‘Vamos buscar medalha no Rio’, confia técnico Rubén Magnano

Felippe Drummond Neto
Hoje em Dia - Belo Horizonte
21/12/2014 às 10:37.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:27
 (Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

(Carlos Rhienck/Hoje em Dia)

Medalha de ouro como técnico da Argentina na Olimpíada de Atenas 2004, Rubén Magnano chegou ao Brasil em janeiro de 2010 com a missão de resgatar a reputação da seleção brasileira de basquete. Desde então, o técnico argentino coleciona alguns méritos. Levou a equipe do Brasil de volta aos Jogos após 16 anos de ausência. O honroso quinto lugar em Londres 2012 ficou de bom tamanho. Neste ano, Magnano pensava em medalha no Mundial da Espanha, mas teve de contentar-se com o sexto lugar. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o treinador reitera que almeja conquistar uma medalha olímpica no Rio, em 2016, para concluir a restauração da imagem do país como uma das potências do basquete mundial.   A média de idade da seleção do Brasil no Mundial da Espanha era de 31 anos. Essa média alta preocupa você para a Olimpíada? O que me preocupa na verdade é se os jogadores vão chegar ao período de preparação saudáveis. A idade propriamente não é um problema, sabemos que os jogadores estão envelhecendo e, com isso, eles têm que se cuidar melhor para não sofrer lesões mais graves. Além disso, tem a preocupação de eles estarem jogando em seus times.   Quais os desafios que você e a seleção enfrentarão até o Rio em 2016? Para nos programarmos, primeiro precisamos saber se estaremos classificados para a Olimpíada ou não, e isso só deve acontecer em março. As únicas certezas que temos é que vamos disputar o Pan-americano (2015, no Canadá) e o Mundial universitário, na Coreia do Sul. Além disso, também vamos jogar o pré-olímpico mesmo se já tivermos a vaga garantida, pois é uma competição de alto nível e que vai ajudar a dar rodagem para os jogadores.   Durante o Mundial, os brasileiros voltaram a vibrar com o basquete. Como você vê isso? Não sabemos dimensionar quanta torcida tivemos. O que eu posso falar é que hoje, caminhando pelas ruas do Brasil, algumas pessoas me param na rua e falam “Voltamos a assistir basquete”. Isso é um orgulho muito grande pra mim, saber que ajudei a recuperar os torcedores do basquete brasileiro.    O que você acha dessa nova safra de jogadores brasileiros como Raulzinho, Bruno Caboclo e Lucas Bebe? Uma das coisas mais importantes é que nossos jogadores estejam em quadra jogando, e isso não tem acontecido com o Bruno e o Lucas, que quase não entram em quadra na NBA. Assisti aos minutos que eles jogaram, mas é muito pouco. Gostei, mas preciso que eles joguem para poder avaliá-los de verdade. Não adianta exportar vários jogadores para Europa e Estados Unidos para que eles não joguem.   Você sofre alguma pressão por ser argentino e dirigir a seleção brasileira? Nunca sofri com isso porque eu me foco apenas no meu trabalho. Não fico escutando as críticas sem fundamentos. Sei que essa rivalidade existe, mas não me incomoda, ela faz parte da sociedade   O que falta para o Brasil voltar a ser uma das grandes potências do basquete mundial? Hoje, o Brasil é uma seleção respeitada por todos. Infelizmente, ainda não conseguimos uma medalha Olímpica ou mundial, mas não estamos longe disso. Já reconquistamos o respeito de todos, mas para concluirmos esta afirmação falta esta medalha.   O que você pensa a respeito do recorde de jogadores brasileiros na NBA? São sete atletas este ano Essa é uma interrogação que eu tenho. Porque os jovens jogadores que estão chegando lá ainda não participaram de uma convocação e estão lá sem jogar. Então, não posso falar muito deles. Mas quando os jogadores vão para lá e jogam, tem muitos minutos em quadra, isso é muito bom para a seleção que poderá contar com eles em forma e com confiança.   Você acredita que o Raulzinho é o futuro do basquete brasileiro? Sem a menor dúvida. Ele chegou à seleção no Mundial da Turquia, com apenas 18 anos, e já está colhendo os frutos por isso. Ele é um garoto trabalhador, muito focado, e que sempre falou sim para a seleção. Acho que ele não é apenas um jogador para o futuro da seleção, mas um líder para a próxima geração. Da geração atual para a geração do Raulzinho, são mais de seis anos de diferença. Porque isso aconteceu e como isso dificulta seu trabalho   O Brasil viveu 20 anos sentado no passado de conquistas. Neste período não foi feito nada pensando no futuro do basquete e por isso não surgiram mais jogadores. Acredito que a história de títulos tem que ser tratada como um multiplicador de novas conquistas, dessa forma os jovens vão olhar para o esporte com orgulho e isso já é uma grande conquista.   Qual é a sua relação com a Federação Mineira de Basquete?  Felizmente, fiz alguns amigos aqui em Minas, quando morei em São Sebastião do Paraíso por oito meses para acompanhar o trabalho feito nas seleções de base. Mas eu só venho pra cá porque aqui o pessoal quer fazer basquete de verdade. Eu não sou apenas parceiro da FMB, como de qualquer Federação que me dê as condições para trabalhar o basquete, seja aqui, no Rio, em São Paulo, ou no Nordeste.   Você tem acompanhado o trabalho que o Demétrius faz no Minas? Claro. Ele está fazendo um trabalho muito legal mesclando alguns jogadores experientes com vários jovens, e isto tem dado frutos. Tanto que ocupa uma posição surpreendente na tabela.   Você sempre fala que no Brasil existem muito poucos clubes de basquete. Qual seria um numero ideal?  Não me preocupa que tenhamos apenas 20 clubes profissionais. Precisamos de uma liga de formação com mais clubes. Mas o mais importante é aumentarmos o número de clubes que trabalham com o basquete em todas as idades. Não sei quantos clubes no Brasil tem o basquete em sua grade esportiva, mas não passam de 500. Na Argentina, que é um país muito menor, tem 1.600. Aqui tem condição de superar este número, mas temos que trabalhar isso.   Como este grande número de times ajudaria? É muito simples isso. Se tivermos 1.600 clubes e cada um tiver 15 jogadores de uma certa idade, já são 24 mil jogadores daquela idade. Com isso, permite ter uma variedade muito grande para convocar uma seleção de base.    Você sente falta de um política de esporte nas escolas?  Sem a menor dúvida. Não apenas para o basquete seria benéfico, como também para todos os outros esportes. Mas já que isso não existe em âmbito nacional, as federações devem tomar a frente e criar uma forma de explorar este potencial. Aqui em Minas, por exemplo, o presidente da FMB Alvaro Cotta fez uma parceria muito boa com a Federação de Esporte Escolar de Minas Gerais (Feemg). A verdadeira matéria-prima está dentro da escola.   Como você vê o crescimento do NBB a cada ano? Nós temos que andar sem pressa, mas também sem parar. O NBB é como um filho, que os outros olham para ele e falam “como seu filho cresceu”. Mas como pai você o vê todos os dias e acha que está sempre do mesmo tamanho. Hoje, temos quatro equipes jogando a Copa América de clubes, o Flamengo foi campeão mundial de clubes, temos o campeão sul-americano, tudo isso são frutos do trabalho que tem sido feito no NBB.   Como fazer para as crianças, ao invés de jogar futebol e vôlei, optarem pelo basquete? Temos que continuar fazendo um trabalho sério, para que todos acreditem que jogar basquete dá futuro. Além disso, o NBB tem que se firmar ainda mais como um grande campeonato e fazer parcerias com as escolas para ter ainda mais impacto.   O que você achou da parceria do NBB com a NBA? Ainda não estou informado em quê consiste esta parceria. Mas só de a NBA estar de olho no Brasil e ter o interesse de fazer uma parceria com o NBB é algo muito grande.   Quais as chances de o Brasil conquistar uma medalha na Olimpíada do Rio? Temos ótimas perspectivas de conseguir brigar por uma medalha. Nossa obrigação é chegar entre as oito melhores seleções do mundo. Acredito que vamos fazer um ótimo trabalho para chegar lá realmente com chance de conquistar esta tão sonhada medalha.   Como você lida com as críticas do Oscar e de outros ex-jogadores? Faz parte do meu trabalho receber críticas, principalmente se elas vierem bem fundamentadas. Agora, se os dirigentes acharem que eu não tenho que permanecer, vou embora. As críticas do Oscar são um caso à parte. Até algum tempo atrás ele estava próximo da gente e gostava muito da forma como trabalhamos, mas eu entendo completamente sua mudança de opinião, desde que não falte respeito. Mas, mesmo assim, não mudo como trabalho pelo que os outros falam. Meu foco é na quadra e no trabalho que estou fazendo.   Como você avalia a participação do Brasil no Mundial da Espanha? A equipe estava bem, jogamos muito bem a fase de grupos e nos classificamos em segundo lugar da chave. Depois, ganhamos da Argentina, que era um carma para nós, mas acabamos perdendo para a Sérvia. Eu fiquei muito mal com aquele resultado, achava que não merecíamos perder aquela partida. Mas dentro de quadra não fizemos nada para evitar a derrota. Poderíamos ter disputado uma medalha.    Enfrentamos a Sérvia em um momento muito bom deles e eles mereceram a vitória. Temos que aprender com o que aconteceu no Mundial.    O que você pensa a respeito da Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB)? É melhor do que não termos nada voltado para a base. Mas não podemos admitir que uma liga de base tenham jogadores de 22 anos jogando, nessa idade eles já tem que estar sendo integrados ao time adulto. Temos que abaixar essa idade limite progressivamente, até chegar em uns 19 anos.

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