‘Não tenho medo de ir para o chão com ele’

Felippe Drummond Neto e Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
07/06/2015 às 08:26.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:22

No próximo sábado, o gaúcho Fabricio Werdum vai encarar o norte-americano Cain Velásquez na luta de unificação de cinturões dos pesos-pesados (até 120kg). O combate será o principal do UFC 188, na Cidade do México. Os dois lutadores deveriam ter se enfrentado no UFC 180, no mesmo local, em novembro passado, mas uma lesão no joelho tirou Velásquez de ação. Para substituí-lo, o Ultimate optou por criar um cinturão interino da divisão e substituiu o campeão por Mark Hunt na luta contra Werdum. O gaúcho venceu por nocaute no segundo round e tornou-se campeão interino. Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, por telefone, o “Vai Cavalo”, como Werdum também é conhecido, fala sobre a preparação para a luta mais importante da carreira e como espera destronar o oponente.   Você pode se tornar o primeiro lutador da história a ser campeão do ADCC e do UFC. O que isso significa?   Acho que todos atletas vivem do seu sonho. E, quando comecei a lutar, meu sonho era chegar ao Pride. Depois, passei pelo ADCC que é o principal campeonato de luta agarrada do mundo, onde conquistei o título em duas oportunidades e, agora, terei a chance de unificar o cinturão do UFC. Então, além de ser a realização de mais um sonho, é a minha chance de mostrar pra todo mundo que não tenho apenas um bom jiu-jitsu e posso ser o campeão do UFC. Além disso, pretendo lutar o ADCC mais vezes quando eu me aposentar do MMA.   O que você pensa a respeito do Cain Velásquez?   É um grande lutador, que combina muito bem o boxe com o wrestling. Ele já vem mostrando há alguns anos que merece ter se tornado o campeão do UFC, mas acredito que tracei a estratégia certa para derrotá-lo. Mas, com certeza, este será o maior desafio da minha carreira.   Se você pudesse escolher um método para vencer o Velásquez, qual seria?   Se eu pudesse escolher, gostaria de vencê-lo no primeiro round, finalizando ou nocauteando. Mas, claro, minha preferência seria por uma finalização no chão, com um triângulo, uma guilhotina, ou uma kimura. Mas farei tudo que estiver ao meu alcance para vencer essa luta, independentemente do método. Pela minha estratégia, acredito que no terceiro round eu consigo derrotá-lo. Ou, às vezes acontece igual contra o Mark Hunt. Ninguém esperava que eu pudesse nocauteá-lo e eu consegui no segundo round.   Caso você conquiste o cinturão, há a possibilidade de o Cigano ser o primeiro desafiante. Você tem vontade de se vingar daquela derrota sofrida em 2008?   Ele estava chegando no UFC, e eu fui seu primeiro adversário. Ele me acertou um uppercut que acabou com a luta, mostrando a qualidade do seu boxe. Não gosto de dar desculpas, mas caso nos enfrentemos novamente, espero uma luta completamente diferente daquela. Hoje sou um lutador profissional que segue à risca os treinamentos, diferentemente daquela época. Mas não sei se essa luta vai acontecer, já que ambos temos que vencer nossas lutas antes de pensar nessa revanche. Eu contra o Cain e ele, contra o Overeem.   Até 2012, você era considerado um lutador que tinha só o Jiu-jitsu como ponto forte. Desde então você apresentou uma evolução muito grande na trocação. Explique isso. Qual é a importância do Rafael Cordeiro na sua reinvenção?   O Rafael é o principal responsável por isso. Treino com ele há oito anos, e ele mudou completamente meu jogo. Lá na Kings MMA, onde a gente treina nos Estados Unidos, temos uma equipe muito forte, e o Rafael Cordeiro coordena tudo. Não sou apenas eu que sofreu essa “transformação”. O Rafael dos Anjos também tem mostrado essa evolução na luta em pé.   Como está sua preparação para a luta contra o Velásquez? Incluiu alguma novidade?   Vim para o México com muita antecedência. Até a luta vou completar 35 dias treinando em uma altitude de aproximadamente 3.600 metros para estar acostumado com o ar rarefeito. Tive a oportunidade de fazer minha última luta na Cidade do México e vi o quanto é difícil respirar a 2.200m de altitude. Por isso, decidi antecipar minha vinda. Já o Cain deixou para chegar apenas duas semanas antes da luta, tenho certeza de que ele vai sentir os efeitos da altitude. Aquele gás que ele demonstra em suas lutas, durante os cinco rounds, não será o mesmo. Mas ele é um lutador muito experiente e deve ter pensado em uma forma de se preparar mesmo longe.    O que tem treinado mais especificamente para esse combate?   O que mais foquei nessa preparação foi a minha parte física e técnica. Estamos em um lugar muito simples aqui no México, mas que podemos fazer tudo que é preciso. Na parte da manhã fazemos a preparação física e, à tarde, treinamos a técnica. Nunca treino pensando em como tenho que me defender de um adversário e sim no que preciso fazer para derrotá-lo. Mentalmente, estou 100%; fisicamente estou muito bem também. Estou com 108kg, seis a menos que quando cheguei ao México. Aliás, nem era objetivo baixar o peso, mas acabou acontecendo naturalmente, o que é bom, já que aumenta a minha velocidade. Além disso, estou há quase dois meses longe da minha família, apenas me preparando para essa luta. Concentração total.   Quais os treinadores que ajudaram você nessa preparação?   Para essa luta me preparei com o Rafael Cordeiro (Muay Thai), Cobrinha (Jiu-jitsu) e o Ernesto García, que esta fazendo minha preparação física. Ele é o mesmo técnico do Juan Márquez, que, para quem não conhece, é aquele pugilista que nocauteou o Manny Pacquiao em 2012.    Você vai evitar chutes e joelhadas para não correr o risco de ser derrubado?   Não vou evitar nada, farei meu jogo completo. Não tenho medo de ir para o chão com ele, até porque mesmo que esteja por baixo tenho chance de finalizá-lo. Confio muito no meu jiu-jitsu e sei que consigo fazer uma guarda contra ele, ao contrário da maioria dos lutadores que, quando o enfrentam, evitam soltar alguns golpes por darem a brecha para serem derrubados.    Caso a luta vá para o chão, você acredita que o Cain vai aceitar lutar jiu-jitsu com você?   Acho que ele vai querer lutar no chão sim, ainda mais se ele cair por cima. Faz parte do estilo dele, e como está há algum tempo sem lutar, ele não pode mudar suas características para essa luta. Acho que ele tem um jiu-jitsu de bom nível, até porque é um wrestler muito bom, e a arte suave completa suas técnicas de derrubada.    Você já enfrentou praticamente todos os grandes lutadores de MMA da história. Quem foi o mais difícil?   Com certeza, o mais difícil foi o Fedor Emilianenko. Apesar de eu ter vencido em apenas 1m21s, antes da luta foi muito complicado, afinal eu enfrentaria uma lenda que não perdia há dez anos, e era considerado por todos o melhor lutador da história. Ninguém acreditava em mim, achavam que ele iria me matar, tive que me preparar muito mais mentalmente que qualquer outra coisa. Por tudo isso, considero essa a minha luta mais complicada.    Quem foi o maior lutador de MMA de todos os tempos?   Com certeza, o Fedor. Não é à toa que ele foi apelidado de o Último Imperador. É inimaginável hoje um lutador ficar quase dez anos invicto. Quando enfrentei ele, seu cartel era de 31 vitórias e uma derrota. As pessoas têm a memória muito curta, por isso sempre que me perguntam quem foi o maior lutador de todos os tempos, não tenho dúvidas de que foi ele.    Você chegou a lutar no Pride. Quais regras você prefere? As de lá ou as do UFC?   Eu acho que o UFC tem ótimas regras, mas ainda acho que deveria ser permitido o pisão e o tiro de meta.    De onde veio o apelido “Vai Cavalo”?   É de quando eu era novo, em Porto Alegre. Eu jogava bola com meus amigos em uma praça e, quando eu ia marcar alguém, eles gritavam “Vai Cavalo”, e acabou pegando. Aí quando comecei a lutar, eu comemorava minhas vitórias gritando “Vai Cavalo” e o pessoal gostou e começou a espalhar o apelido.   Você sempre escolhe uma música que está na moda no Brasil para sua entrada, pode adiantar qual será usada nesta luta?   Vou manter a música da minha última luta, no UFC 180, chama Cielito Lindo. É uma música típica do México e os mexicanos adoraram. E como deu certo, eu vou mantê-la para essa luta.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por