Tríplice Coroa ainda emociona Aristizábal: 'Vai ser muito difícil montarem outra equipe igual'

Guilherme Guimarães
gguimaraes@hojeemdia.com.br
08/07/2016 às 23:40.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:13
 (Arquivo Hoje em Dia)

(Arquivo Hoje em Dia)

Um ano inesquecível, de uma das campanhas mais incríveis protagonizadas por um clube brasileiro. A temporada 2003 do Cruzeiro está marcada na vida de Aristizábal. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o ex-atacante fala sobre a amizade com um dos mais talentosos camisas 10 da história da Raposa, o respeito pelo clube celeste e os gols que marcou com o manto cinco estrelas, como o tento antológico batizado de “Matrix”.

Quando chegou ao Cruzeiro, você já tinha passado por outros clubes do país. Como foi sua adaptação no Brasil?

Eu cheguei ao Brasil em 1996, para jogar no São Paulo. Na época, era a minha segunda experiência internacional, já que, em 1994, eu havia passado pelo Valencia, da Espanha. Minha primeira impressão da cidade de São Paulo foi ótima, as pessoas foram muito receptivas comigo, os companheiros de clube também. Como havia chegado em uma das maiores cidades do mundo, me adaptar não foi fácil. Naquela época, achava o trânsito um fator complicador, já que sair de carro era muito difícil para mim, pois não conhecia os caminhos. Depois, tudo se resolveu, e eu me acostumei.

Antes de vestir a camisa do Cruzeiro, você atuou no Vitória, em 2002. Como aconteceu a negociação que o trouxe para Belo Horizonte?

Na época, o Vanderlei Luxemburgo (técnico) já me observava havia algum tempo. Como ele estava no Cruzeiro, procurou um empresário que tinha bom trânsito entre os clubes. Foi tudo muito rápido, e em janeiro de 2003 eu desembarquei em Belo Horizonte para viver os melhores dias da minha vida no Brasil. Foi inesquecível aquele tempo, e sempre fico feliz em recordar, conversar e contar um pouco dessa experiência.

Esse gol não sai da minha memória, foi um dos mais bonitos da minha carreira. De fato, foi um lance inusitado, e muitos brincam com essa história do filme Matrix. Sempre me lembro daquele lance. E melhor ainda por ter ajudado na conquista de um importante título para o Cruzeiro. Foi o gol mais marcante mesmo, pela beleza do gol"

Do que você sente mais saudade daquele tempo em que vestiu a camisa do Cruzeiro?

Sempre terei saudade daquele time campeão da Tríplice Coroa, pois passei o melhor ano da minha vida, no Brasil, em 2003. Vai ser difícil demais montar uma equipe igual àquela, que venceu tudo que disputou, Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro. Passa sempre um filme na cabeça, dos jogos, das histórias e da amizades que fiz com outros atletas. Sempre tenho saudade daquele meu tempo no Cruzeiro campeão.

O Alex é seu amigo pessoal e sempre faz elogios a você. Como é essa amizade entre vocês?

O Alex é meu parceiro, meu irmão. Nos falamos muito, estamos sempre em contato direto pelo telefone, e hoje temos ainda o auxílio do Whatsapp para conversar. Temos uma relação muito próxima e um carinho forte um pelo outro. Não tenho dúvidas em dizer que, com o Alex, construí uma das amizades mais bonitas no Brasil, graças àquele período fantástico no Cruzeiro. Com ele e com o Dodô (ex-atacante), com quem joguei no São Paulo, no fim dos anos 1990. Tenho uma forte amizade com os dois. São quase irmãos para mim, grandes companheiros que fiz em minha época de Brasil.

‘IRMÃO’ – Parceiro dentro de campo, Alex virou
um dos melhores amigos do colombiano

A torcida do Cruzeiro é conhecida por ser muito exigente. Você se considera um ídolo?

Os cruzeirenses sempre foram maravilhosos comigo, tivemos uma química rápida, e o meu relacionamento com os torcedores foi o melhor possível. Eles sempre foram muito bons para mim. Eu caí nas graças do torcedor do Cruzeiro. Por isso, sinto tanta saudade e aproveito para deixar um abraço aos cruzeirenses.

Você marcou um gol que todo torcedor do Cruzeiro se lembra muito bem, na final da Copa do Brasil de 2003, contra o Flamengo. Como explica aquela cabeçada ao estilo “Matrix”?

Esse gol não sai da memória, foi um dos mais bonitos da minha carreira. Sem dúvida, um dos melhores que já vi no futebol marcados de cabeça por qualquer jogador. De fato, foi um lance inusitado, e muitos brincam com essa história do filme Matrix. Eu acho engraçado e gosto da brincadeira. Sempre me lembro daquele lance. E melhor ainda por ter ajudado na conquista de um importante título. Foi o gol mais marcante mesmo, pela beleza do gol.

Você fez muitos gols de bicicleta na sua carreira, pelo São Paulo, no Coritiba, e também no próprio Cruzeiro. Podemos dizer que essa era uma das suas especialidades?

Nunca deixei de arriscar. Sou um apaixonado pelos lances de bicicleta e, por isso, eu sempre tentava esse tipo de lance nas partidas. Até hoje, quando assisto a um lance plástico desse, observo os movimentos dos jogadores. Sem contar que é uma jogada de extrema beleza. Quem não gosta de ver um golaço de bicicleta?

Ainda falando sobre gols, você ganhou dos torcedores o apelido de Aristigol. Você gosta de ser chamado assim?

Na Colômbia, todo mundo me chama assim, e adoro esse carinho da torcida. É importante ter esse reconhecimento. É a prova que fiz um bom trabalho ao longo da carreira. E, como era atacante, fazer gols era o meu papel. Por isso, eu gosto sim de ser chamado de Aristigol.

O seu compatriota Riascos ainda busca um espaço maior no atual elenco do Cruzeiro. O que acha que ele precisa para ter um sucesso parecido com o seu no clube?

Acho que o Riascos, para ter boa performance e se adaptar bem ao Cruzeiro, precisará se abrir com todos os companheiros, fazer amizades. Isso é imprescindível. Dessa forma, ele treinará bem, jogará bem, marcará gols e dará alegria ao torcedor cruzeirense.

Os jogadores estão saindo muito rápido para jogar em outros mercados, por causa do dinheiro. O atleta tem que ter sucesso no clube que o revelou, tem que ser ídolo da torcida. Não dá para jogar um ano e depois ir para a Europa. Hoje, são os empresários que mandam no futebol"

Você fez parte da seleção colombiana, e dentre os títulos que conquistou está o da Copa América de 2011. Nas duas últimas edições do torneio, o Chile foi o campeão. Na sua opinião, podemos dizer que a seleção chilena é a melhor do continente?

Sempre é importante ganhar títulos, ser campeão, seja por clubes ou seleções. Eu ganhei a Copa América em 2001, e fui artilheiro da competição pela Colômbia. Penso que a equipe que ganha sempre é a melhor, por isso o Chile é, sim, a melhor equipe do continente. Tem uma equipe de raça, um time muito bom. O jogo deles é construído em conjunto, e isso é extremamente importante, principalmente para os padrões atuais do futebol. Não tenha dúvidas de que, atualmente, o Chile é a melhor seleção das Américas.

Na sua opinião, porque o Brasil está deixando de ser protagonista na América do Sul?

Os jogadores estão saindo muito rápido para jogar na Europa, na Ásia, em outros mercados, por causa do dinheiro, das elevadas propostas que recebem do exterior. É preciso que haja uma maior valorização dos atletas, para que eles fiquem mais tempo nos clubes locais, e isso é trabalho dos dirigentes. O atleta tem que ter sucesso no clube que o revelou, tem que ser ídolo da torcida. Não dá para jogar um ano e depois ir para a Europa. Hoje, são os empresários que mandam no futebol.

Sobre a decisão de Lionel Messi em não jogar mais pela seleção da Argentina, o que você pensa disso?

Messi está certo, por tudo o que está acontecendo. Não é possível que o maior jogador do mundo seja tão criticado, que a torcida o critique e pegue no pé dele. Ninguém deixa ele em paz. Ele tem muita responsabilidade e não está sendo nada valorizado. Na minha opinião, é uma decisão acertada, e ele deveria se afastar da seleção mesmo. Ele sempre foi muito profissional, Eu estou com ele. Melhor não jogar na seleção, ficar apenas no Barcelona e deixar o resto para lá.

TRÍPLICE COROA – ‘Aristigol’ chegou em janeiro de 2003 e fez parte do elenco que fez história no clube

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por