'Sonho com o cinturão e meu projeto social', revela medalhista de ouro Robson Conceição

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
24/02/2017 às 16:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 00:42

O dia 16 de agosto jamais sairá da cabeça do baiano Robson Conceição, de 27 anos. A medalha de ouro nos Jogos Olímpicos Rio-2016, conquista que era inédita para o boxe brasileiro, foi apenas a coroação de uma trajetória de muita luta. Antes de desbancar o francês Sofiane Oumiha, na decisão, o pugilista já encarava adversários muito mais duros, todos impostos pela vida.

Ajudando a mãe e a avó no sustento da casa desde criança, o também Sargento da Marinha trabalhou de feirante e auxiliar de pedreiro. Sem contato com o pai, ainda na infância precisou ser o homem da casa.

Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o campeão olímpico na categoria até 60kg, hoje profissional no mundo do boxe, relembra os momentos de glória no Rio de Janeiro, revela o abandono por parte de patrocinadores mesmo após o ouro, fala sobre os projetos e sonhos pessoais, e muito mais...

Seu projeto após a conquista do ouro olímpico era se profissionalizar. Você conseguiu? Até agora foram duas lutas e duas vitórias. Como você está se sentindo nesta nova fase?
Foi mais um grande sonho realizado. Minha estreia foi muito boa. Estou muito contente com este espaço que ganhei na carreira profissional.

O ouro na Olimpíada do Rio de Janeiro mudou o que na sua vida? Você já conseguiu melhorar a situação da sua família? Surgiram patrocinadores?
Por enquanto não consegui mudar nada além do contrato com o profissional. Tenho apenas o reconhecimento e o carinho do público por onde vou. Em questão de patrocínio, está zero. Acho que vai continuar a mesma coisa, mas, pela minha dedicação e vontade de sustentar a minha família, vou continuar com o meu sonho. A Marinha desde 2009 vem me dando suporte e consigo levar (a vida) com ele.


Sua mãe e sua avó sempre estiveram com você nos momentos mais difíceis. Quando você entra no ringue, a imagem de ambas, e também da Erika (esposa) e da Sophia (filha) vem à cabeça? É por elas que luta?
Com certeza. A minha motivação está na minha mãe, na minha avó, na minha esposa e na minha filha. É delas que eu tiro a minha motivação para lutar e, agora, correr atrás do sonho de conquistar o cinturão. Luto pela minha família e por quem acredita em mim. Não adianta você lutar para a mídia ou para o governo, porque não vale a pena.Flávio Tavares / N/A


Você não esconde de ninguém que, se não tivesse seguido o caminho do esporte, já estaria morto. Hoje, consagrado e com o peso da medalha olímpica no peito, o que diria para os jovens que vivem o drama das ruas e da falta de perspectivas?
É isso. Se não fosse pelo esporte eu não estaria aqui. Mesmo com a dificuldade, a gente lutando pelos sonhos, com força de vontade e correndo atrás dos objetivos, eu tenho certeza que lá na frente chegará a recompensa.

Após a luta que o consagrou campeão olímpico, Luiz Doria, seu treinador, falou sobre a importância de dar oportunidades aos jovens, principalmente no esporte. Você pensa em ter um grande projeto social para lapidar novos talentos?
Com certeza. É o meu grande sonho. Antes mesmo dos Jogos Olímpicos, eu já participo de um projeto social aqui no meu bairro. Recebemos uma proposta aqui na Bahia para novos projetos e promoções de luta, mas até hoje eu estou aguardando. Já me acostumei com isso. São promessas em cima de promessas e, cumprir que é bom, nada.

A atenção da mídia brasileira ao MMA prejudicou muito o boxe? Você acha que poderemos voltar a assistir uma luta em horário nobre, assim como acontecia na Era Maguila?
Ao meu ver, o boxe jamais perderá o espaço para o MMA. Sei que perdeu um pouco aqui no Brasil, por ser um esporte novo e que tem grandes ídolos como Anderson Silva, Minotauro, Minotouro e José Aldo. Por isso o boxe saiu um pouco de cena. Mas lá fora é totalmente diferente. Tem muito apoio e eventos.

Você pensa em morar fora do país? Se recebesse uma proposta para treinar no exterior, aceitaria?
Rapaz, eu até posso morar lá fora, pelo contrato que assinei (no boxe profissional). Porém, mesmo sabendo dos problemas que passamos no nosso país, como investimento e apoio, eu não penso em morar no exterior. Já vivi muito tempo longe da minha família e agora com esta nova carreira, eu penso em construir o meu nome e sair apenas para lutar; depois voltar.

Na luta final, contra o Francês Sofiane Oumiha, o público brasileiro fez um barulho assustador no ginásio de Deodoro. Competir em casa interfere muito na cabeça de quem está ali no ringue?
Lutar em casa para mim foi muito bom. Eu já tinha participado de duas Olimpíadas fora e senti o peso da torcida contra. Agora eu estava muito bem preparado, focado, e experiente. E com certeza foi um grande fator que me fez campeão olímpico.

Qual o seu maior sonho ou projeto de vida?
Hoje eu sonho em ser campeão mundial profissional e conseguir criar meus projetos sociais, com ou sem a ajuda do governo. Tenho certeza que vou fazê-los.

Treina quantas horas por dia nesta nova rotina?
Treino duas vezes por dia. De manhã, faço a parte técnica. À tarde, a parte física. Tem também a fisioterapia. Na verdade, dá quase três treinamentos por dia. É muito pesado.

Quando aposentar, pensa em ser treinador? Ou quer seguir uma vida fora do esporte?
Continuarei no esporte até a morte. Vou administrar e dar aulas nos projetos que eu penso em criar.

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