Surfistas fazem homenagem a ex-colega Ricardinho, morto há um ano

Estadão Conteúdo
20/01/2016 às 16:49.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:06

Os surfistas estavam a postos na Guarda do Embaú, balneário de Palhoça (a 53,6 km de Florianópolis), com menos de 400 habitantes, nesta quarta-feira. Antes do sol se pôr, fariam um círculo no mar. É um gesto para saudar Ricardo Dos Santos. Há um ano, às 13h10, seu coração parou. À noite, a comunidade rezará uma missa e colocará uma placa no centrinho em homenagem ao atleta, mundialmente conhecido como um dos melhores big rider, por encarar com maestria ondas gigantes e tubulares. Ricardinho foi vítima de três tiros, disparados pelo policial militar Luis Paulo Mota Brentano, no dia 19 de janeiro do ano passado.

Naquela manhã, ele e o tio Mauro acordaram cedo para restaurar o encanamento da casa do avô Nicolau. Trabalhavam quando o C4 prata estacionou em frente à obra. Eram dois no automóvel, estavam bêbados. O mais novo desceu do carro para urinar. O outro aumentou o som, pegou mais bebida, sentou no capô. Mauro viu o sobrinho se aproximar dos homens, três minutos de conversa. "Ele pediu para que saíssem, tinham muitas famílias e crianças ali, não era lugar pra zoeira. Mas, não teve discussão", disse o tio.

Os homens concordaram, entraram no carro. Mas antes de arrancar um deles disparou. Ricardinho estava de costas. Morreu um dia depois, no Hospital Regional, em São José, após quatro cirurgias que tentaram controlar hemorragias no baço, fígado, pâncreas e intestino.

Brentano foi expulso da PM no dia 17 de julho de 2015, após seis meses de trâmites do processo e dois recursos da defesa, ambos negados. Apesar de não fazer parte da corporação permanece detido no 8° Batalhão da PM, em Joinville, onde trabalhava, "para preservar sua integridade física".

Ainda não há data para o julgamento, mas já se sabe que será no Tribunal do Júri, que se diferencia por designar a sociedade, representada por sete jurados, o poder de decisão sobre o destino do réu. O ex-PM é acusado de homicídio triplamente qualificado, por motivo fútil, e embriaguez ao volante. Seu advogado Leandro Nunes entrou com recurso há sete dias para retirar a queixa por motivo fútil, que seria mais um agravante. Enquanto tramita esse recurso, não será marcada a data do Tribunal do Júri.

A mãe do Ricardinho, Luciane Dos Santos, disse que a prisão não trará alívio a sua dor. Mas, que deseja justiça para que outro inocente não seja assassinado pelo ex-soldado. Brentano já foi denunciado por muitos crimes, inclusive tortura. Em 2014, o Ministério Público pediu a cúpula da PM que ele trabalhasse no setor administrativo, longe das armas e das ruas. O pedido foi ignorado.

Ricardinho foi morto no auge da carreira. Desde 2008, participava da Liga Mundial de Surfe, mas a fama começou em 2012. Em Teahupoo, no Taiti, eliminou Kelly Slater - 11 vezes campeão mundial -, o australiano Taj Burrow e só caiu diante de Mick Fanning. Terminou na quinta posição, mas levou para casa o prêmio Andy Irons Forever, por ter feito a apresentação mais inspiradora.

No ano seguinte, foi o primeiro brasileiro premiado no Wave Of The Winter pela melhor onda surfada durante a temporada havaiana. Em 2015, foi selecionado entre centenas para competição de abril em Carcavelos, Portugal. Mas seu sonho era ser campeão do Pipeline Masters, a última etapa do Circuito Mundial. E de certa maneira foi. O campeão Adriano de Souza, o Mineirinho, ofereceu o título ao amigo.
http://www.estadao.com.br

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por