Falta de acessibilidade atrapalha alunos com deficiência na UFMG

Malú Damázio
mdamazio@hojeemdia.com.br
23/04/2018 às 20:39.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:29
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Exatos 173 estudantes com deficiência ingressaram em cursos de graduação da UFMG por meio das cotas, só no primeiro semestre deste ano. É o maior contingente da história da Federal, que já reunia, ano passado, 371 alunos e 140 servidores com alguma limitação física. Vencido o desafio da aprovação no curso superior, eles têm pela frente nova batalha: garantir o aprendizado em uma universidade com pouca acessibilidade. 

Calçadas e pontos de ônibus com buracos e elevações do passeio são alguns dos percalços enfrentados. Em prédios mais antigos faltam rampas, corrimão e barras de segurança nos elevadores. Por conta de uma sentença judicial, a universidade tem até agosto para apresentar projeto com as adequações a serem feitas. 

Porém, a UFMG alega não dispor de recursos para as obras e diz ter pedido ao Ministério da Educação (MEC) verba adicional de R$ 20 milhões em cinco anos. Já a União afirma que despesa com acessibilidade arquitetônica é custeada com o orçamento da instituição. Em 2018, a universidade tem autorizados R$ 17,4 milhões para gastos nesse sentido.

Problemas

Enquanto o impasse não é resolvido, alunos com deficiência enfrentam uma série de dificuldades. É o caso da estudante de nutrição Andressa Regina Marques, de 42 anos. Cadeirante, ela precisa ser auxiliada pelos colegas de classe para se locomover de um prédio a outro no campus da Pampulha. “Não conseguiria chegar a tempo para a aula se me deslocasse sozinha quando temos matérias em prédios diferentes”, diz a universitária, que não pega ônibus dentro da UFMG devido aos problemas dos passeios. 

Para a estudante de letras Juliana de Jesus Aquino Silva, de 32, almoçar no bandejão é a grande dificuldade. Com mobilidade reduzida devido a uma paralisia no lado esquerdo do corpo, ela se apoia em uma bengala para andar. “Um dos restaurantes tem uma rampa enorme, sem corrimão, bem inclinada, que dá direto para um barranco”, lamenta. Juliana ainda lembra os elevadores do prédio onde estuda estão velhos, dão “trancos” e não tem barras de apoio.

O calor em salas de aula sem ventilador e ar-condicionado da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) fez com que a bateria dos aparelhos auditivos do estudante Vinícius Valdo, de 20 anos, estragasse com o suor. “Tenho medo de o próprio aparelho pifar”.

Reformas

A decisão da Justiça estabelece à universidade destinar anualmente parte do orçamento para obras de acessibilidade. A instituição deve adequar o transporte local e os pontos de embarque e desembarque, realizar adaptações no sistema de aprendizagem virtual e fornecer materiais para acompanhamento das aulas por alunos com deficiências visual e auditiva.

Problemas que não devem ser resolvidos a curto prazo, afirma a reitora Sandra Goulart Almeida. Segundo ela, metade do orçamento destinado a obras e compra de equipamentos está contingenciado pela União. De 2015 a 2018 ela diz ter havido uma queda de 69% nos recursos para investimentos. “Como faremos se grande parte da verba que precisamos vem justamente dessa área?”.

A UFMG disse já ter enviado o projeto ao MEC; já a pasta garante que ainda não recebeu o documento

Apesar dos problemas ainda sem solução, acesso por meio de cotas é celebrado

Embora os estudantes com deficiência enfrentem uma UFMG pouco acessível, eles consideram as cotas uma importante medida para garantir a igualdade de oportunidades. “É um direito nosso estar nas universidades públicas, e essa iniciativa já deveria existir há muito tempo”, diz Juliana de Jesus Aquino Silva, de 32 anos. A universitária ingressou na Federal quando ainda não havia reserva de vagas para esse público.

Já Andressa Regina Marques, de 42, conseguiu o acesso ao curso de nutrição por meio das cotas. Para ela, foi a chance de estudar em uma instituição renomada e de se integrar ao ambiente acadêmico. “Muitas vezes, parece que o único destino das pessoas com deficiência é fazer cursos em casa. Fico muito feliz de vir aqui, fazer amigos, viver o dia a dia de uma universidade. É bom para nós”.

Desde 2015, o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), na UFMG, coordena ações que assegurem condições para que as pessoas com deficiência consigam usufruir plenamente do espaço universitário.

O órgão atende alunos de graduação, pós e servidores da instituição. O núcleo produz materiais didáticos em vários formatos, como braile, áudio e textos ampliados. Além disso, realiza tradução e vídeo em libras e tem intérpretes atuando nas salas de aula e em eventos.

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