'Nada contra os outros, mas eu estudei antes de me tornar treinador', diz ex-atacante Guilherme

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
27/07/2018 às 20:38.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:38
 (Paysandu/divulgação)

(Paysandu/divulgação)

Goleador, autêntico, presidente da resenha e um dos maiores artilheiros da história do Atlético. Com 139 gols em 205 partidas com a camisa preta e branca, Guilherme de Cássio Alves é o sétimo nesta lista de goleadores. Aos 44 anos, ele assumiu há menos de um mês o desafio de, como técnico, comandar o Paysandu na Série B do Brasileirão. Para se dar bem na função, a qual exerce há sete anos, ele usa os ensinamentos de Telê Santana e a experiência vivida dentro das quatro linhas como atleta.

Nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, concedida na última quinta-feira, Guilherme volta ao passado para relembrar os momentos vividos como jogador do Atlético e também quando virou a casaca, em 2004, para defender o arquirrival Cruzeiro. Além disso, durante a conversa, o ex-camisa 7 contou como foi a experiência na Arábia Saudita, onde defendeu o Al-Ittihad, e a saída do Vasco, em 1999, para defender o Galo, entre outros temas.

Neste ano, tivemos a aposentadoria do Ronaldinho Gaúcho. Em 1998, a primeira assistência da carreira dele foi para um gol seu no Grêmio. Como foi conviver com uma estrela mundial lá no início da trajetória dele?

Ver o que ele se tornou depois é interessante. Pegamos bem no início. Quando eu cheguei, ele treinava conosco e já era tudo aquilo que todo mundo esperava, uma grande promessa do Grêmio. Já se falava muito sobre ele. Quando o Ronaldinho subiu (para o time principal), vimos que ele iria decolar. São poucos aqueles que vão chegar ao nível que ele chegou.

Fiquei quase cinco anos me preparando. Tem muitos treinadores que nunca jogaram em alto nível, e isso não há faculdade que faça com que o cara aprenda”

Hoje, a Arábia Saudita ressurge como um grande mercado para jogadores brasileiros. Você chegou a jogar por lá. Foi o seu auge, economicamente falando? Alguma história curiosa durante a estadia no país?

Eu já ganhava muito bem no Brasil, mas teve uma diferença grande a ida para lá. Eu sabia na época que era uma cultura diferente. Mas, chegando lá, vê que é muito mais. É difícil a adaptação. Existem países que não são totalmente fechados, mas lá é. Financeiramente foi bom para mim. Mas a adaptação não é fácil. O calor é intenso. A gente só treinava durante a noite, durante o dia era impossível.Cristiano Machado/Arquivo Hoje em Dia

Guilherme e Marques formaram dupla de sucesso no fim dos anos 90

 Você fez 205 jogos pelo Galo e marcou 139 gols. Como foram os bastidores da sua saída do Vasco para o clube, em 1999? Como recebeu a notícia da transferência? Relutou em algum momento?

Eu estava concentrado para um jogo do Vasco contra o Sport. O Gilmar Veloz, empresário, me ligou e disse que estava levando o Veloso para o Atlético e que eles também queriam um atacante. Me perguntou se eu queria, negociou o salário, e eu fui para o Atlético. Não relutei, mas na época eu tinha um bom contrato com o Vasco e só não queria ganhar menos.

A dupla Guilherme e Marques virou uma verdadeira marca no Atlético. Foi o seu ‘casamento’ mais perfeito no futebol? É um das maiores duplas de todos os tempos nos país?

Lógico. Onde eu passo, ou onde ele passa, vai ficar marcada uma das maiores duplas do futebol brasileiro. Não tenha dúvida alguma. Deu certo, foi uma coisa impressionante. A gente mantém a amizade até hoje.

Sempre facilitei tudo para o Atlético. Não poderia ser mal-agradecido com o clube. Não tive nenhum problema, e jamais colocaria o Galo na Justiça”

O Marques hoje é coordenador das categorias de base do Atlético. Acha que essa dupla pode pintar no clube, em breve, desta vez em funções fora das quatro linhas?

O mundo do futebol é muito dinâmico. A gente está vendo as mudanças constantes. Principalmente no Brasil, onde ainda não temos uma postura profissional das diretorias para saber analisar o trabalho e não só os resultados, suportar a pressão de imprensa e torcida para bancar o treinador. Mas é lógico que seria interessante ter essa parceria novamente.

No São Paulo, você chegou com Telê Santana comandando o time que venceria dois Mundiais. Ele é seu grande exemplo agora na função de treinador?

Ele foi o meu mentor em tudo. Cheguei do São Paulo vindo do Marília. Um abismo de diferença entre as equipes. Tudo era muito novo e rápido para mim. Chegar num clube que vinha de um campeonato mundial, aí ganhamos a Libertadores, depois mais um mundial, viagens internacionais, competições importantes... Aprendi muita coisa com ele, e isso me ajuda muito hoje.

Você viveu no Atlético um período em que o time era muito competitivo, mas o clube se afundada em dívidas. Muitos daqueles jogadores recorreram à Justiça para cobrar débitos com o Galo. Você deixou o Atlético ‘perdoando’ alguma dívida? Se aposentou com todos os clubes tendo compromissos quitados com você?

O único que ainda me deve como jogador é o Botafogo. Deve, e me deve bastante. Eu sempre facilitei tudo para o Atlético. Até porque não poderia ser mal-agradecido com o clube. Não tive nenhum problema, não coloquei na Justiça e jamais colocaria o Galo na Justiça.Léo Drumond/Arquivo Hoje em Dia

Logo no primeiro clássico, em 2004, Guilherme marcou contra o Atlético

 Agora, você trabalha no Paysandu, e conseguiu vencer após oito jogos de jejum. O que te surpreendeu positivamente e negativamente quando chegou ao futebol do Norte?

Cara, só surpresa boa. A estrutura que nós temos aqui é brincadeira. É excelente. O estádio totalmente reformado, com um hotel excelente dentro. A comida é excelente, e o clube é muito bem, mas muito bem estruturado. E estão com o pagamento em dia. Eu não esperava tudo isso não. Temos um executivo de futebol que conhece tudo. O Paysandu já vem pagando dívidas e melhorando a estrutura há cinco, seis anos. 

Você também atuou pelo Cruzeiro. Logo no primeiro clássico contra o Atlético, fez gol e comemorou com a camisa da maior organizada do clube celeste. Em 2004, tinha um time até superior ao do ano anterior, da Tríplice Coroa. Por que não deu tão certo?

No papel é uma coisa, na prática é outra. A saída do Vanderlei (Luxemburgo) atrapalhou demais. Acho que houve um entrevero entre ele e o Zezé (Perrela), a gente não sabe muito bem o que aconteceu, mas atrapalhou muito. Era um time muito acima da média, mas, infelizmente, não deu certo dentro de campo. Não deu liga. Foi muito abaixo do que esperávamos.

A saída do Vanderlei (Luxemburgo) atrapalhou demais. Era um time muito acima da média, mas infelizmente não deu certo em campo. Não deu liga”

Pela idolatria que tem com os atleticanos, aceitaria novamente vestir a camisa celeste?

Na época, fui numa situação de profissional. Estava voltando da Arábia, num momento difícil. Foi no ano em que os Estados Unidos invadiram o Iraque, e a Arábia era aliada a eles. Então começamos a ter problemas de bombas por lá, lembro do condomínio onde o Marcelinho morava. Então pedi à Fifa para ir embora. Chegando no Brasil, me ligaram e eu aceitei. Isso é profissionalismo. Você sabe por que eu joguei no Cruzeiro? Porque em todo tempo que eu estive no Atlético eu nunca fiz piada do Cruzeiro, e nem quando estava no Cruzeiro eu fiz piada do Atlético. A partir do momento que você respeita e entende que é somente um rival dentro de campo e que fora é preciso respeitar a instituição, vê que não é inimigo. Estamos vivendo um momento de intolerância, então é preciso tomar cuidado e entender que é somente um rival.

Qual é o estilo do Guilherme treinador? Qual o seu perfil nessa função iniciada em 2011, quando comandou o Ipatinga? 

Olha, quando eu parei de jogar futebol, nada contra aqueles que se tornaram treinadores de imediato, mas eu fui estudar e me preparar. Fiquei quase cinco anos me preparando para me tornar treinador. Tive a transição completa, mas tem o lado de ter estado muitos anos em campo. Tenho essa mistura também. Sou ex-atleta. Tive uma carreira vitoriosa, trabalhei com os melhores treinadores e os maiores jogadores, então isso me dá uma experiência muito grande de vestiário. Tem muitos treinadores que nunca jogaram em alto nível, e isso não há faculdade que faça com que o cara aprenda.

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