‘Posso ser prejudicado pela falta de critério’, afirma Wallace

Felippe Drummond Neto
fneto@hojeemdia.com.br
10/04/2016 às 12:01.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:52

O oposto Wallace disputa hoje a sexta decisão de Superliga com a camisa do Sada/Cruzeiro. Três vezes campeão, ele terá desta vez como adversário o Brasil Kirin/Campinas. Porém, diferentemente das outras finais, o jogador pode estar se despedindo do time celeste, já que amanhã será definido o novo ranking de pontuação dos jogadores pela CBV (Confederação Brasileira de Voleibol).

Caso Isac e Eder atinjam a pontuação máxima, ele pode ser forçado a deixar o clube. Jogador há mais tempo no time, Wallace fala, nesta entrevista exclusiva, sobre a trajetória de sete anos pelo Cruzeiro, onde chegou ainda desconhecido e se tornou um dos melhores jogadores do mundo.

Por ter uma origem humilde, como é hoje ser um dos três melhores opostos do mundo?
Trabalho sempre em busca do meu melhor, pois dessa forma sei que estarei ajudando o time. Ser considerado um dos melhores opostos acaba sendo uma consequência do que eu faço todos os dias e do que o time como um todo conquista. Mas não ligo para essas considerações individuais, penso sempre na equipe e em como posso ajudar.

Quais são seus hobbies fora da quadra? O que faz quando está de folga?
Gosto de ficar dentro de casa. Nós (jogadores) sempre estamos viajando, então quando tenho uma folga quero ficar em casa com a esposa. Quando estou lá gosto de jogar videogame, e também de dar uns passeios com meus carros.

Quais carros você tem hoje e quais já teve?
Não tenho nenhum sonho de consumo. Acho que os carros que eu quis ter eu consegui. Sou literalmente viciado neles. Atualmente tenho uma Vera Cruz, um Dodge Charger, um Nissan GTR e um Monza 93, que é o primeiro carro que eu tive. Além desses quatro, também já tive Civic, Corolla, Palio Adventure, C4 Hatch, Camaro e Dodge Challenger.

Quem você enxerga como seus principais adversários na Olimpíada?
Não penso que já estou garantido lá. Só vou ter essa certeza depois que sair a convocação. Sobre os principais adversários, considero que Rússia, Polônia, França, Itália e Sérvia são os mais difíceis. Acho que esses serão os principais adversários que teremos, mas praticamente toda seleção que chega a uma Olimpíada tem o objetivo de ser campeã. E acho que todos os jogadores do Cruzeiro mereciam ser convocados, pois todos jogam no mais alto nível.

Há pelo menos seis anos o Cruzeiro é o principal time do país, mesmo assim não é a base titular da seleção. Por quê?
Acho que o quesito histórico na seleção conta muito. O Bernardinho tem uma linha de raciocínio que ele segue, e normalmente confia sempre nos mesmos jogadores. Acho que isso mudará depois da Olimpíada, já que deve haver uma grande renovação no time.

O que você espera dessa final contra o Campinas?
O Campinas é muito forte coletivamente. Foi um time que apostou mais em montar um jogo coletivo nivelado, ao invés de investir em estrelas individuais. Em uma final de jogo único, tudo pode ser definido nos erros, e quem cometer menos erros vai sair campeão.

Como jogador mais antigo deste projeto do Cruzeiro, desde 2009, como é olhar para trás e ver tudo que foi conquistado?
É uma honra fazer parte de um time tão vencedor. Felizmente pude ver tudo isso acontecer, assim como outros jogadores, como o Douglas Cordeiro, que foi o primeiro mesmo a ser contratado. É muito bom ter ajudado e continuar tendo uma participação depois de tantos anos e tantos títulos. Quando cheguei, ninguém imaginava que poderíamos vencer dois Mundiais e três Superligas.

Após dois anos de casamento, já tem planos para ser pai? Existe uma pressão dos companheiros, já que só você e o Isac ainda não têm filhos? Não tem nenhuma pressão. Eu e a Mari já chegamos a conversar, mas nosso plano é esperar pelo menos mais um ano. Ela está fazendo um mestrado e, se acontecesse hoje, atrapalharia. Por outro lado, quero que meu filho me veja jogar, então não posso demorar muito.

O Cruzeiro e você podem ser prejudicados pelo ranking que a CBV usa para equilibrar as equipes. Como você vê isso?
Acho legal a ideia de tentar equilibrar e a criação de um ranking para isso. Porém, também tem o lado ruim, que é não olhar de uma forma diferente para a regra de limitar os atletas de pontuação máxima (7). Atualmente, cada equipe pode contar com no máximo três atletas com essa pontuação. Esqueceram de olhar para os times que possuem um determinado atleta que foi contratado no início da carreira e o time o manteve até ele chegar a sete pontos. Particularmente, este é o meu caso. Vim para o Cruzeiro com dois pontos e hoje tenho a pontuação máxima, assim como Leal e William. Isac e Eder correm risco de atingir essa pontuação na próxima temporada, e aí o time terá que escolher três entre os cinco para permanecer. Isso tinha que ser olhado. Há sete anos estou aqui, sou cria do projeto, e posso ser prejudicado por essa falta de critério. Não adianta equilibrar os times prejudicando os jogadores.

Você tem contrato para a próxima temporada?
Ainda não tem como renovar, pois preciso esperar a definição do ranking. Eu, o William e o Eder ainda não podemos acertar. O Isac e o Leal já têm contrato para a próxima temporada, ou seja, se confirmar que Eder e Isac vão passar de seis para sete pontos, o clube terá de escolher um de nós três para ficar, e os outros dois ficarão livres no mercado.

Se você tivesse que escolher um dos 20 títulos que o Cruzeiro conquistou, qual seria?
Sem dúvida, o primeiro Mundial. Foi histórico, foi a primeira vez que um time brasileiro ganhou a competição. E, além disso, ganhei o prêmio de MVP (jogador mais valioso).

Como você vê o fim da vantagem de decidir em casa para o primeiro colocado da Superliga?
Isso é um problema que estão criando para eles, pois pode fazer com que a fase de classificação perca um pouco da pegada, já que não terá a necessidade de brigar pelo primeiro lugar. Particularmente, não achei legal, mas, como é parte do regulamento, tem que aceitar.

Já dá para ter noção da dimensão dos feitos que vocês estão alcançando?
Enquanto ainda estamos jogando não dá pra perceber o tamanho disso tudo. Acho que só quando acabar esse projeto ou esse time é que realmente teremos o real reconhecimento do que estamos construindo. É uma história que ninguém vai apagar, mas nós, enquanto atletas, só pensamos no presente.

Tem alguma meta que você ainda não tenha alcançado na carreira?
Já ganhamos tudo aqui no Cruzeiro. Por mais que a gente queira sempre ganhar todas as competições que disputamos, acho que já atingimos todas as metas. Já na Seleção, ainda tenho vários objetivos. Ainda não ganhei uma Liga Mundial, nem a Copa do Mundo, nem a Olimpíada.

Pensa em jogar fora do país? Teria algum país de preferência?
Não digo sonho, porque eu gostaria de ficar no Brasil até o fim da carreira. Mas, se houver necessidade de sair, gostaria de ir para o Japão. É um lugar que sempre me despertou uma curiosidade de jogar e morar por um tempo, além de que isso também me levaria a um lugar que tem várias marcas de carros que eu curto.

Como vê a possibilidade de jogar com o cubano naturalizado Leal na Seleção?
Todo mundo sabe do potencial que ele tem, e o tanto que pode contribuir para qualquer seleção do mundo. Tenho certeza de que, quando ele estiver apto para ser convocado, será super bem acolhido por todos. Mas também não é certo que ele será chamado. Independentemente do que ele já fez e está fazendo, na Seleção você tem que estar bem no momento da convocação.

Como é a sua relação com o Marcelo Mendez (técnico do Cruzeiro) e com o Bernardinho (técnnico da Seleção? Quais as diferença entre eles?
O Marcelo é um treinador é mais explosivo nos treinos, mas no jogo é mais calmo, passa as instruções sem brigar. Já o Bernardo é o contrário. Nos treinos ele é calmo e tenta sempre corrigir o que acha que pode ser melhorado, enquanto no jogo ele se transforma. Ambos são muito motivadores, sempre me trataram muito bem e são merecedores de tudo que já conquistaram.

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