Ouro no Pan, mineira espera figurar na lista da seleção feminina de futebol para os jogos do Rio

Henrique André e Felippe Drumond Neto - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
09/08/2015 às 10:04.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:16
 (Arquivo pessoal)

(Arquivo pessoal)

Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, tem uma filha ilustre no futebol. Criada no bairro Washington Pires, a meia Raquel Fernandes foi a escolhida pelo técnico Vadão para substituir a craque Marta no Pan-Americano de Toronto 2015.

Camisa 17 da Seleção Brasileira, a mineira de 24 anos voltou para casa com a medalha de ouro e, agora, vive a expectativa de constar na lista de convocadas para a Olimpíada do Rio 2016. Feliz com a ascensão na carreira, Raquel usa o salário pago pela CBF para ajudar a mãe, dona Antônia, e para ter um padrão de vida melhor.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, ela conta as dificuldades que viveu na carreira, fala sobre o momento da modalidade no país e revela os dois grandes sonhos que tem como atleta.

Como o futebol apareceu na sua vida? Você pratica o esporte desde quando?

Então, Deus já me deu esse dom. Jogo futebol desde criança. Eu comecei a jogar em um time com 13 anos. Aos 15, fui pro Galo. Em 2007, fui para uma seletiva do sub-17, passei e tive a felicidade de ir para todas as convocações. Disputei um Sul-americano e um mundial da categoria, em 2007 e 2008. Em 2009, uma amiga foi para São Paulo, jogar em Rio Preto. Ela me indicou e eles me contrataram Fui bem e me transferi para Araraquara (Ferroviária) no ano seguinte, e fiquei até o ano passado.

E como fazia para se virar numa cidade diferente? Teve que ter um emprego paralelo para se manter?

Nunca precisei ter um outro emprego. Eu recebia pelo time. Na época estava terminando o ensino médio, no colégio. Em Rio Preto, um amigo me abriu as portas de casa e pude morar com a família dele.

Como surgiu a primeira oportunidade de defender a Seleção Brasileira?

Minha primeira convocação para a seleção principal aconteceu há dois anos. Desde então me firmei na Seleção Permanente. Tudo aconteceu porque fui bem e fiz grandes atuações no Campeonato Brasileiro.

Você não tem contrato com nenhum clube atualmente. Por quê?

Não estou sem clube. Por opção, preferi me dedicar e ficar apenas na Seleção Permanente até as Olimpíadas do Rio, no ano que vem. Algumas atletas optaram por atuar em clubes.

Você é uma realidade na Seleção hoje. Qual é o maior sonho que tem?

Então, com certeza absoluta o meu maior sonho, agora, é ser medalha de ouro na Olimpíada. Outro sonho que tenho é atuar em um clube do exterior futuramente. Fora do Brasil é bem melhor e bem mais valorizado.

Você substituiu a Marta no Pan do Canadá e se tornou titular. Vai continuar como dona da posição?

Espero ter dado um nó na cabeça do Vadão com as minhas atuações no Pan. Joguei todas as partidas e estou bem tranquila. Quero brigar para ser titular, mas o meu objetivo maior é estar na lista de convocadas para os jogos de 2016.

Qual foi a partida mais difícil do Brasil no Pan?

Com certeza foi contra o México (Brasil venceu por 4 a 2). Elas jogaram de igual para igual com a gente e nos deram muita dificuldade.

Divulgação/ CBF

Como enxerga o momento e a realidade do futebol feminino no país? Estamos longe do ideal? Qual sua perspectiva de futuro para a modalidade?

Eu acho que o futebol feminino no Brasil está evoluindo e indo muito bem. A modalidade só tem a crescer e, se ganharmos essa medalha de ouro (na Olimpíada), vai crescer mais ainda. Tenho certeza!

Hoje você dedica o tempo exclusivamente para a Seleção Brasileira. Com o salário que você recebe da CBF, você consegue viver bem?

Olha, com o salário que ganho na Seleção Permanente consigo viver, mas não é nada demais, não. Graças a Deus eu posso fazer o principal, que é ajudar minha mãe em casa.

A Marta está com 29 anos, mas um dia vai se aposentar. O Brasil vai sofrer quando ela pendurar as chuteiras ou é possível encontrar uma substituta?

Eu acho que vamos sentir muita falta dela, sim. Ela (Marta) vai fazer muita falta para o Brasil, assim como a Formiga, que é sem palavras. Mas o Brasil tem muitas jogadoras boas e uma nova safra de qualidade.

Você mora com quem em Ibirité? Passou por momentos difíceis ao longo desta trajetória no futebol? Quais?

Moro apenas com a minha mãe. Por causa dela eu nunca pensei em desistir nos momentos difíceis. Ela sempre me deu apoio, mesmo com poucas condições (financeiras) de me ajudar. Muitas outras pessoas me ajudaram e não tenho vergonha nenhuma disso. Quando eu estava aqui no Galo, as pessoas me ajudavam com dinheiro para treinar e lanchar. Tenho um vizinho que me ajudou demais também. Minha mãe é meu orgulho e me ajudava quando dava. Sou muito grata às pessoas que Deus colocou na minha vida.

Qual é o momento que mais marcou você no futebol? Qual a maior emoção que viveu na carreira? E, para finalizar, qual o maior prazer que teve até hoje?

Marcante para mim foi quando jogava em Araraquara e num jogo do Campeonato Brasileiro foram cinco mil pessoas no estádio para nos assistir. Ver tanta gente ali, vendo você jogar e torcendo é muito marcante. Já o meu maior prazer é jogar com Formiga, Marta e Cristiane.

O coordenador de futebol feminino da CBF, Marco Aurélio Cunha, deu uma entrevista ao jornal canadense The Globe and Mail, dizendo que as jogadoras precisam ser mais “bonitas” e se produzirem mais para atrair o público e alavancar o futebol feminino. Como interpreta a declaração?

Isso deu um bafafá danado (risos). Eu acho que temos que nos cuidar mesmo, mas não precisa se maquear demais como uma modelo, para jogar. Porém, passar um lápis e um pó no rosto não tem nada demais. Eu não gosto muito para jogar, mas muitas jogadoras gostam.

Como você encara as perguntas do tipo: aceitaria posar nua um dia? E, aproveitando a deixa, aceitaria?

Olha, eu sinceramente não sei se alguém na Seleção já recebeu alguma proposta assim, mas acho que é normal e vai da escolha de cada uma. Eu não faria nunca. Mas aí é escolha, né?

Quando você se reapresenta ao técnico Vadão? Quais os próximos compromissos da Seleção em 2015?

Vamos nos reapresentar no dia 11 (terça-feira). Temos dois amistosos. O primeiro, no dia 8 de setembro, contra os Estados Unidos. O segundo, no dia 19, contra a França.

Qual será o maior adversário do Brasil na Olimpíada do Rio?

Não sei quais serão as participantes ainda. Mas, com certeza, os Estados Unidos estarão e serão um dos nossos grandes adversários.

Divulgação/ CBF

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por