Ricardo Marques: 'quero representar o Brasil na Copa do Mundo’

Henrique André
Hoje em Dia - Belo Horizonte
29/03/2015 às 12:52.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:25

Eleito o melhor árbitro do Campeonato Brasileiro de 2014, Ricardo Marques Ribeiro foi escalado para apitar o mundial sub-20, na Nova Zelândia, de 30 de maio a 20 de junho, e é apontado como forte candidato para representar a arbitragem do país na Copa do Mundo de 2018, na Rússia.    Formado em Jornalismo e Direito, o religioso Ribeiro – anda sempre com santinhos no bolso – divide o tempo entre as tarefas no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), onde ocupa o cargo de assessor do desembargador Wanderley Paiva, e o futebol.   Nascido em Belo Horizonte, Ricardo Marques, 35 anos, em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, fala sobre o bom momento na carreira e a expectativa de apitar sua primeira Copa do Mundo. Revela, ainda, que ficou dias sem dormir após a má atuação na semifinal do Mineiro de 2010, explica por que processou o chargista Duke e o meia Paulo Henrique Ganso, e opina sobre a arbitragem no país.   Como vê o desafio de apitar o Mundial Sub-20 de seleções? Está ansioso? É a realização de um sonho. Nossa carreira é feita de objetivos. E começar a participar dos torneios internacionais é o auge deles. Fiz a final do Sul-Americano da categoria, entre Argentina e Uruguai, e agora participo do meu primeiro torneio Fifa. É uma oportunidade de mostrar meu trabalho para que os dirigentes da entidade me conheçam melhor e seja uma porta para a Copa do Mundo.   Você está sendo preparado para ser o árbitro brasileiro na Copa de 2018, na Rússia? Estou num processo longo e difícil. Hoje o Sandro Meira Ricci é o árbitro número 1 da Fifa e ele está um passo a frente. Será uma disputa saudável com um amigo. Arbitragem é momento e não dá para fazer projeções. O importante é trabalhar para que as oportunidades apareçam. Quero estar pronto para representar o Brasil na Copa do Mundo.   Após a partida entre Corinthians e São Paulo, pela primeira rodada da Libertadores, você disse que processaria o meia Paulo Henrique Ganso, que reclamou, de maneira ofensiva, da sua arbitragem. Em que pé está o assunto? Infelizmente, aconteceu este episódio. O Paulo Henrique Ganso é disciplinado e eu nunca tinha tido problemas com ele antes. Na ocasião, ele extrapolou nas declarações e em qualquer seguimento, quando a pessoa te acusa com algo que não condiz com a verdade, temos que procurar as vias legais. E assim eu fiz, encaminhando o caso ao meu advogado, para que a ação seja ingressada e que possamos discuti-lá na Justiça.   Em 2010, o profissional Duke publicou uma charge dizendo que você “assaltou” o Ipatinga nas semifinais do Mineiro, contra o Cruzeiro. Você o processou. O fato de você ser advogado e conhecer o Direito o motivam a entrar com as ações? Como cidadãos, precisamos conhecer as leis. Temos que saber os nossos direitos. Se o cidadão tem a sua honra colocada em dúvida e sua credibilidade afetada, ele precisa procurar as vias legais para que isso sirva de exemplo a outras pessoas. Nossa função de árbitro é muito difícil. É cultural que o árbitro seja o vilão da história, e é o que eu e outros tentamos acabar.   O nível da arbitragem é sempre criticado no país. Acredita que a profissionalização e dedicação exclusiva ao apito melhoraria o nível? A questão da profissionalização já avançou com a nossa luta de regulamentar a profissão. Agora é colocar é prática. É extremamente complicado, porque ninguém quer ser patrão de árbitro de futebol. Nenhuma entidade se manifestou para isso. Se o árbitro pudesse se dedicar 100% ao futebol, teríamos, sim, um rendimento mais satisfatório. Eu, por exemplo, já trabalhei o dia inteiro e fui apitar um jogo à noite. Acho que deveríamos ter a mesma estrutura dos jogadores. Somos personagens da partida, assim como eles. Precisamos do mesmo condicionamento e do mesmo preparo. Os equívocos e os erros diminuiriam.   A impressão é de que os árbitros brasileiros deixam o jogo correr em jogos internacionais, como a Libertadores, e mudam os critérios em campeonatos nacionais. Por que isso ocorre? Jogo de Libertadores é mais forte, há mais contato e os jogadores têm a cultura de cobrar mais faltas no campeonato nacional. As faltas são faltas em qualquer campeonato. Eu apito do mesmo jeito no Mineiro, no Brasileiro, na Libertadores ou no Mundial.   Você é considerado o principal nome da comissão de arbitragem da Federação Mineira de Futebol. No entanto, não apita clássicos entre Atlético e Cruzeiro. Por quê? É uma questão pessoal. Decidi que não atuaria em clássicos. Trabalho no Tribunal e meu chefe é conselheiro do Cruzeiro. Eu quero evitar qualquer constrangimento para ele e não para mim. Em caso de um erro, tenho certeza que vão suscitar uma dúvida falando que beneficiei o Cruzeiro porque ele é cruzeirense. Não quero expô-lo dessa maneira e enquanto trabalhar aqui, assim farei. Um dia desejo trabalhar num Atlético e Cruzeiro, mas não foi o clássico que me projetou e me fez apitar os jogos em que atuei. Então, prefiro esperar outro momento.   Na final da Copa do Brasil, você pediu para não ser o quinto árbitro. O que te motivou? Isso não pode colocar em xeque sua imagem como árbitro imparcial? O meu nome foi para o sorteio como árbitro opcional, mas eu já havia protocolado um documento expondo meu desejo de não participar do clássico. O Sérgio Correia tirou meu nome na hora e foi um procedimento normal. Eu trabalho em outros jogos. Não vejo problemas em relação à credibilidade.   Você tem medo de errar? O erro faz parte da nossa atividade. No entanto, como o clássico é um jogo diferente, a repercussão que uma jogada polêmica traz não fica limitada às quatro linhas.    Já o acusaram de ter ligações com o Cruzeiro? Diversas vezes. Já disseram, inclusive, que fui funcionário do clube. Nunca fui funcionário do Cruzeiro e nunca tive vínculo algum com o clube.   O ex-presidente do Atlético, Alexandre Kalil, vetou-o de apitar jogos do Atlético? Sinceramente, por parte da comissão, não ouvi nada do presidente que eu estaria vetado. Se houve, foi um veto velado. Acredito que eu esteja em condições em trabalhar em jogos do Atlético porque não tenho problema algum com o clube. Respeito o Kalil, mas entendo que isso precisa ser superado. Hoje sou um árbitro Fifa e uma referência para o meu Estado.   Já recebeu propostas inescrupulosas para favorecer um time ou prejudicar outro? Graças a Deus nunca fui assediado. Acredito que seja uma situação constrangedora. A arbitragem ficou manchada após o escândalo que envolveu o Edilson Pereira de Carvalho, em 2005, e hoje batalhamos para mostrar nossa lisura, honestidade e imparcialidade.    Qual foi a partida mais importante que você apitou até hoje? Lembra de algum detalhe interessante sobre este jogo? A final da Copa do Brasil de 2009, entre Internacional e Corinthians. Eu era recém ingressado na Fifa e representava um projeto da comissão nacional de renovação. Me marcou muito porque foi um jogo importante, de duas equipes de muita tradição. Reuni todas as minhas forças para que tudo caminhasse bem.    E a pior atuação? Aquela semifinal do Campeonato Mineiro de 2010, entre Cruzeiro e Ipatinga, com certeza. Foi uma tarde infeliz e difícil. Hoje já superei, mas me doeu muito durante um bom tempo. Tem dias que as coisas não dão certo e não fluem no campo como deveriam. Veio uma enxurrada de críticas. Foi difícil, mas passei bem por isso.

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