Treinadores de vários países ajudaram a preparar a delegação verde e amarela

Rodrigo Gini
rmadeira@hojeemdia.com.br
01/08/2016 às 10:54.
Atualizado em 15/11/2021 às 20:05
 (Ricardo bufolin/cbg/divulgação)

(Ricardo bufolin/cbg/divulgação)

Eles falam português com sotaque carregado. Nasceram longe daqui e não dá para esperar que cantem o Hino Nacional antes das partidas ou nas premiações.

Mas, se o Brasil carrega a expectativa de terminar os Jogos do Rio entre os 10 primeiros no quadro de medalhas, com bom desempenho em modalidades até há pouco tempo ignoradas no país, o mérito será em grande parte deles. 

Graças ao trabalho dessa legião estrangeira, o país é olhado com respeito e inspira preocupação aos rivais na ginástica artística; soma títulos mundiais na canoagem de velocidade e no handebol, retomou força no basquete masculino e cresceu na luta olímpica e no polo aquático.

A estratégia de trazer treinadores de outros países para acelerar o desenvolvimento dos atletas não é nova e surtiu efeito mesmo na principal potência olímpica do planeta, os Estados Unidos. Ganhou força com a aprovação da Lei Piva de incentivo, que facilitou o intercâmbio e se tornou quase obrigação para diversas modalidades com a confirmação de que o Brasil receberia a Olimpíada.

Os pioneiros foram os ucranianos Oleg Ostapenko e Irina Ilyashenko, que se instalaram em 2001 no centro do treinamento da ginástica artística, em Curitiba, e lapidaram talentos como Daiane dos Santos; Diego Hypólito e sua irmã Danielle e Arthur Zanetti. Mais do que isso, abriram caminho para a renovação, implantaram métodos novos e qualificaram os colegas brasileiros. 

Dessa forma, conseguiram o que parecia impossível – em menos de duas décadas, um país que se contentava em colocar um atleta entre os finalistas olímpicos se tornou temido internacionalmente. No fim do ano passado, Oleg acabou deixando o projeto por problemas econômicos, mas merece o crédito pelo que promete ser a melhor campanha verde e amarela nos Jogos.

Situação não muito diferente da vivida pelo handebol feminino, que sempre teve jogadoras de talento, mas não conseguia formar times competitivos. Uma lacuna solucionada pelo dinamarquês Morten Soubak. O jeito de professor e o discurso normalmente tranquilo fizeram efeito e, em meio à incredulidade geral, o Brasil chegou ao título mundial de 2013. Seu colega do masculino, o espanhol Jordi Ribera, não conseguiu façanha semelhante, mas é inegável a evolução técnica do grupo.

Maior rival

No basquete, a insistência foi o segredo para o sucesso entre os homens. O primeiro escolhido foi o espanhol Moncho Monsalve que, entre 2008 e 2010, conseguiu a vaga para o Mundial da Turquia, mas não o fim do jejum de participações olímpicas.

A missão foi delegada a quem sabia bem o que era fazer bonito nos Jogos: Rubén Magnano, campeão olímpico com a Argentina em 2004. Ele deu sentido coletivo a um grupo recheado de atletas da NBA, levou o Brasil a Londres-2012 e nutre esperança de mais uma medalha para o currículo.

Não funcionou entre as mulheres, já que o espanhol Carlos Colinas, contratado em 2010, ficou menos de dois anos no cargo.

Filhos de outros solos a serviço do Brasil

Por muitos anos os brasileiros penaram em competições internacionais ao encarar chineses naturalizados dominicanos no tênis de mesa; quenianos com uniforme norte-americano ou do Catar no atletismo; cubanos com cidadania italiana no vôlei. 

E como em alguns casos não foi possível vencer o inimigo, o segredo foi se juntar a ele e importar mão de obra.

Uma prática antiga – Chiaki Ishii, dono da primeira medalha verde e amarela no judô (Munique-1972) nasceu no Japão –, mas que se tornou fundamental para aumentar as chances de bons resultados em casa e encorpar esportes de menor tradição.

Em alguns casos até há sangue brasileiro nas veias – casos da esgrimista Nathalie Moellhausen, nascida na Itália; assim como Paulo Salemi, do Polo Aquático; ou de outro atleta da modalidade, o espanhol Adriá Delgado.

Boa parte da lista, entretanto, é composta por nomes para quem apenas recentemente o Brasil passou a ter significado especial.

Eles não teriam a chance de disputar uma Olimpíada não fosse por uma nova camisa.

A chinesa Lin Gui era uma das centenas de jogadoras de tênis de mesa de potencial em seu país, até que surgiu o convite para atuar a dezenas de milhares de quilômetros de onde nasceu.

Sofreu com as diferenças culturais, dependia de um tradutor para se comunicar, mas ganhou a nacionalidade brasileira em 2012, depois de duas pratas no Pan de Toronto.

Hoje, perfeitamente adaptada, vive a expectativa de sua segunda Olimpíada.

No caso do Hóquei sobre Grama, não é exagero dizer que o Brasil só estará na disputa graças ao reforço estrangeiro, já que cinco dos 12 convocados vêm de outros países.

Na Luta Greco-Romana, o representante na categoria até 130kg vem de uma das potências da modalidade, a ex-república soviética da Armênia.

Eduard Soghomonyan trouxe na bagagem a experiência de uma carreira iniciada aos 12 anos, mas nem o retrospecto valeu a vaga automática.

Para competir no Rio, ele foi obrigado a superar a seletiva com Antoine Jaoude, que representou o Brasil em Londres. (RG)

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