Papo em dia: retratado em biografia, Reinaldo fala sobre futebol e política

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
09/09/2016 às 21:39.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:46
 (Henrique André)

(Henrique André)

Reinaldo Lima surgiu para o futebol aos 15 anos, após se destacar num treino com os jogadores que há poucos meses haviam levantado o caneco do Campeonato Brasileiro de 1971 pelo Atlético. Neste mês de setembro, quando se completam 45 anos desde a primeira aparição do ‘Rei’, será lançada uma biografia em homenagem a ele.

A obra, produzida por Philipe Van, um dos filhos do ex-camisa 9, será lançada sexta-feira, às 19h, na sede do Galo, no bairro de Lourdes.
Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, Reinaldo volta ao passado, fala dos jogos que marcaram sua carreira, relembra os triunfos e frustrações como jogador, e diz porque não foi o atacante da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

Com 255 gols em 475 partidas pelo Galo, o ex-centroavante também faz um balanço da vida, opina sobre a situação política do país, e relembra a meteórica passagem pelo Cruzeiro, arquirrival do alvinegro. Ídolo de Romário e outros craques do nosso futebol, o mineiro de Ponte Nova, na Zona da Mata, também revela quem são seus preferidos no mundo da bola. Robinho, artilheiro do Galo no Campeonato Brasileiro, com 10 gols, é um deles.

Você é o ídolo de vários jogadores, como Romário, por exemplo. Quem são os seus ídolos no futebol?

O maior ídolo que tenho como jogador é Pelé. Eu gostava muito de Jairzinho, Paulo César Caju e Ademir da Guia. Depois foram surgindo novos jogadores que fui admirando, como Zico, Sócrates, o próprio Romário, Ronaldo Fenômeno. Hoje tenho Ronaldinho Gaúcho e Robinho. São ídolos em épocas diferentes e todos me deram grande prazer de vê-los jogar. Do Robinho, inclusive, gosto desde que surgiu no Santos. É um jogador fantástico. Agora, quando veio para o Atlético, fiquei muito feliz com a contratação e por vê-lo vestindo o manto.

A final do Mineiro de 1976, disputada em 1977, e vencida pelo Atlético, pode ser considerada o momento mais especial de Reinaldo com a camisa alvinegra?

Joguei muito bem em 76, mas me machuquei no final do ano. Na verdade, de 1973 a 1978, eu pratiquei um futebol fantástico.

O que você sentiu naquele 5 de março de 1978 em que foi decidido o Brasileiro de 1977 e não pôde jogar?

Uma grande depressão e impotência. Eu vinha jogando bem. Era uma fase espetacular, em que eu fazia gol em todo jogo e, na final sou impedido de jogar por uma manipulação política. A gente já era oprimido, ainda com essas manipulações, foi realmente frustrante.

Logo depois, você foi à Copa do Mundo de 1978, na Argentina, como titular de Cláudio Coutinho. Marcou o gol na estreia, contra a Suécia, mas depois perdeu a vaga para Roberto Dinamite. O que decretou sua saída?

Eu já tinha algumas deficiências físicas. O joelho já voltava a incomodar muito. Na Seleção, os treinamentos eram diferentes e, ao contrário do que acontecia no clube, eu não podia tomar medicamento; também sofri uma carga muito grande. O que determinou a saída do time foi a viagem do almirante Heleno Nunes, presidente da CBD (atual CBF). Depois do segundo jogo, ele desceu na Argentina e falou com o treinador para substituir a mim, ao Zico e ao Cerezo.

A final do Brasileiro de 1980 foi uma das mais espetaculares da história. O que você sente quando se lembra daqueles confrontos contra o Flamengo?

Marcou porque foi uma das maiores finais do Brasileiro. Todo o cenário estava preparado. Um grande público compareceu ao Maracanã, que foi o palco ideal para aquela final com dois grandes times. O clima era muito bom. Lutamos com toda nossa força e foi um jogo bonito apesar dos deslizes da arbitragem. A gente não esquece de nada. Tudo a gente sente até hoje.

No confronto de ida, no Mineirão, o Atlético poderia ter feito uma vantagem maior, mas venceu apenas por 1 a 0, com um gol seu. O que faltou naquele dia para o Galo encaminha a taça em casa?

Aquele jogo quem apitou foi o Romualdo Arppi Filho, o “Coluna do Meio”. Todos os jogos com ele terminavam empatados. Ele queria conduzir o jogo para o empate. O 1 a 0 naquele jogo, com o gol marcado por mim, foi goleada; saímos no lucro.

Por que você não foi o centroavante da Seleção Brasileira em 1982, na Copa da Espanha?

Houve um desgaste muito grande em relação à minha condição. Havia interesses de outros estados e em outros jogadores, o que resultou nisso. O treinador, influenciado por estas opiniões, acabou acreditando que eu não poderia disputar a Copa do Mundo.

Arbitragem à parte, o que faltou para a geração dos anos 70 e 80 conseguir os títulos nacionais e internacionais que vieram mais tarde?

Em alguns jogos falhamos, mas noutros fomos visivelmente prejudicados pela arbitragem, como em 1980, 1981 e 1985. Por isso podemos considerar que as dificuldades foram muito mais extra-campo do que dentro dele.

O que levou o Reinaldo ao Cruzeiro? Mágoa? Desafio? E por que a passagem foi tão curta?

Eu já tinha parado de jogar futebol. Houve uma insistência muito grande do Benito Masci para que eu fosse jogar no Cruzeiro. Ele me ofereceu um bom dinheiro e, mesmo assim, eu deixei claro que tentaria voltar. Por isso, fiz um contrato de três meses. Fiquei treinando durante um tempo e vi que não conseguiria. Comuniquei a eles, mas quase numa exigência, me pediram para fazer um jogo. Eu vesti a camisa, ensaiei alguma jogada lá, mas a minha identificação e meu espírito sempre foram atleticanos.

Em sua biografia, escrita por seu filho Phillipe, está tudo lá ou você pediu a ele para omitir alguma coisa?

No livro, relatamos várias fases da minha vida. Desde quando eu sonhava em ser jogador, até minha chegada ao Atlético. Falamos também dos clássicos contra o Cruzeiro, dos grandes jogos – nacionais e internacionais –, da parte política da minha vida, dos problemas que tive com drogas e do renascimento que me fez hoje, chegando aos 60 anos, me sentir muito feliz”

Você sempre foi um jogador muito ligado à política. O que acha do momento atual do Brasil?

Fica a grande decepção do povo brasileiro, que é submetido a estas falcatruas todas. Ficamos tristes ao ver que os homens públicos não têm ética para comandar o país. Para a gente fazer um Brasil melhor, precisamos de uma direção melhor. Nosso país ainda está em formação e a gente tem de corrigir estas deformações da nossa sociedade.

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