Talento importado do Japão, Stefannie Koyama é aposta do judô do Brasil para 2020

Estadão Conteúdo
17/04/2017 às 12:12.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:09

"Não falo muito bem português", adianta Stefannie Arissa Koyama, antes do início da entrevista ao Estado. A dificuldade da língua vem acompanhada de timidez na fala mansa da judoca, nascida no Japão. Mas no tatame a atleta do peso ligeiro (até 48kg) já mostra atitude: duas medalhas de ouro - Grand Slam de Baku e Grand Prix de Tbilisi - em três competições internacionais desde que passou a representar o judô brasileiro em 2017.

"Estou representando o Brasil, é uma responsabilidade, tenho de ganhar. Quero lutar a Olimpíada de 2020 e tenho de mostrar (resultados). Todas as competições são importantes para mim", afirma.

O próximo compromisso será em 28 de abril, quando disputará o Campeonato Pan-Americano de Judô, na Cidade do Panamá. E ela não esconde a ansiedade diante da chance de enfrentar a campeã olímpica Paula Pareto. Será a última competição antes de ir para casa, do outro lado do mundo. Em 2 de maio, Stefannie volta para Tóquio para cursar o último ano letivo da faculdade de Letras - habilitação japonês/inglês - na Universidade Teikyo.

Na capital japonesa, mora em um alojamento com mais 30 judocas e divide o quarto com uma colega. A rotina é intensa: acorda cedo, corre pela manhã, tem aula das 9h às 16h15 e não para de treinar até o relógio marcar 19h. Isso se repete diariamente. Conta com a ajuda de alguns professores para encarar a jornada dupla. Mas o dia a dia da atleta de 21 anos já foi mais calmo, Stefannie cresceu em Gunma, a cerca de 120 quilômetros de Tóquio, onde a família se instalou depois que mudou de vida.

O seu pai, Ricardo, deixou São Paulo para estudar no Japão durante um ano, retornou ao País e se casou com Sanlay (nascida em Santos); juntos imigraram para a terra do sol nascente. Atualmente, o pai trabalha em uma construtora e a mãe dá aulas de inglês. O irmão mais velho - inspiração de Stefannie no início da carreira no judô - e a caçula da família seguiram a paixão pela arquitetura. Só ela continuou no esporte. "De vez em quando eu ia no trabalho do meu pai, falava um pouco com alguns brasileiros", relembra a atleta. Em casa, ela tenta se comunicar em português para não esquecer as origens, apesar de constantemente misturar as duas línguas.

O coração batia mais forte ao pensar no Brasil. Assim, procurou a comissão técnica da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) durante o Grand Slam de Tóquio, em 2016, e foi aconselhada a disputar a seletiva nacional, em janeiro deste ano. A vitória na categoria até 48kg lhe deu uma vaga na equipe, e vínculo com o judô nacional ficou maior após o acerto com o Esporte Clube Pinheiros.

De férias da faculdade, Stefannie veio para São Paulo em fevereiro, instalou-se na casa do tio, na região do Paraíso, e tem vivenciado uma nova experiência. Tinha visitado o País quando era criança, mas tem poucas memórias das passagens anteriores. É apaixonada pela praia e pelo mar. Ainda que a capital paulista seja conhecida pelo ritmo frenético de seus moradores, a judoca tem uma visão diferente sobre a metrópole. "Sinto (um clima) mais tranquilo aqui, todo mundo é muito calmo. No Japão, todo mundo está correndo para o trabalho, é muito corrido", compara. Além disso, não vê semelhanças entre o bairro Liberdade - reduto de japoneses na cidade - e o Japão.

As diferenças também são notadas por ela quando o assunto é o judô. "As pessoas daqui têm mais força. Não estava acostumada a fazer força assim, agora estou aprendendo", diz. Ela destaca também que os orientais fazem quase o dobro de randori (luta de treinamento) que os brasileiros. Já a alimentação foi uma das tentações encontradas por Stefannie nas primeiras semanas no Brasil. Feijão e bolo de chocolate estão entre os seus favoritos. "A comida daqui é muito boa, eu comia bastante, mas agora estou conseguindo manter o peso", admite a atleta, que possui 50kg fora das competições.

O plano de Stefannie é mudar-se de vez para São Paulo quando terminar a faculdade. Enquanto isso, conta com a ajuda dos companheiros de clube, especialmente de Eduardo Yudi, que também nasceu no Japão, quando não entende alguma instrução durante os treinamentos. Nas competições, o auxílio tem partido de Sarah Menezes, que foi campeã olímpica em 2012 e subiu de categoria para o próximo ciclo olímpico pela dificuldade de se manter no peso. Em Baku, a piauiense, que foi sua companheira de quarto, deu dicas sobre as adversárias e a pupila parece ter assimilado bem.

O principal objetivo de Stefannie Koyama na temporada é estar entre os convocados para o Mundial de Budapeste, em agosto. Esse é um dos degraus necessários para a realização do sonho de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, onde reconhece que se sentirá em casa.


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