Apesar do custo elevado, falta medicamento contra efeitos da influenza em BH

Renato Fonseca
rfonseca@hojeemdia.com.br
12/04/2016 às 19:39.
Atualizado em 16/11/2021 às 02:55
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Em meio à explosão das notificações de dengue e o pavor da zika, um antigo vírus volta a assombrar os mineiros: o da gripe H1N1. O temor de se tornar mais uma vítima da doença provocou uma corrida às clínicas e farmácias de Belo Horizonte. A procura por vacinas e medicamentos, no entanto, se transformou em dor de cabeça.

Quem busca a prevenção enfrenta longas filas nas unidades particulares onde há imunização disponível em estoque. Para os doentes, a situação é mais dramática, pois o medicamento Oseltamivir, de nome comercial Tamiflu, não tem sido encontrado nas drogarias. O consumo desenfreado do medicamento, no entanto, é criticado por especialistas.

O Hoje em Dia fez contato com oito farmácias da capital. Em apenas uma foi encontrada a caixa com dez comprimidos de 75mg do Tamiflu. E o preço é salgado: varia de R$ 220 a R$ 260. Em alguns estabelecimentos, é possível reservar o produto, mas a espera pode levar até dois dias.

A Secretaria de Estado de Saúde informa que a campanha de vacinação começa dia 30, e a antecipação ficará a cargo dos municípios; em 2016, sete pessoas morreram em Minas por complicações da doença

Morador do bairro Tupi, região Norte de BH, o analista de automação Isac Rodrigues Horta, de 33 anos, fez uma via sacra em busca do medicamento. Segundo ele, sete drogarias foram visitadas, sem sucesso. “Fiquei doente no final de semana. Fui a um hospital e o médico fez o diagnóstico de H1N1”.

Após várias tentativas, ele resolveu buscar socorro em um centro de saúde municipal. A primeira tentativa, na unidade do bairro onde mora, foi em vão. Ontem, Isac achou o Tamiflu no Centro Carlos Chagas, na região Leste.

Automedicação

O Tamiflu é vendido livremente nas farmácias, sem a necessidade de receita. Alguns funcionários relataram que muitas pessoas estão buscando o remédio indiscriminadamente. “Às vezes chega alguém com um simples resfriado e quer o medicamento. Tentamos orientar, mas eles acabam levando assim mesmo”.

O uso indiscriminado do remédio é criticado por especialistas. Professor titular da Faculdade de Medicina da UFMG, onde trabalha há 39 anos, o infectologista Manoel Otávio da Costa Rocha afirma que o Tamiflu é um inibidor que age apenas contra o vírus Influenza, e não é indicado para resfriados comuns. Além disso, segundo ele, o intervalo ideal entre o início dos sintomas e o tratamento é de 48 horas.

“Só deve ser usado com prescrição médica”, adverte. Mesmo alerta faz a coordenadora da residência de infectologia pediátrica da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), Andréa Lucchesi. “A receita deveria ser exigida”.

Ela reforça que a medicação deve ser preconizada para grupos de risco, formado por grávidas, crianças menores de 5 anos, idosos e alguns doentes crônicos. Delírios e alucinações podem ocorrer devido ao uso indiscriminado.

Estoque

Em apenas três meses deste ano, a quantidade de medicamentos para tratar os doentes da rede pública em Minas já é 15% maior, se comparada ao total distribuído em todo o ano passado. De janeiro a 29 de março, 45 mil caixas de Oseltamivir foram enviados ao Estado, informou, por meio de nota, o Ministério da Saúde. 

Em 2015, foram 39 mil unidades. No Brasil, foram entregues em 2015 mais de 445 mil. Em 2016, até o momento, foram destinados aos Estados 507 mil. Conforme a pasta federal, todos receberam estoques de medicamento para os casos suspeitos de influenza e devem oferecê-los em suas unidades de saúde.

Distribuição

A Secretaria de Estado de Saúde informou que a distribuição está regular nas unidades de Minas. Para retirar o medicamento nesses locais, é preciso apresentar uma receita médica simples. Não há necessidade de realização de teste laboratorial. 

Em Belo Horizonte, todas as 148 unidades básicas de saúde contam com o medicamento, informou a Secretaria Municipal de Saúde, por meio de nota. No entanto, segundo o órgão, pode ocorrer faltas pontuais devido ao aumento da demanda. 

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