Tiro, porrada e bomba: impunidade é ‘incentivo’ para casos de violência no país do futebol

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
10/07/2017 às 19:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:29
 (LUCIANO BELFORD/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO)

(LUCIANO BELFORD/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO)

A diminuição da violência entre torcedores, um dos legados esperados quando o Brasil ganhou o direito de sediar a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e a Olimpíada – eventos realizados entre 2013 e 2016 –, infelizmente não passou de ilusão. Este ano, primeiro após o boom de competições, os números assustam e fazem a fantástica campanha do Corinthians, líder do Brasileirão com quase 90% de aproveitamento, ficar em segundo plano nos noticiários.

A cada clássico (regional ou nacional), confrontos entre integrantes de organizadas, todos eles com feridos e/ou mortos, escancaram a ineficiência no combate e, principalmente, na punição aos envolvidos.

De acordo com o sociólogo Maurício Murad, professor da Universidade Salgado de Oliveira (Universo), de 2014 a 2016, apenas 3% dos crimes relacionados ao universo do futebol foram punidos pela Justiça.

Com nove mortes confirmadas em 2017, o cenário no país da bola é cada dia mais assustador. “Estes marginais não respeitam nem as próprias torcidas e nem a polícia. A Justiça, por sua vez, deveria ir até as últimas consequências, mas infelizmente não é o que acontece”, comenta Murad, que estuda a violência no futebol há três décadas.

Apesar dos quase R$ 2 bilhões gastos em segurança para a Copa de 2014 – além dos investimentos na preparação de 150 mil agentes das Forças Armadas e de segurança pública – , o fim do vandalismo ainda não passa de mero sonho.

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De acordo com o sociólogo, uma das soluções preventivas seria uma parceria entre o poder público e as torcidas organizadas, envolvendo ídolos dos clubes, para deixar claro o recado da paz. Campanhas promocionais para levar de volta as famílias aos estádios também deveriam ser feitas, segundo ele.

“A maioria dos integrantes destas torcidas é de bem. Criar um Disk Denúncia também facilitaria e muito o processo de prevenção e identificação”, sugere o sociólogo. “A polícia precisa ser treinada. A presença dos policiais tem que ser ostensiva em dias de jogos para dar a devida segurança às pessoas de bem”, acrescenta.

Já para o Ministro do Esporte, Leonardo Picciani, que se mostra indignado com tal cenário, a violência nos estádios é intolerável. “Espero que o mais brevemente o poder judiciário aplique as penas da lei para esses marginais disfarçados de torcedores”, respondeu à reportagem do Hoje em Dia pelo Twitter.

Brutalidade

Outro fato observado por Murad é o aumento do grau de crueldade nos embates entre torcedores rivais. Foices, enxadas, espetos de churrasco, pedras e outras ferramentas se tornaram comuns nos registros de agressões envolvendo o cenário da bola.

Em 12 rodadas das Séries A e B do Brasileiro, vários casos de violência já foram registrados dentro dos estádios e nos entornos, com São Januário e Beira-Rio liderando este lamentável ranking. No Serra Dourada, no último 24 de junho, a imagem de um pai tentando deixar o campo de batalha que se transformou a geral do estádio, com o filho pequeno no colo, marcou o clássico Vila Nova 2 x 0 Goiás.

Cenário em Minas

Apesar de viver tempos de paz no entorno e dentro de Mineirão e Independência, Minas Gerais tem tido altos custos para diminuir os confrontos. Em dias de clássicos, cerca de 3 mil policiais são deslocados para fazer a segurança de atleticanos e cruzeirenses em vários pontos da capital.

 **** Maurício Murad é autor do livro "A violência no futebol: novas pesquisas, novas idéias, novas propostas". (Editora Saraiva)

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