PAPO EM DIA - 'Entrave judicial com o Atlético é simples de ser resolvido', afirma Gilberto Silva

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
15/12/2017 às 16:24.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:16
 (Bruno Cantini/Atlético)

(Bruno Cantini/Atlético)

De simples funcionário da fábrica de caramelo em Lagoa da Prata, na região Central de Minas Gerais, a melhor jogador brasileiro da história do futebol inglês. Olhar para trás e avaliar o caminho percorrido durante os 41 anos de vida, com certeza, é motivo de orgulho para o ex-volante Gilberto Silva, que pendurou as chuteiras para entrar de corpo e alma na carreira de consultor esportivo.

Em entrevista ao Hoje em Dia, realizada durante o evento de comemoração dos 20 anos do título do América na Série B do Brasileirão, o ex-volante – campeão do mundo com a Seleção e da Libertadores pelo Atlético – falou da ascensão no futebol, comentou o entrave judicial com o Galo, que se arrasta desde 2015, e revelou como funcionará a Partner Sports, empresa que abriu com o sócio Fábio Mello.


Como tem sido a sua vida de aposentado?

Tenho trabalhado bastante. Foi um ano corrido, mas agora dei uma pausa. Daqui a pouco nem entro mais em casa, de tanto que tenho viajado (risos). Atuei como embaixador do Arsenal, divulgando o clube na Ásia, e da Fifa, fazendo trabalhos relacionados à Copa do Mundo. Tenho também outros projetos. Comecei no mês passado um curso de gestão na UEFA.

Esse curso na UEFA pode te render quais frutos?

A questão para mim agora é me capacitar para estar mais preparado no futebol. Por quase 20 anos joguei no campo verde, num terreno que sempre me preparei diariamente. Agora, estou me preparando para uma segunda carreira, seja qual for dentro do futebol. Ser treinador, porém, ainda não é algo que mexe comigo. 

Você foi eleito recentemente como o melhor jogador brasileiro da história do futebol inglês. Como recebeu este prêmio?

Com muita alegria, principalmente por ser um jogador de defesa. Fiquei seis anos no Arsenal e este reconhecimento é grandioso. Quando cheguei na Inglaterra, poucos brasileiros estavam lá. O Edu Gaspar, inclusive, foi fundamental para minha adaptação. 

O pentacampeonato da Seleção Brasileira comemora 15 anos em 2017. Quais as lembranças daquele mundial?

Vem muita coisa à cabeça. Às vezes a gente não dá conta de que se passaram tantos anos. Porém, quando falamos nesta conquista, as coisas vêm muito rápido na memória e voltamos no tempo. Lembro de comemorar com a taça, do Ronaldo fazendo gol, e principalmente da dificuldade que passamos para classificar. Estávamos muito focados e unidos. A “Família Scolari” era realmente o que vivíamos e não apenas coisa que falavam. 

Podemos comparar aquela Seleção com a atual? A “Família Tite” pode seguir os mesmos passos?

O que o Tite conseguiu formar em tão pouco tempo é maravilhoso. O que aconteceu em 2014 no Brasil, jamais vamos esquecer. Temos que lembrar sempre para melhorar o processo. Foi uma surpresa e um fato decepcionante, a Confederação e outros órgãos não terem parado após os 7 a 1 para discutirem o que estava acontecendo com o futebol brasileiro. Acho que o momento agora é bem mais confortável, é um grupo mais equilibrado e que vai chegar preparado na Copa. Não acho que somos favoritos, mas temos boas chances. 

Você foi campeão da Série B com o América, em 1997. Ali, estava apenas engatinhando no futebol. Como foi aquela conquista?

Eu ficava aquecendo desde cedo e ficava olhando para o Givanildo. Para mim foi algo inédito, pois estava começando no América. Não fiz categorias de base e quase não joguei. Cheguei ao América com 16 anos, mas após cinco meses tive que voltar para Lagoa da Prata, onde trabalhei numa fábrica de caramelo. Retornei ao clube aos 19 e as coisas foram acontecendo muito rapidamente. Em 1996 assinei meu primeiro contrato e no ano seguinte participei desta campanha. Entrei em quase todos os jogos e fiz parte. 

O que o Atlético representa na sua vida?

Muito, assim como o América. Quando cheguei no Atlético em 2000, tive uma projeção muito grande. Jogar o Campeonato Brasileiro, em 2001, foi algo muito especial. Perdemos a oportunidade de chegar à final, o que foi dolorido, mas ganhei a premiação individual, de ser convocado para a Seleção Brasileira no final do ano. A partir daí, as coisas evoluíram muito rapidamente. O Galo fortaleceu tudo o que eu já tinha vivido no América.Fifa/Divulgação 


Verdade que, no intervalo do jogo contra o Olímpia, na decisão da Libertadores de 2013, você pegou a palavra no vestiário para motivar o time?

Realmente aconteceu. Quando surgiu o convite para retornar ao Atlético, eu estava feliz como capitão do Grêmio, mas me balançou. Cheguei em casa, conversei com minha esposa, mas ela não quis opinar. Por decisão própria, falei com ela que queria voltar para BH para ser campeão da Libertadores. Retornei, mesmo sabendo que o time tinha uma zaga já montada. Chegar a uma final de Libertadores é difícil; ganhá-la é mais ainda. Precisávamos reverter a derrota fora de casa. Havia um nervosismo e, no intervalo, após a palavra do Cuca, eu chamei todo mundo na sala de aquecimento e falei da importância daquele momento. Falei que não podíamos perder aquela chance, principalmente por todo enredo daquela campanha.

Você e o Atlético estão com uma pendência trabalhista na justiça. Você chegou a ser ofendido por torcedores na rua por isso? E como lidou com os ataques pelas redes sociais?

É uma questão que me incomoda muito, principalmente com a história construída no Atlético. É um problema que não diminui tudo o que construí dentro do clube. Teve uma grande parte da torcida que me xingou na rede social. Entendo o torcedor, e ele vai sempre defender o clube devido ao tamanho da sua paixão, porém jamais deixei de ter carinho e receber o mesmo quando encontro algum atleticano na rua. Continuo torcendo em silêncio pelo clube. Algumas pessoas da imprensa não tiveram a coragem de falar do assunto como deveriam, levantaram a questão para o torcedor opinar sem falar da real situação. Foi maldosa, pois pouco se falou da lesão em meu joelho, onde a partir daí não consegui mais jogar profissionalmente; ficaram falando em hora extra e pouquíssimo sobre a lesão, que até hoje sofro com meu joelho e nunca precisei usar a rede social pra falar desse problema e ficar lamentando. Isso pra mim é fato superado, e quero resolver esse assunto que sempre me incomodou e para mim é super simples de resolver. Quando erro, se é que errei nesse caso, não tenho problema em admitir; quando tomo uma atitude, não faço nada sem pensar e de cabeça quente. Estou me preparando para resolver tudo numa conversa, que talvez não dure cinco minutos. Quem me conhece sabe o tipo de pessoa que sou. Podem falar que fui um péssimo jogador, mas nunca questionem o meu caráter.

Pensa em voltar a Belo Horizonte para ocupar um cargo diretivo no América ou no Atlético?

Não sei. Estou montando uma empresa de consultoria esportiva e em breve vocês ouvirão falar da Partner Sports, que tem o objetivo de prestar serviços ao futebol. Às vezes as pessoas pensam que será apenas gerenciamento de atletas, mas não é. A empresa poderá estabelecer parcerias com os clubes brasileiros e fazer disso uma porta de entrada deles na Europa. Hoje em dia a gente vê os times de lá explorando nosso mercado. Nós, infelizmente, não criamos mecanismos para fazer o inverso. É o que vamos planejar e elaborar. Arsenal/Divulgação

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