triste recorde

Covid pode ter contribuído para mortes por dengue no país em 2022, afirma Fiocruz

Da Redação
Portal@hojeemdia.com.br
17/01/2023 às 19:20.
Atualizado em 17/01/2023 às 20:38
 (WMP Brasil / Fiocruz)

(WMP Brasil / Fiocruz)

Um relatório divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz, nesta terça-feira (17), acende o alerta para o perigo da dengue.

Segundo a Fiocruz, com base no Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, o “Brasil chegou ao fim de 2022 com um triste recorde: 1.016 brasileiros morreram por dengue. É o maior número de óbitos pela doença já registrado desde o início do relatório.”

Em Belo Horizonte, os casos de dengue registraram crescimento significativos no ano passado. De acordo com a prefeitura da capital (12), o aumento foi de 13%, com 1.214 casos confirmados, com uma morte. Em 2021, foram 1.068 confirmações, sem nenhum óbito.

A explicação para a alta de alta de casos fatais no país, segundo a Fiocruz, geralmente associados ao diagnóstico tardio da doença, pode ter relação com o desvio das atenções para mitigação da urgência em saúde provocada pela Covid-19.

“Se observarmos os dados que antecedem a pandemia, percebemos que, durante aumentos dos casos de dengue, a quantidade de óbitos ainda permanecia em menor proporção, visto que os pacientes eram diagnosticados mais rapidamente e, consequentemente, tratados de forma adequada”, destaca Denise Valle, do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

As manifestações clínicas iniciais da dengue são comuns e podem ser confundidas com outras doenças, incluindo a Covid-19: febre, dores de cabeça e no corpo, mal-estar e fraqueza. A semelhança de sintomas pode ter confundido tanto a população quanto os profissionais de saúde. 

“A letalidade da dengue está associada à demora na identificação e no tratamento da doença. No último ano, ainda sob efeito da Covid-19, pacientes que estavam seguindo o isolamento social podem ter levado mais tempo para buscar assistência médica, e muitos podem ter recebido diagnóstico impreciso por conta da vigência de outra doença com sintomas parecidos”, comenta.

Por ser transmitida pelo Aedes aegypti (também vetor dos vírus chikungunya e zika), a dengue tem seu número de casos gerais diretamente influenciado pela quantidade de mosquitos.

A pesquisadora Rafaela Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC, lembra que nos últimos anos os cuidados de prevenção também ficaram em segundo plano.

“Diminuiu significativamente o número de campanhas de conscientização sobre o Aedes e, por isso, muitas pessoas esqueceram de vistoriar suas casas em busca de focos de água parada. Também, com o distanciamento social, agentes de endemias não estavam autorizados a visitar residências para ações de prevenção, fundamentais para relembrar moradores da importância de eliminar criadouros do mosquito”, ressalta.

Em 2022, foram registrados 1.450.270 de casos prováveis de dengue no Brasil. Outros números que chamam atenção são os de casos prováveis de chikungunya e zika.

Houve acréscimo de 78,9% na contagem de casos de chikungunya em 2022 quando comparada com a do mesmo período em 2021 – que já era maior em 32,7% que a do ano anterior. Nos casos de zika, o aumento foi de 42%.

“Esses números podem diminuir a partir deste ano com as dinâmicas da sociedade se assemelhando ao período pré-pandêmico. Porém, isso apenas acontecerá se também recuperarmos nossas ações de conscientização acerca do Aedes aegypti”, afirma Rafaela.

Conforme balanço apresentado pela prefeitura da capital na última quinta-feira (12), o mais preocupante em 2022 foi a chikungunya, que teve um salto de 103%,com 106 casos em 2022 contra 52 em 2021.

Campanhas de prevenção como principal ação 

Para impedir que o cenário de gravidade se repita em 2023, as pesquisadoras alertam para a importância de manter a regularidade nas campanhas de prevenção.

Conhecida da população brasileira, a campanha 10 Minutos Contra a Aedes – que há mais de uma década tem ajudado a direcionar os cuidados de prevenção – continua como a principal ferramenta para diminuir a incidência do mosquito.

“É uma campanha com mensagem simples e concreta, de fácil compreensão e execução. Desde 2009, quando foi lançada, ela tem sido nossa grande aliada para baixar drasticamente a infestação de mosquitos e, consequentemente, reduzir casos das doenças transmitidas por eles”, lembra Denise.

Mosquitos com a bactéria Wolbachia são soltos em BH (Adão de Souza/ PBH / Divulgação )

Mosquitos com a bactéria Wolbachia são soltos em BH (Adão de Souza/ PBH / Divulgação )

Método natural em BH: Wolbachia

Em BH, segundo a secretária municipal de Saúde, o enfrentamento das doenças transmitidas pelo aedes é feito em três frentes: a prevenção, a educação e a assistência à saúde. 

O destaque nas ações de prevenção,a neste ano, de acordo com a PBH, é a intensificação do método Wolbachia e o uso de tecnologias para driblar barreiras na prevenção. Os mosquitos Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia - um microrganismo intracelular que não pode ser transmitido para humanos ou animais - têm a capacidade reduzida de transmitir os vírus para as pessoas, diminuindo o risco de surtos de dengue, zika, chikungunya.

O método Wolbachia é natural, não coloca os ecossistemas em risco e é autossustentável. Nem os insetos nem a bactéria sofrem qualquer modificação genética.

O projeto é uma parceria da PBH com PBH com a Fundação Oswaldo Cruz, o Instituto de Pesquisas Renê Rachou (Fiocruz-Minas) e o World Mosquito Program (WMP) – iniciativa sem fins lucrativos que é mundialmente responsável pelo Método Wolbachia. O projeto também tem apoio do Ministério da Saúde.

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