Ônibus param após ataques na região de Venda Nova

Tatiana Lagôa, Malú Damázio e Vanessa Perroni
horizontes@hojeemdia.com.br
04/02/2017 às 19:57.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:42

Um fim de semana de medo nos bairros Minas Caixa e Serra Verde, em Venda Nova, na capital mineira. Após três ônibus serem incendiados em apenas 24 horas na região, nem mesmo linhas de coletivos circularam na área. Os moradores alegam que um toque de recolher teria sido imposto por criminosos do Aglomerado do Borel, mas a polícia nega. Na dúvida, ontem as ruas ficaram vazias. 

O último veículo a ser queimado foi o da linha 637 (Estação Vilarinho/ Canaã via Serra Verde), na noite de sexta-feira. O ataque foi na rua Julita Nunes Lima, em frente ao Colégio Tiradentes, no Minas Caixa. 

Depois desse atentado, as quatro linhas que atendem aos dois bairros (609, 637, 638 e 641) deixaram de circular e apenas uma (a 637) retornou no início da noite de ontem. Os moradores somente seriam atendidos até as 21h, com intervalos de uma hora entre as viagens, e os carros não rodaram dentro dos bairros. Segundo a BHTrans, a medida visa a segurança dos motoristas, trocadores e passageiros. 

“Imagine eu andar da avenida Vilarinho até o Serra Verde, quase meia-noite? A situação é muito tensa” (Vendedor, 44 anos, que não quis se identificar)

A previsão é a de que o coletivo esteja disponível hoje a partir das 8h, com o apoio da Polícia Militar (PM). A circulação das demais linhas ainda estava suspensa até o fechamento desta edição.

Para o diretor do Sindicato dos Rodoviários, Denilson Dorneles, a medida é necessária para manter a segurança dos profissionais. “Pedimos às empresas que não voltem a rodar enquanto não tivermos garantia de segurança. É melhor do que um motorista amanhecer queimado”, afirma.

Clima de medo

Na manhã de ontem, a reportagem percorreu as ruas dos bairros afetados pela ação dos criminoso e constatou o clima de tensão entre os moradores. Alguns disseram que o movimento de pessoas, inclusive, era bem menor que nos outros sábados.

Na rua Julita Nunes Lima, onde o terceiro ônibus foi atacado na região, apenas cinzas do veículo e muitos vizinhos atentos a todos que passavam por lá. Duas viaturas da PM ficaram posicionadas nas imediações, em entradas do Aglomerado do Borel.

Já os pontos de ônibus estavam vazios. Na rua Professora Gonçalves Terra, parada final das linhas 609 (Serra Verde-Santa Mônica) e 641 (Estação Vilarinho-Serra Verde), onde o primeiro ônibus foi queimado na manhã de sexta-feira, não havia coletivos e a guarita de motoristas e cobradores estava fechada.

Quem precisou do transporte coletivo teve que contar com a caridade de conhecidos ou andar até a MG-010 para pegar ônibus metropolitanos. “Nem fui trabalhar. Imagine eu, idosa, caminhar uns quatro quilômetros para pegar ônibus na rodovia? Moro há quase três décadas aqui e nunca vi algo parecido”, contou a salgadeira Maria Helena*, de 60 anos, moradora do Serra Verde.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) não se pronunciou.

Investigações

O incêndio ao ônibus 637 na noite de sexta-feira soma-se a outros seis registrados na capital mineira em apenas 18 dias. Em todo o ano passado foram oito ocorrências na cidade. Na última sexta-feira, o primeiro coletivo a ser atacado foi o 328 B, na região do Barreiro.

As investigações desses crimes seguem com a força-tarefa criada pela Polícia Civil, via Departamento de Operações Especiais (Deoesp), conforme o Hoje em Dia mostrou na edição de ontem. Segundo a corporação, nenhuma linha está sendo descartada nas apurações.

Em Venda Nova, uma das hipóteses para a onda de violência é retaliação em decorrência de ações da polícia contra o tráfico de drogas. Na última quinta-feira, um suspeito de envolvimento com o crime foi morto por um militar durante uma operação dentro do Aglomerado do Borel. Chefe da Sala de Imprensa da PM, major Flávio Santiago acredita que o último incêndio tenha ligação com a prisão de oito suspeitos de terem ateado fogo nos demais veículos.

Após os acontecimentos, traficantes teriam imposto um toque de recolher nos bairros Serra Verde, Minas Caixa e Jardim Europa. Apesar de negar que haja essa determinação dos criminosos, o major Santiago disse que a polícia manterá o efetivo reforçado no local. 

*Nome fictício a pedido dos entrevistados 

 

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