‘Seria bom reunir os ídolos para um jogo de despedida’, diz Marcelo Ramos sobre Cruzeiro dos anos 90

Felippe Drummond Neto
fneto@hojeemdia.com.br
04/06/2016 às 20:46.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:45
 (Washington Alves/Ligthpress/Cruzeiro)

(Washington Alves/Ligthpress/Cruzeiro)

Para a maioria dos cruzeirenses nascidos a partir da década de 1980, o principal ídolo no clube atende pelo nome de Marcelo Ramos. Passada a geração dos craques Tostão, Joãozinho, Natal, Dirceu Lopes e companhia, a Raposa ficou mais de uma década sem figurar entre os principais times do país. A partir de 1995, no entanto, tudo mudou. Vindo do Bahia, o atacante fez história na equipe que mais títulos conquistou na década 1990, entre eles a Copa do Brasil de 1996 e a Libertadores de 1997.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o jogador lamenta ter recebido um reconhecimento pequeno pelos dirigentes do clube, mas se diz satisfeito com o carinho e a fidelidade dos torcedores, que o homenageiam com o grito de “Ô lê lê, ô lá lá lá, o Marcelo vem aí, e o bicho vai pegar”.

Para milhares de cruzeirenses, você é o maior ídolo que eles viram jogar com a camisa cinco estrelas. O que isso representa para você?

Me sinto muito honrado de fazer parte da história do Cruzeiro e saber que, para milhares de cruzeirenses, sou considerado um ídolo. Trabalhei muito para que isso acontecesse. Num clube que tem tantos ídolos, estar no meio de tantas estrelas é motivo de muita satisfação.

“Tive a felicidade de jogar com grandes atletas no Cruzeiro. Infelizmente, vou deixar muita gente de fora, mas vamos lá: Dida, Vitor, Gelson Baresi, Rogério ou Gottardo, Nonato, Fabinho, Ricardinho, Palhinha, Alex, eu e Roberto Gaúcho. Esse time daria muito trabalho”

  

Você sente falta de ter tido um jogo de despedida com a camisa do Cruzeiro?

Sei que não é fácil fazer um jogo assim. Envolve muita coisa que vai além da vontade do jogador e do torcedor. Mas acredito que outros jogadores além de mim também mereciam esse jogo. Pela experiência que tenho, seria muito bom reunir vários ídolos para fazer um jogo. Mas não fico frustrado com isso. O mais importante para mim é a história feita, o carinho e a paixão do torcedor por mim.

Atualmente, como é sua relação com o clube?

É muito boa. No dia 29 de abril, recebi uma homenagem de uma torcida, estive na Toca da Raposa antes e fui muito bem recebido por todos. É uma relação de muito respeito, apesar do pouco contato. Nunca criei problemas com ninguém.Paulo Pinto/Ap/Arquivo

COPA DO BRASIL – Camisa 7 (à direita) marcou o gol da vitória celeste por 2 a 1 sobre o Palmeiras, no antigo Parque Antártica

 No muro da Toca da Raposa II há um painel com os Ídolos Eternos do clube, sem você. Ainda espera figurar lá?

Se dependesse de mim, eu queria estar em tudo. Mas respeito quem faz essas escolhas. O Cruzeiro é um celeiro de ídolos, e essa é uma questão que não cabe a mim.


Qual é a sua escalação ideal apenas com jogadores com os quais você atuou no Cruzeiro?

Graças a Deus, tive a felicidade de só jogar com grandes atletas. Infelizmente, vou deixar muita gente de fora, mas vamos lá: Dida, Vitor, Gelson Baresi, Rogério ou Gottardo, Nonato, Fabinho, Ricardinho, Palhinha, Alex, eu e Roberto Gaúcho. Esse time daria muito trabalho.

Alguma vez você recebeu proposta para jogar no Atlético? Qual foi a sua reação?

Eu cheguei a receber uma ligação do Levir Culpi. Não me lembro o ano, se era 2005 ou 2006. Me perguntou se eu teria o interesse de jogar lá. A gente se entendia muito bem, conquistamos títulos. Expliquei que tenho respeito pelo Atlético, mas a minha história dentro do Cruzeiro não me permitia jogar lá. Acho que isso foi uma demonstração do amor e do carinho que tenho pelo clube.

Qual foi o jogo mais importante da sua carreira?

Tive muitos jogos importantes pelo Cruzeiro. Foram várias finais e jogos em que eu fui diretamente decisivo. Mas o da Copa do Brasil de 1996, contra o Palmeiras, pela situação que foi o jogo, foi o mais especial. Ninguém dava nada pelo Cruzeiro, já que o Palmeiras era uma verdadeira seleção. Por isso, eu escolho aquele jogo no Parque Antártica.

E qual foi o título mais especial?

A Libertadores. É o ápice de qualquer jogador dentro do futebol brasileiro. Tem toda a dificuldade para vencer. Eu tinha ido para a Holanda e voltei para jogar a fase decisiva e até hoje ela me traz muitas boas recordações. Não é qualquer jogador que conquista esse título.

Depois da Libertadores, o Cruzeiro optou por contratar Bebeto, Donizete e Gonçalves para a disputa do Mundial. Como você encarou isso?

Tenho que ser sincero com o torcedor, pois ele sentiu muito esse título que a gente não conquistou contra o Borussia. A gente não foi bem depois das conquistas do Mineiro e da Libertadores. No Brasileiro, fomos até a última rodada brigando para não cair. Mas não é desculpa, pois tínhamos um grupo muito forte. Teve a mudança de treinador, quando saiu o Paulo Autuori e entrou o Nelsinho. Ele tirou muitos jogadores que tiveram importância na Libertadores. Além disso, o presidente (Zezé Perrella) queria dar uma satisfação para os torcedores. Muitos jogadores ficaram chateados com a situação, como eu, o Nonato, o Gelson Baresi e o Gottardo, que nem foi relacionado para a viagem. A maior chateação não foi com quem chegou só para aquele jogo, mas sim com a situação.

Qual o maior camisa 10 com quem você jogou? Palhinha ou Alex?

Foram dois caras anormais dentro do futebol. Palhinha, com sua classe, inteligência e raciocínio rápido. E o Alex dispensa comentários. Virou ídolo do clube por tudo que fez em 2003. Os dois me ajudavam muito a fazer gols. Com o Palhinha, joguei mais tempo, e tínhamos um entrosamento fantástico. Ele fazia a diferença em campo. Com o Alex, também fiz grandes jogos. Vou ficar com os dois, e também acrescentaria o Valdo, que foi um grande camisa 10 e nos ajudou muito em 1998.

Qual time você considera que foi melhor? O de 1996/97 ou o de 2003?

Eu vou escolher a geração de 96, 97 e 98. O último chegou em todas as finais, mas só ganhou o Mineiro, infelizmente. Foram os melhores anos, porque fiquei mais tempo, convivi mais tempo com os jogadores. A Tríplice Coroa faz parte da minha vida, mas, por ter participado pouco, fica um pouco mais complicado de falar.

“Estive na Toca neste ano, e o que eu vi foi um grupo muito motivado. Por isso, acho que o time está no caminho certo, mas ainda é preciso se reforçar, pois o Brasileiro é muito difícil”

  

Você chegou a ser convocado para a Seleção, mas nunca se firmou lá. O que faltou para que isso acontecesse?

Seleção, para mim, foi muito difícil em vários sentidos. Primeiro porque a minha geração de centroavantes era muito boa. Em qualquer grande clube tinha um excelente goleador, sem falar de Romário e Ronaldo. Todo mundo fazia muitos gols, como Túlio, Dodô, Guilherme e muitos outros. Era muito difícil ser convocado. A minha última convocação foi em 1995, após fazer três gols no Botafogo. Eu tinha idade olímpica. Fui chamado, mas nem entrei (amistoso contra o Uruguai).

Você substituiu o Ronaldo Fenômeno tanto no Cruzeiro quando no PSV. Como foi isso? Você foi comparado a ele?

Não é fácil substituí-lo. No Cruzeiro, não senti tanta cobrança como na Holanda. Meu começo em Minas não foi tão bom assim, mas, no mesmo ano, me destaquei no Brasileiro. Na Holanda, eu não fui contratado pelo treinador. Fui observado pelo diretor de futebol após aquele 5 a 3 contra o Botafogo, e me contrataram no ano seguinte. Tive dificuldade de me adaptar, e tinha características diferentes das do Ronaldo. Quem fez essa comparação, na verdade, foram os empresários, que tinham interesse no negócio.

O que você achou da contratação de um técnico europeu (Paulo Bento) para comandar a equipe?

É uma experiência nova, um treinador europeu que nunca trabalhou no Brasil. A imprensa e os torcedores têm que dar um voto de confiança a ele, pois ele trabalhou na seleção de Portugal e tem seus méritos para tal. Ele deve trazer algumas contratações. É um treinador já vivido, apesar da pouca idade, e com certeza vai acrescentar muito. É preciso paciência. Com os resultados, ele vai ter mais confiança para trabalhar.Arquivo/Hoje em Dia

CAMPEONATO MINEIRO – Ramos celebra título diante de público recorde (132 mil) no Mineirão

  

  


 

  

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