'Me sinto como um menino no América', afirma técnico Adilson Batista no Papo em Dia

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
03/08/2018 às 20:30.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:45
 (Henrique André)

(Henrique André)

O maior sonho de Adilson Batista está bem longe de ser a Seleção Brasileira ou um título de grande expressão. Acionado para comandar o América até o término da temporada, o paranaense de 50 anos afirma que a maior desejo é vencer o Palmeiras, às 16h deste domingo, pela 17ª rodada do Campeonato Brasileiro. Pensar passo a passo é a filosofia.

Neste Papo em Dia, o treinador reconhece que o desafio é seguir com o Coelho na Série A de 2019 e garante sentir o entusiasmo de um jovem iniciante. Ele revela ainda ter recebido cinco propostas no período em que esteve fora do mercado, relembra as passagens como jogador e/ou técnico por Atlético e Cruzeiro, e muito mais.

Um telefonema recebido à noite e, no dia seguinte, você já estava sendo apresentado no América. Como foi esse processo?

Foi um telefonema que o Ricardo (Drubscky) me deu na segunda-feira à noite. Conversei com ele e com o presidente (Marcus Salum), e aí eles mandaram a passagem já para as 6h da manhã. Às 8h30, 9h do dia seguinte, já estava no escritório do presidente. Sentamos, conversamos, e às 10h já tínhamos acertado o compromisso. Uma conversa produtiva. Ele já tinha me feito o convite umas duas vezes, e eu já o conhecia desde a época em que trabalhava no Cruzeiro.

Você disse que se sente um ‘cinquentão’ com espírito de jovem. Receber o convite de um clube da Série A do Brasileirão, mesmo depois de três anos fora do mercado, te dá um gás a mais para crescer na profissão?

Não é que eu não tenha recebido outros convites durante esse período. Eu tive propostas. Falei com dirigentes de cinco clubes, três da Série B e outros dois da A, mas não foi possível concretizar. Foi um outro profissional, ou questão de aceitação, ou só não era para ir. Fiquei lisonjeado, agradeço a oportunidade e quero encarar o desafio sabendo das dificuldades, mas confiando na vontade de trabalhar e acertar. O entusiasmo é de um jovem. Me sinto um menino. Me sinto um juvenil. Com muito amor ao trabalho, encarando o desafio com um grau de concentração muito grande e valorizando cada momento que entro para trabalhar. 

Não é que eu não tenha recebido outros convites durante esse período. Eu tive propostas. Falei com dirigentes de cinco clubes, três da Série B e outros dois da A. Mas não foi possível concretizar”

Qual o tamanho deste desafio no América?

É muito cedo, mas a gente tem bem claro que o nosso primeiro objetivo é a permanência (na Primeira Divisão). Saímos da zona de rebaixamento, e agora é ir ganhando corpo aos poucos, fazendo uma pontuação, ganhando respeito e ir entendendo o trabalho e a maneira de pensar. Estou contente pela aceitação dos jogadores e pela dedicação deles. É um conjunto.

O bordão ‘vamo aguardar’ e o rótulo de Professor Pardal acabaram pegando desde os tempos do Cruzeiro. Como você os encara?

O ‘aguardar’ é mais do sotaque interiorano. Nasci em Curitiba, mas fui criado a 123 quilômetros de lá, em Adrianópolis. Meu pai trabalhava na mineração, e eu também. Com 14 anos fui para Curitiba, estudar edificações no Cefet. Depois, já quase com 18 anos, fui jogar bola no Atlético Paranaense. Hoje em dia isso seria difícil, quase impossível, mas eu consegui. E o Pardal foi uma brincadeira. Estávamos ganhando um jogo por 4 a 1, e eu disse que tinha inventado, pois estava com um volante jogando de zagueiro. Quando coloquei um zagueiro de origem (em outro jogo), nós empatamos. Fiz uma brincadeira para contextualizar aquilo que a gente cria. Quando fui no tradicional, não consegui a vitória. Mas era tudo uma brincadeira.

Como é o Adilson hoje?

Estou mais maduro, mais sereno, mais calmo. É sempre importante agregar o conhecimento científico, das vivências, e transportar para os dias de hoje, o que exige a atual realidade. Eu sempre fui muito de anotar, marcar, escrever e guardar o que eu acho importante, desde os tempos de atleta. O senhor Francisco Rubens Minelli, que trabalhou no Atlético, até brincava, me chamando de Pero Vaz de Caminha, porque dizia que eu escrevia muito (risos).Mourão Panda/América/Divulgação

Treinador tem 100% de aproveitamento no novo clube, com duas vitórias em dois jogos

 Você era o zagueiro daquele time do Atlético de 1994, que acabou recebendo o apelido de ‘Selegalo’. Por que aquele projeto foi um fracasso?

Selegalo! É difícil... Tínhamos um grande time, que teve algumas dificuldades no Campeonato Mineiro, ficando a dez pontos do Cruzeiro. Depois, no Brasileiro, teve uma reformulação, com a chegada do Levir (Culpi) e a dispensa de vários daqueles atletas. Terminamos em terceiro. Perdemos para o Corinthians, e eles fizeram a final com o Palmeiras. O Levir fez um grande trabalho.

O fator extracampo pesou muito? O próprio Neto chegou a afirmar em algumas entrevistas que os ‘medalhões’ daquele time abusavam da noite belo-horizontina...

Se o Neto falou, está falado. Como zagueiro, sobrava para nós lá atrás, né? Eu e o Kanapkis, o uruguaio. Mas, se o Neto falou, está falado (risos).

Sua história no Cruzeiro começou ainda no fim dos anos 80, como jogador. Como foi aquele momento?

Muito legal. Cheguei em 1989. O Cruzeiro tinha um grande time, e ficamos em terceiro lugar no Campeonato Brasileiro também. Sofremos um gol contra a Inter de Limeira, de cabeça, e perdemos a chance de fazer a final contra Vasco ou São Paulo. Tínhamos uma grande equipe. Eu gostava. Foi uma experiência maravilhosa, principalmente pela Supercopa. Aquele 3 a 0 contra o River Plate... Eu vi o estádio tremer, balançar... Foi a coisa mais linda do mundo, e eu nunca mais vou esquecer aquele momento. E chegar à Seleção Brasileira pelo Cruzeiro também... Depois, infelizmente, houve uma troca de geração e eu quebrei a perna duas vezes, o que me atrapalhou a jogar um pouquinho mais na Seleção.

Recentemente, li um livro do Alejandro Sabella (treinador do Estudiantes em 2009), que depois chegou à seleção da Argentina. Enfrentamos um time muito estruturado e organizado”

E como treinador? Aquele vice-campeonato na Libertadores de 2009 ainda te tira o sono?

Voltei como treinador e inventei bastante, né (risos)? Faz parte do futebol. O Estudiantes é tetra. Eu viajo muito e vou atrás de material, livros... Recentemente, li um do Alejandro Sabella (treinador da equipe de La Plata na ocasião), que inclusive chegou depois à seleção da Argentina. Nós enfrentamos um time muito estruturado, organizado, que era acostumado a ganhar, e ganhou. Como o Cruzeiro, que também tem uma camisa pesada e muito respeitada na América do Sul, mas que infelizmente não conseguiu.

Em entrevista ao ‘Papo em Dia’, o ex-volante Juan Sebastián Verón disse que o Cruzeiro subestimou o Estudiantes naquela decisão. Discorda dessa afirmação?

Eu posso afirmar que existiu uma confiança muito grande. Saímos na frente. Foram dois lances. Uma metida rápida, uma centrada e um gol. E depois um gol de bola parada, de desatenção. Duas bolas na trave... Enfim, é jogo! Faz parte do futebol, e é o que temos que pensar. Durmo tranquilo. Gostaria de ter dado o tricampeonato? Claro! Gostaria de ter sido campeão como atleta e treinador? Sim! Mas a vida segue.

Sonha em levar o América a uma disputa inédita de Copa Libertadores?

Agora não é mais ‘vamos aguardar’. O novo lema é ‘vamos devagar’. Primeiro, é passo a passo. Temos mais 22 jogos. Estou muito consciente em relação a isso e sei do grau de dificuldade que é. Está todo mundo perto, tem alguns times com jogos a menos... Vamos nos concentrar no Palmeiras e vivenciar cada jogo. Trabalhar pelo resultado, neste momento, para que a gente cumpra a primeira meta. 

Qual é o seu maior sonho no futebol?

Ganhar do Palmeiras neste domingo.

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