Quando a bola rolar nesta quarta-feira para a decisão histórica entre Atlético e Cruzeiro, pela Copa do Brasil, o ex-lateral-direito do Galo e da Raposa Nelinho estará sentado confortavelmente na sala de casa assistindo a algum filme de suspense. “Não consigo ver os jogos de Atlético e Cruzeiro. Fico nervoso demais. Só mudo de canal quando ouço os foguetes e minhas filhas gritando”, revela o ídolo das duas torcidas rivais e amigo dos técnicos Levir Culpi e Marcelo Oliveira. Até o número de títulos estaduais deixa Nelinho dividido: foram quatro Campeonatos Mineiros conquistados para cada lado. Apesar de garantir que não vai torcer por nenhum dos dois finalistas, o ex-jogador acredita que o Alvinegro está mais embalado pelas viradas contra Corinthians e Flamengo, além do ritmo que vem conseguindo imprimir durante os 90 minutos. Para falar da decisão histórica e de outro assuntos, o ex-jogador recebeu o Hoje em Dia com exclusividade em uma academia de sua propriedade para uma entrevista. “Eu não colocaria o Dunga”, afirmou ao comentar a escolha do novo técnico da Seleção após o fim da era Felipão.   Existe favorito para esta final histórica?   Não existe e nunca existiu. Temos vários exemplos de decisões em que um time entra como favorito e é derrotado. Hoje o Atlético, pelo que tem feito, é o favorito. Está embalado, está jogando com confiança. Apesar de o Cruzeiro ser uma equipe mais bem montada, ter um banco melhor, mas no momento eu concordo com aqueles que acham que o Atlético é o favorito. Agora, ser favorito não significa absolutamente nada.   Qual dos jogos você viu na quarta-feira?   Eu não vejo jogo de Atlético ou Cruzeiro. Eu fiquei vendo filme. Eu torço para os dois, mas torço mesmo. O Marcelo (Oliveira) é muito meu amigo. Então, quando eu vejo jogo, fico nervoso, começo a xingar, coisa que não faço normalmente. Ficou só ouvindo os foguetes e mudo para ver quem fez gol.   Já tinha visto os dois rivais em tão bom momento simultaneamente?   Nunca houve. Sempre quando um estava bem, o outro estava mal. Eu não me lembro das duas equipes tão próximas assim também no Campeonato Brasileiro.   O que isso mostra?   Representa muito. Isso aí é para acabar com aquele complexo que sempre existiu por parte do torcedor mineiro de achar que todo mundo, a CBF e a imprensa estão contra o futebol mineiro. Já melhorou muito. Hoje todo mundo reconhece o nível do futebol mineiro e já reconhecia antes desde a década de 60 e 70 quando as duas diretorias montaram grandes times.   O respeito de Atlético e Cruzeiro hoje é outro?   Eu me lembro que, quando cheguei aqui para jogar, vários atletas do Rio foram sondados mas não quiseram vir. Falavam que não iam ser vistos. Os jogadores do Nordeste só queriam ir para Rio e São Paulo, às vezes até ganhando menos. Hoje é diferente.   Como você avalia a dispensa de Jô, André e Emerson Conceição na véspera da decisão? Ajuda ou atrapalha?   Quando o profissional não é correto em suas atitudes, o próprio ambiente vai minando ele e não consegue conviver com um jogador assim. Se você tem uma maioria dentro de um elenco que é de bons profissionais, quando existe um que não se encaixa no que os demais fazem, ele é alijado do grupo. Isso é automático.   Quem tem o melhor elenco, Atlético ou Cruzeiro?   Eu tenho ouvido falar que o Cruzeiro tem um elenco de alto nível. O Cruzeiro tem que ser analisado friamente. Tem um grupo de jogadores de nome, que já fizeram muita coisa. Mas você tem que ver se eles estão rendendo o que rendiam antigamente. O Júlio Baptista hoje rende o que rendia? Isso que tem que ser analisado. É um elenco bom, pode ser considerado um dos melhores do Brasil. Mas você pensa: sai um cara e entra o Júlio Baptista. Aí vamos para o outro lado. No Atlético sai alguém e entra o Carlos. Poxa, o Carlos está jogando demais. Aí o Carlos, que tem muito menos nome, está rendendo muito mais do que o Júlio Baptista. É essa comparação que eu acho que tem que ser feita.   E dentro de campo, o Atlético está melhor?   O Atlético está jogando em alta rotação, muito veloz e marcando junto para tomar a bola, o que é muito diferente. O Cruzeiro já joga com menos intensidade, mas tem um contra-ataque de muita rapidez. Às vezes não sinto o Cruzeiro com a mesma rapidez do ano passado, mas dependendo do momento do jogo. No Atlético, o que me impressiona, principalmente nestes dois últimos jogos, é que o time começa e termina na mesma intensidade. É velocidade o jogo inteiro, o que pode fazer a diferença.   O Cruzeiro cansa?   Eu escuto esses comentários, mas não assisto aos jogos. Todos os clubes estão com uma agenda apertada, mas se isso estiver acontecendo deve ser algo mais pontual porque o Cruzeiro tem uma comissão técnica de altíssimo nível e isso já teria sido detectado. e as providências tomadas.   Afinal, o Marcelo sabe ou não disputar mata-mata?   Eu não consigo entender os comentários que fazem sobre o Marcelo dizendo que ele não sabe disputar mata-mata. Onde está escrito como se deve disputar um mata-mata. Para chegar em duas finais, você passa por vários adversários no mata-mata. Os outros então sabem muito menos. São comentários maldosos, covardes, de pessoas que falam sem qualquer base. Comentar o acontecido é mole, meu amigo.   Tem algum contato com o Levir?   Tenho muito contato com ele. Já nos conhecíamos da época de jogador. Depois, quando ele voltou a trabalhar aqui, a gente se encontrou várias vezes, e nos tornamos amigos. É um cara ótimo da gente conversar, contador de histórias, um cara correto. Estamos muito bem servidos de treinadores.   Desistiu da carreira de comentarista?   Eu adorei ser comentarista, mas não voltaria a não ser por necessidade. São muitas viagens, você tem que ficar por conta do veículo que está trabalhando, eu tenho dificuldade de guardar nome, datas, números, outros jogos. Quando eu fui comentarista, a minha preocupação era comentar o que estava acontecendo em campo. Não fazia previsões. Não ficava adivinhando nada. Fazer comentários sem base como a gente vê por aí é muita covardia. Isso me incomoda muito.   Mas existem bons comentaristas?   Tem várias sensatos, inclusive ex-jogadores. O Caio, o Belletti, o Juninho Pernambucano, que conseguem captar o outro lado. Não é que o cara que não foi jogador não possa ser comentarista. Mas ele tem que conseguir captar o outro lado porque tem momento que ele não tem a mesma capacidade de comentar como um ex-jogador que esteve lá dentro e sabe de tudo que está passando. Mas também não quer dizer que todo ex-jogador é um bom comentarista. Tem jogador que não entende nada de futebol, não tem percepção.   Já entendeu os 7 a 1? Encontrou explicação?   Eu sou mais racional em relação a isso. Os “inteligentes” aí do futebol se aproveitaram tanto daquele momento para falar tanta bobagem. Aconteceu que a Seleção Brasileira teve um momento de descuido e facilitou. Então eles, com a capacidade técnica, aproveitaram este momento e mataram o jogo. Não tem que inventar mais nada. O que aconteceu acontece em várias partidas, mas os adversários não sabem aproveitar as falhas do adversário. Foi uma fatalidade, que só volta a acontecer daqui a 100 anos.   Foi a favor de Dunga novamente na Seleção?   Eu acho que tinha que acontecer a troca de comando, mas eu não colocaria o Dunga. Não tenho nada contra ele. Gosto dele como pessoa, é um cara muito correto, que não dá colher de chá para ninguém da imprensa. Trata todo mundo igual, sem privilégios para um ou outro repórter.   Quem você colocaria?   Eu gostaria do Marcelo Oliveira. O Muricy Ramalho é outro bom nome. O Tite também. Tem vários.   Algum outro jogador mineiro, além dos que já estão, merecia ser convocados por Dunga?   Não. Vejo o Jemerson com grandes possibilidades mais adiante. Ele é muito tranquilo. Chegou e não se intimidou. Que tranquilidade. Vejo ele, vejo o Mayke também jogando muito. Acho que futuramente estarão na Seleção Brasileira.   Por que o futebol está tão carente de laterais?   É o momento. Eu joguei numa época que tinha um monte. Tinha ponta esquerda, ponta direita e hoje não tem mais. Isso é cíclico. Qualquer hora aí vai aparecer um monte de lateral direito e lateral esquerdo. É isso.   A final da Copa do Brasil está bem servida de laterais?   O Ceará é um jogador que marca mais e apoia também. O Mayke marca um pouco menos mas apoia um pouco mais. Mas são dois jogadores importantes para a equipe. Já o Marcos Rocha é um jogador de grande qualidade, mas um pouco prejudicado pela estatura. Mas tem qualidade, sabe driblar, fazer um passe. Dentro do Brasil ele é um jogador que merecia voltar para a Seleção, não sei porque não está sendo convocado.   Como você administra esta situação de ser ídolo de dois grandes rivais?   É engraçado porque eu sou reconhecido pelas duas torcidas que sempre me tratam muito bem. Mas existe uma dúvida dos atleticanos e dos cruzeirenses de que time eu sou. Cada um fala que sou torcedor do outro. Aí fica sempre essa dúvida. Eu falo que sou os dois. Os dois foram ótimos para mim e tenho muito carinho pelos dois.   Como fica a convivência com as filhas todas atleticanas?   São três fanáticas que me sacaneiam o tempo todo e falam que sou cruzeirense. Eu falo que vou sempre torcer para o campeão. Meu netinho é assim. Ele fala que é Brasil, Galo e Cruzeiro.   Não é possível mais assistir um Atlético e Cruzeiro com torcedores dos dois times?   Isso começou a partir das torcidas organizadas que passaram a viver de ingressos, viagens e venda de camisas e outras coisas. Aí os vagabundos entraram e não fazem nada. Ficam lá só ganhando dinheiro. Se tem dinheiro no meio virou bagunça.   É a favor do fim das organizadas?   Completamente. Para mim já deveria ter acabado há muito tempo. Sou a favor de uma torcida do Atlético e uma do Cruzeiro. Não tem que diferenciar. É torcer para o time, o clube. Mas eles não querem isso.   Pensa em voltar a ser treinador?   Nunca. A pior coisa é ser treinador de futebol. Falo sempre isso com o Marcelo. Não sei como ele aguenta, mas ele adora. Eu não tinha a mínima paciência. Não sei como é hoje no Cruzeiro, mas na minha época o presidente queria mudar o meu treinamento. Eu tinha tudo num quadro negro e chegava lá estava mudado.   O Cruzeiro já está com as mãos da taça do Campeonato Brasileiro?   Eu escuto alguns comentários, até parte da imprensa paulista, de que o São Paulo está chegando. Mas se um time, faltando seis rodadas para terminar, está a seis pontos na frente e tem que estar preocupado. Quem tem que estar preocupado são os outros. O Cruzeiro depende só dele. Os outros dependem dos erros do Cruzeiro. O problema está com eles, não com o Cruzeiro. O Cruzeiro caiu de produção, e daí. Isso acontece com todos. O Cruzeiro está com tudo, mas não dá para falar que está ganho.

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