Acúmulo de rejeitos pressiona Barragem de Candonga, que está perto do limite

Alessandra Mendes
amfranca@hojeemdia.com.br
20/07/2016 às 19:15.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:23
 (Ibama/Divulgação)

(Ibama/Divulgação)

Medições feitas pelo Ibama na área da Usina Hidrelétrica Risoleta Neves (Candonga), a 100 km de Mariana, na região Central, mostram que o nível de rejeitos na estrutura está apenas um metro abaixo do limite de segurança da barragem. A situação acende o alerta para a possibilidade de outro rompimento, que causaria um desastre ainda maior. A preocupação aumenta com a proximidade do período chuvoso e com a previsão de que as obras para conter definitivamente os rejeitos que continuam saindo da barragem de Fundão só devem ficar prontas em março de 2017.

“Até que isso ocorra não podemos dizer que o evento foi controlado. Ainda estamos na fase emergencial oito meses depois do rompimento. O controle de rejeitos não estará pronto para esse período chuvoso, por isso, independentemente de acordos assinados, queremos ações emergenciais para minimizar esse vazamento”, afirma o superintendente do Ibama em Minas, Marcelo Belisário.

Com o início do período chuvoso, daqui a dois meses, a lama que ainda desce de Fundão e o material que está depositado ao longo do trecho de 120 quilômetros até Candonga podem causar o rompimento da barragem da hidrelétrica. 

“Já foi constatado que nas últimas chuvas a dinâmica de carreamento do rejeitos aumentou mais de seis metros o nível de material depositado na parede da hidrelétrica. No período de seca isso reduz. As obras, então, devem ser feitas antes do período chuvoso”, ressalta Belisário.

Na medição feita em dezembro de 2015, um mês após o rompimento de Fundão, o nível de rejeitos estava em 306 metros (em relação ao nível do mar) e passou para 312,4 metros em abril deste ano. Após ser notificado, o Consórcio Candonga, responsável pela usina, informou que o limite de segurança era 313,4.

Uma nova medição foi feita pelo Ibama no mês passado e o resultado deve sair na próxima semana. Para reduzir a pressão sobre a estrutura da hidrelétrica, foi estabelecida a dragagem dos rejeitos. Previsto para março, o trabalho só começou, de fato, em junho. O atraso vai impactar no cronograma de obras.

Todo esse prognóstico negativo motivou uma reunião entre ministros e o presidente interino Michel Temer na terça-feira, em Brasília. A União deve emitir uma recomendação para a Samarco, responsável por Fundão e Candonga, para que cumpra as medidas emergenciais. 

“O que chama a atenção é que quase nove meses após o rompimento tem que haver reunião entre ministros e presidente para tratar de um assunto cuja gravidade já é sabida há muito tempo. A própria União fez o acordo projetando prazos exorbitantes para retirada dos rejeitos. Isso trouxe como consequência a ineficácia das medidas tomadas pela Samarco”, critica o coordenador das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), Carlos Eduardo Ferreira Pinto.

Em nota, o Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) informou que a estrutura de Candonga “está sofrendo pressões pelo acúmulo de rejeitos, gerando risco potencial para estabilidade da barragem”. Após vistoria no dia 12 de julho, foi solicitada à Samarco uma série de documentações para verificar se as medidas adotadas estão em conformidade. Segundo o Sisema, as informações ainda não foram repassadas pela empresa.

Samarco atesta estabilidade da barragem mesmo com chuva

A Samarco descartou qualquer risco de colapso ou transbordamento da Usina de Candonga. Mesmo após receber cerca de 10 milhões de metros cúbicos de rejeitos de Fundão, a estabilidade da estrutura, segundo a empresa, estaria atestada. A dragagem dos rejeitos começou a ser feita em março deste ano, mas os trabalhos foram intensificados no mês passado. 

O coordenador das ações de dragagem de Candonga, Rodrigo Abreu, explica que o reservatório está vazio, já que as comportas foram abertas. “Então, tudo que chega sai. Não tem acúmulo nem de sedimentos nem de água. Todas as normas de segurança são atendidas. A estrutura não está em risco”, enfatizou.

Ele afirmou que foram feitos estudos levando em conta uma chuva muito intensa. “Mesmo nessa circunstância, em condições severas, está dentro dos padrões. Esses cálculos foram encaminhados ao Ibama”. A promessa da Samarco é de retirar 1,3 milhão/m3 de rejeitos até julho de 2017. O volume seria suficiente, inclusive, para garantir a volta da operação da usina.

(Com Renata Evangelista)

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