Após susto em Istambul, votação da Pampulha como patrimônio mundial é retomada

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
16/07/2016 às 21:04.
Atualizado em 16/11/2021 às 04:20
 (Cristiano Machado)

(Cristiano Machado)

Após longa espera de duas décadas, deve sair neste domingo (17) a decisão se o conjunto moderno da Pampulha, em Belo Horizonte, será elevado a patrimônio cultural da humanidade. O anúncio estava previsto para ontem, mas foi adiado devido à tentativa de golpe militar na Turquia. Militares das Forças Armadas declararam lei marcial, obrigando toque de recolher com o intuito de tomar o poder no país. 

Em Istambul, maior cidade turca, acontece a 40ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco). Técnicos de 21 países discutem desde as 9h (3h no horário de Brasília), a Pampulha, única candidatura brasileira à chancela global.

Além do cartão-postal de BH, outros 28 sítios culturais – monumentos, imóveis, trechos urbanos e até ambientes naturais – do planeta pleiteiam o título. A expectativa pelo reconhecimento do conjunto moderno da capital é grande, principalmente devido ao parecer favorável dado pela Unesco, em maio deste ano.

Se o aval for decretado, a Pampulha passa a figurar em uma seleta lista que inclui apenas três mineiros: Ouro Preto e o santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na região Central do Estado, e Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. 

Confiante, a superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Minas, Célia Corsino, reforça que as cidades receberam grandes investimentos ao longo dos últimos anos, preservando os patrimônios tombados. 

“Muitas questões ainda precisam ser feitas no conjunto moderno da Pampulha, mas tudo está encaminhado”, afirma Célia, que está na cidade turca acompanhando o processo. Conforme ela, o principal desafio é reverter a descaracterização do Iate, processo que tem sido acompanhado pelo Ministério Público.

Susto

A reunião da Unesco em Istambul foi iniciada há uma semana. Pelo Brasil, representando a candidatura, além de Célia Corsino, estão a presidente do Iphan, Kátia Bogéa, o ministro da Cultura, Marcelo Calero, e a diretora do complexo da Pampulha, órgão vinculado à Fundação Municipal de Cultura, Luciana Rocha Féres.

Na noite da última sexta-feira, a comitiva brasileira foi pega de surpresa e impedida de deixar o hotel, aguardando os desdobramentos da tentativa de golpe militar. Todos passam bem e estão com presença confirmada na sessão deste domingo.

Nos últimos sete dias, o Hoje em Dia produziu série de reportagens sobre a busca belo-horizontina para se tornar patrimônio da humanidade. 

 Cristiano Machado / N/A

Na Igrejinha - "A Pampulha, com sua beleza ímpar, pode e deve ser usufruída por todos", afirma Leônidas Oliveira

 Reconhecimento favorece preservação e impede verticalização

Arquiteto e doutor em urbanismo e patrimônio histórico, Leônidas José de Oliveira assumiu a Fundação Municipal de Cultura (FMC) em 2012. Desde que fincou os pés na FMC abraçou como meta a busca do título de patrimônio cultural da humanidade para a Pampulha.

Nos bastidores da prefeitura, muitos servidores não medem palavras para afirmar que Leônidas “é o homem por traz da candidatura”. Segundo ele, a chancela da Unesco fortalece a legislação local evitando a verti-calização da área e resguardando o complexo arquitetônico e a lagoa. 

“É um encontro do cidadão com a nossa história, nossa memória e com a ousadia da mineiridade, tantas vezes, vanguarda no país, seja, na arte, na cultura e na política”, afirma o presidente da FMC.

Oliveira faz questão de lembrar que a Pampulha também foi um projeto político de JK, que “soube juntar os grandes modernistas do seu tempo, dar luz”. Integrar a seleta lista global, acrescenta ele, servirá de exemplo para as futuras gerações. 

“Como diz Gaudí – Antoni Gaudí (1852 - 1926), arquiteto catalão – para ser original basta voltar às origens, ou seja, ao que somos e nossas vanguardas da contemporaneidade. JK o fez bem”. Leônidas Oliveira concedeu breve entrevista sobre o assunto. Confira.

A Pampulha caminha pelo “sim” da Unesco?
Desde o início, mas com maior ênfase e mais próxima após a avaliação positiva do último parecer do Icomos (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), em maio deste ano. 

Por que ter essa chancela internacional?
Os lugares patrimônio da humanidade, como as pirâmides do Egito, a cidade de Ouro Preto ou o Parque Guell, em Barcelona, figuram em igualdade e importância para a história do planeta. Ou seja, os catálogos, livros e pesquisas terão também na Pampulha uma referencia para o mundo.

O que muda para a região?
Muda para nós participarmos desse contexto puxado pela ONU/Unesco. Fortalece o nosso sentido de pertencimento à cidade, ou seja, aumenta o apreço pela nossa memória. Muda o turismo que será potencializado com esse título, mais do que já é, uma vez que teremos a maior chancela existente no mundo com relação ao patrimônio histórico e a cultura de forma geral.

O que a população pode esperar?
Um aumento de turismo, de recursos diretos e indiretos. Com o título, isso será feito em maior instância para a cidade, para a população. A Pampulha, com sua beleza, lugar de deleite, pode e deve ser usufruída por todos.

Como fica se o aval da Unesco não ocorrer?
Reenviamos em dezembro deste ano um novo pedido de candidatura com as correções que a Unesco apontar.

 Cronologia dos sítios do patrimônio no Brasil:

1980 – Cidade Histórica de Ouro Preto (MG)
Casarões, igrejas, pontes e chafarizes são destaque.

1982 – Centro Histórico de Olinda (PE)
Localidade tem a história ligada à produção de açúcar.

1983 – Missões Jesuíticas Guarani, Ruínas de São Miguel (RS)
No coração dos Pampas. Tem vegetação típica do sul.

1985 – Centro Histórico de Salvador (BA) 
Primeira capital do país. Dentre os destaques, as casas de cores intensas.

1985 – Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos (MG)
Construído em Congonhas. Abriga esculturas de Aleijadinho.

1986 – Parque Nacional de Iguaçu (PR)
Uma das maiores e mais impressionantes quedas d’água do mundo.

1987 – O Plano Piloto de Brasília (DF)
Marco na história do planejamento urbano.

1991 – Parque Nacional Serra da Capivara (PI)
Numerosos abrigos rochosos com pinturas rupestres.

1997 – Centro Histórico de São Luiz do Maranhão (MA) 
Expressivos edifícios históricos foram conservados.

1999 – Mata Atlântica (SP e PR)
Preserva riqueza de vestígios da vegetação.

1999 – Costa do Descobrimento e Mata Atlântica (BA/ES) 
Oito áreas protegidas, que somam 112 mil hectares.

1999 – Centro Histórico da Cidade de Diamantina (MG) 
Cidade colonial de montanhas rochosas inóspitas.

2000 – Áreas da Amazônia Central (Região Norte)
Região rica em termos de biodiversidade.

2000 – Áreas Protegidas do Pantanal (MT/MS) 
Abundância e diversidade de vegetação e vida animal.

2001 – Chapada dos Veadeiros e Parque das Emas (GO)
Abrigam vários exemplares da fauna e da flora.

2001 – Fernando de Noronha e Atol das Rocas (RN)
Várias riquezas aquáticas.

2001 – Centro Histórico da Cidade de Goiás (GO)
Traçado urbano é exemplo de desenvolvimento orgânico.

2010 – Praça de São Francisco (SE)
Quadrilátero a céu aberto, cercado por construções antigas.

2012 – Paisagens cariocas entre a montanha e o mar (RJ)
Cenário urbano com vários elementos naturais.

  

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