Sindicatos: Fifa não pode "lavar as mãos" após mortes em Itaquera

Jamil Chade
28/11/2013 às 13:00.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:26

Sindicatos internacionais de operários alertam que a Fifa não poderá "lavar as mãos" diante do grave acidente ocorrido no Itaquerão, na última quarta-feira, e exigem que a entidade máxima do futebol garanta a segurança nas obras dos estádios que serão usados para Copas do Mundo no futuro. Liderados pelo sindicato suíço Solidar, grupos de operários já pediram uma reunião com a direção da Fifa para cobrar uma nova atitude da entidade em relação aos acidentes. Um informe deve ser apresentado em março pela organização.

"A Fifa não pode lavar as mãos", declarou Alexandre Marietto, um dos líderes do sindicato e que mantém uma aliança com grupos na África do Sul, Brasil e em diversos países do mundo. Nesta quarta-feira, a Fifa lamentou as mortes dos dois operários no estádio do Corinthians, palco da abertura do Mundial de 2014, e insistiu que a segurança era uma de suas prioridades. Mas não deu indicações de que vai conduzir uma investigação e nem assumir qualquer tipo de responsabilidade.

"Se a Fifa exigiu isenção fiscal para ela no Brasil, se exigiu e conseguiu que as bebidas possam entrar nos estádios e tantos outros privilégios, é sua obrigação também exigir segurança total para os trabalhadores e que não sejam explorados", disse Marietto. "Em certos segmentos, a Fifa é muito ativa, o que mostra que ela também poderia adotar a mesma postura nas questões sociais e na garantia de trabalho decente", indicou o sindicalista, para depois reforçar: "Se a Fifa colocasse a mesma energia e peso que aplica em outras áreas na questão do trabalhador, a segurança seria maior".

O caso das mortes no Brasil apenas aumenta a pressão de sindicatos e ativistas sobre a Fifa, depois que a entidade foi cobrada por mortes registradas nas obras no Catar. Joseph Blatter, presidente da entidade, chegou a tratar do assunto, mas alerta que as empresas que fazem as obras são justamente companhias europeias. Seja como for, ele garante que pouco poderia fazer.

Por enquanto, porém, a única mudança na Fifa é do tom de seus discursos e o que tem feito o organismo que controla o futebol mundial mudar de posição é justamente o impacto que essas mortes e essas crises têm na própria imagem da Copa do Mundo, dos patrocinadores e da própria Fifa. "Temos visto que a entidade começa a tomar consciência de que não pode ficar à margem do que ocorre", declarou o sindicalista.

Há dez dias, o dirigente alemão Theo Zwanziger recebeu da Fifa a missão de trabalhar com a Confederação Internacional de Sindicatos para encontrar uma forma de incluir as preocupações sobre direitos humanos e direitos trabalhistas na agenda da entidade, principalmente tendo em vista a Copa no Catar em 2022.

Um primeiro informe com "medidas concretas" será apresentado em março em Zurique. Mas o trabalho ganhará uma nova dimensão diante das mortes no Brasil. Os operários Fábio Luiz Pereira, de 42 anos, e Ronaldo Oliveira dos Santos, de 44, morreram após a queda de um guindaste gigante sobre a estrutura de parte das arquibancadas do Itaquerão na última quarta-feira.
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