no ataque para esta temporada; além disso, eles podem sempre contar com meus chutes (risos).

Como você lida com os field goals que decidem uma partida?
O que passa pela sua cabeça antes desses chutes? Naquele momento, quanto menos você pensar em qualquer coisa que não seja importante para passar a bola pelo Y, melhor. Tento esvaziar a cabeça, pensar só na melhor forma de conseguir sucesso no chute. Foi o que fiz naquele chute contra o Charges, por exemplo, e deu certo. Concentração é fundamental para o sucesso.

E quando você entra para fazer um chute de mais de 50 jardas?
Qual o seu mantra nessas horas, para ficar calmo? Acho que a mesma concentração do chute decisivo. Afinal é tão importante quanto.

Pra você, qual é o melhor time da NFL hoje?
Sei que o Kansas é um dos melhores, mas acho que nesta temporada o time a ser batido é o atual campeão, New England Patriots.

Também na sua opinião, qual é o melhor kicker em atividade na NFL?
São tantos, eu seria leviano em apontar apenas um. Mas treino bastante para eu ser um dos melhores da liga. É um dos meus objetivos, quero e serei o melhor kicker da liga um dia.

Quem é o seu grande ídolo no futebol americano?
Já se encontrou com ele? Eu sempre tive vontade de encontrar e jogar contra o Peyton Manning e o Tom Brady. E tive esse prazer. De quebra, ainda venci os dois. Foi a realização de um sonho.

Você já enfrentou verdadeiras lendas como Tom Brady, Peyton Manning. Como foi este momento? Conversou com eles?
Quando jogamos contra os Patriots e os Broncos, eu me encontrei com eles, mas foi muito rápido. Mesmo assim, foram momentos inesquecíveis.

Você joga ao lado de dois dos melhores jogadores da NFL, Justin Houston e Jamaal Charles. Como é atuar ao lado deles? E como é sua relação com eles?
É muito bom jogar e treinar ao lado deles. Minha relação com eles é muito boa, assim como com o restante do time.

Como você viu a participação histórica do Brasil no Mundial de Futebol Americano?
Foi boa, não entendi muito o regulamento. Pelo que ouvi, era muito confuso. O Brasil é um país que tem pessoas com dom natural para o esporte. Somos uma fábrica de talentos, e com o futebol americano não é diferente. Quero ajudar mais para o próximo Mundial, participar mais de perto da Seleção, como um embaixador, talvez. Tenho essa vontade, já que não posso jogar (por ser uma competição amadora).

Você acredita que sua ida para a NFL pode atrair mais brasileiros?
Acho que sim, porque um caso de sucesso sempre atrai outras pessoas. Mas para isso é preciso acreditar e se dedicar muito, afinal é uma decisão muito complicada largar a família e ir para estudar fora do país. No meu caso, ganhei bolsa pra estudar de graça e jogar pela Universidade de Toulane, onde me formei, e sou grato para o resto da minha vida.

Você se formou em quê?
Tem vontade de atuar na área? Me formei em administração de empresas e ainda espero trabalhar na área. Sei que a carreira como jogador pode ser curta, e, se precisar, trabalharia numa boa com isso.

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