Minas no UFC: Glover Teixeira tenta novo caminho pro cinturão após derrota relâmpago

Frederico Ribeiro
fmachado@hojeemdia.com.br
11/02/2017 às 01:30.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:52

Os 13 segundos poderia ser a contagem que mais perturbaria o lutador de MMA Glover Teixeira. Mas o tempo relâmpago que marcou o nocaute repentino em sua última luta não se compara com os 48 dias que levou Glover a sair de Sobrália, interior de Minas Gerais, e cruzar a fronteira do México com os EUA, de forma ilegal, há 18 anos. E é essa história de superação que ele levará, neste sábado, ao octógono do UFC 208, que terá um card recheado de brasileiros, como o retorno de Anderson Silva e nova luta de Ronaldo Jacaré. 

A travessia ilegal transformou a vida do mineiro e marca sua história de vencer obstáculos. Chegou aos EUA aos 19 anos, foi deportado, conseguiu o Green Card e virou uma das atrações do maior evento de MMA do planeta. Agora com 37 anos, lutando pela categoria de meio-pesado (onde o insuperável Jon Jones perdeu o título por comportamentos extra-rigue), Glover enfrentará o norte-americano Jared Cannonier, nos cards principais do UFC do Brooklyn. 

Glover já subiu ao octógono para tentar o tão sonhado título. Mas foi vítima de Jon Jones e interrompeu uma sequência de 20 vitórias seguidas. A mão pesada e o jogo de chão não funcionou na luta seguinte e ele somou mais uma derrota para Phil Davis. Entretanto, viria a "volta por cima" que ele novamente precisará neste sábado. Na sua última luta, poderia entrar outra vez na mira do cinturão. Porém, perdeu para Anthony Johnson com apenas 13 segundos, sendo nocauteado pela primeira vez na carreira. Lá se ia a chance de chegar a quatro vitórias seguidas no UFC. 

Dana White, entretanto, não desistiu do "caipira" que deixou Sobrália para se radicar em Connecticut, conheceu o ídolo Mike Tyson e virou "protegido" da lenda do UFC Chuck Liddell. Glover precisará vencer de qualquer maneira logo mais. Se considera favorito contra um oponente de menor experiência no circuito. Se o seu braço for erguido ao fim da luta, precisará manter o pique por duas lutas, provavelmente, para poder encarar Daniel Cormier, Alexander Gustafsson ou tentar a revanche contra Johnson ou Jones numa provável disputa de cinturão.

Você veio de uma derrota por nocaute na luta contra o Anthony Johnson, em agosto passado. Antes disso, você havia vencido três oponentes importantes, vinha de 20 vitórias seguidas. O que você acha que faltou na última luta e que será corrigido neste sábado?
Na minha última luta, o boxe dele (Johnson) entrou rápido, em cheio. Mas o meu estilo de lutar é esse, de ir para dentro e isso tem um custo, que é arriscado. Mas não mudarei, sempre lutei assim, e foi desta maneira que consegui importantes vitórias na minha carreira, como a do Rashard Evans, o Cummins e o Bader. Obviamente que a gente entrará com mais cautela, estudando o adversário, mas não tem como fugir do estilo.

Você retorna ao octógono após a derrota para o Johnson em agosto. Agora você irá enfrentar um adversário que tem apenas três lutas no UFC. Apesar de ele ter um cartel favorável e ter descido de peso, você se sente muito favorito para esta luta?
Me considero favorito sim. Mas favoritismo não derruba nenhum adversário. Ele pode ter menos experiência no UFC, mas na minha terceira luta no evento eu ganhei do Rampage Jackson. Então um lutador "estreante" tem condições de vencer outro de mais renome. Temos que respeitar sempre e se preparar para exercer o favoritismo. Josh Hedges/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images / N/A

Glover lutou em BH em 2013, quando nocauteou
Ryan Bader e ganhou o direito de disputar o
cinturão contra Jon Jones

A sua luta do UFC 208 estava marcada contra o Jimi Manuwa, que é o 5º do ranking da categoria, próximo da sua posição. Já o Cannonier está em 15º no ranking. Esta mudança afetou a sua estratégia para a luta? 
Não muito. Porque os dois lutadores são "strickers". Mas, independente da luta, sempre busco trazer o oponente para o wrestling (luta no chão). Não penso muito na estratégia específica para cada adversário. Busco me preocupar mais com a minha performance. 

Poderia citar quais as brechas enxerga no jogo do Cannonier?
Mas o Cannonier é um adversário que se movimenta muito, luta bem, não é bobo não. 
Há algumas brechas na luta dele, mas prefiro não comentar sobre isso. 

Em caso de vitória no sábado, você acha que chegará o seu momento de disputar o cinturão dos meios pesados em uma próxima luta? 
É complicado saber. Perdi a luta para o Anthony Johnson que seria a seletiva para ver quem iria disputar o próximo cinturão dos meio-pesados. Mas tem muita coisa para acontecer e eu estou à disposição do UFC, tem a volta do Jon Jones ainda. Vou luta a luta. 

Outros brasileiros entrarão no octagon sábado: Anderson Silva, Ronaldo Jacaré, Wilson Reis. Pra você, todos eles são favoritos ou tem algum que terá maiores problemas?
Acredito que o Anderson Silva é um grande favorito neste card. Penso que todos os brasileiros irão vencer e termos uma noite de vitórias para o país no UFC.

Algumas categorias do UFC exigem um esforço quase sobrenatural dos lutadores para bateram o peso. No seu caso, é preciso um sacrifício muito grande para fechar nos 93 kg?
Fácil nunca é. Tenho que sempre manter uma disciplina de treinos e dietas para manter o meu peso e dar tudo certo. Normalmente, fora do circuito de lutas, eu chego a 103, 104kg, sendo o máximo a 105kg. Então é uma redução de 10kg que consigo fazer, mantendo esta disciplina rígida. 

Falando um pouco além do evento de sábado, você saiu de Sobrália para os EUA como imigrante ilegal e teve que pagar o preço ao ser deportado até conseguir o green card e retornar. Neste aspecto, como você avalia as decisões e tendências do presidente Trump sobre os imigrantes no EUA, falando de construir muro na fronteira do México e coisas assim?
Eu não gosto de falar de política, prefiro não me intrometer neste assunto. Acredito que não tenho o poder de mudar as coisas que vemos, principalmente no nosso país. Mas é impossível não ver o que acontece, aqui nos EUA você liga a TV e tem novas polêmicas envolvendo o Trump. 

Você sempre citou Mike Tyson e Royce Gracie como espelhos para a carreira de lutador. O Tyson você já o encontrou pessoalmente. E o Gracie?
Já encontrei com o Royce também. É um cara muito bacana, gente boa. É difícil bater um papo longo com ele porque em todo evento que o encontrei, há muita gente em volta dele, por tudo que representa para o UFC. Uma vez ele comentou no meu facebook me elogiando. Eu nem acreditei que era ele, achei que era um perfil falso. Depois fui abordá-lo pra saber se era verdade, e ele confirmou. São coisas pequenas que nos fazem muito contentes. Royce inspirou muitos lutadores de UFC, por ser um dos pioneiros.

E o que significa Chuck Liddell para você?
É um grande amigo. Meu parceiro de treino, sempre busco encontrar com ele, as famílias se conhecem e saímos juntos. É um cara que me ajudou bastante e virou meu amigo. 

Aos 37 anos, aposentadoria é algo ainda longe da sua mente? 
Não penso nisso. Vejo lutadores mais velhos do que eu ainda na ativa, como Anderson Silva, que já está na casa dos 40 anos. Tem o Dan Henderson também. Acredito que eu consiga chegar sem problemas aos 40, 41 anos ainda no octógono.

Você é mineiro de Sobrália. Quais as ligações que você tem com a cidade natal? Consegue visitá-la com frequência?
Meu sonho é voltar a morar em Sobrália. Mas sei que é difícil, por causa da profissão, tenho que treinar nos EUA, que tem condições melhores. Mas é a minha cidade, nunca me esqueço dela e sempre sinto saudades da comida mineira. Digo sempre para a minha esposa, que é americana, que se um dia eu largar ela ou ela me deixar, volto correndo para Sobrália. Poderia até mesmo montar uma academia aí, incentivar o MMA na minha cidade. Buda Mendes/Zuffa LLC/Zuffa LLC via Getty Images / N/A

Glover celebra vitória diante de Patrick Cummins, anterior ao triunfo perante Rashad Evans, seu último

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