Após denúncia, PBH nega implantação de banheiro unissex em Umei

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
17/08/2015 às 06:32.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:22
 (Ilustração Nelson Flores)

(Ilustração Nelson Flores)

Um episódio registrado na Unidade Municipal de Educação Infantil (Umei) Santa Branca, na região da Pampulha, reacendeu a discussão sobre a questão de gênero na capital. Em abril, um aluno de 4 anos fez xixi na roupa depois de sentir-se constrangido em utilizar um banheiro unissex.

Segundo o pai da criança, Diego Hernandez, na época, a alegação foi de que o sanitário compartilhado teria sido adotado em cumprimento a uma determinação da Prefeitura de Belo Horizonte, como tentativa de inserir a ideologia de gênero como uma das diretrizes do Plano Municipal de Educação – ainda não aprovado.

Cerca de um mês depois, no entanto, ao ser procurada por outros pais, a direção da Umei alegou que tudo não passava de um mal-entendido, e que as placas indicativas dos banheiros haviam sido retiradas apenas para manutenção.

“Alguns acham que falar de ideologia vai resolver a questão da equidade, mas isso ninguém está questionando. Acredito que se um adulto fizer opções diferentes, ele terá que ser respeitado. O que não pode é colocar uma série de conceitos na cabeça das crianças sem elas terem capacidade para discerni-los”, diz Hernandez.

Discordância

Rogério Rosa, pai de um aluno de 3 anos da mesma Umei, também discorda do posicionamento da instituição. Ele afirma que já vinha observando a ausência das placas nos banheiros há algum tempo e que elas só foram recolocadas depois da polêmica. “Colocaram provisórias, que continuam lá. Estamos atentos a essa movimentação, porque a preocupação é grande”, afirma.

Contraponto

Procurados, representantes da Umei Santa Branca disseram que não estão autorizados a comentar o assunto. De acordo com alguns pais, existe, inclusive, um aviso na sala dos professores proibindo o contato deles com a imprensa.

A Secretaria Municipal de Educação informou que nunca houve banheiros unissex na escola, exceto os do primeiro andar, que são usados por crianças de zero a 2 anos, que precisam de acompanhantes. “Não tem nada a ver com ideologia de gênero”, garantiu a assessoria da pasta.

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Educação da Rede Pública Municipal (SindRede), Wanderson Rocha, diz que a entidade também procurou a direção da Umei e recebeu a mesma justificativa passada aos pais.

Diferentemente deles, no entanto, o SindRede é favorável à abordagem da questão de gênero na educação infantil. “Não queremos interferir na educação familiar, mas também não podemos deixar de tratar desses temas na escola. Os professores buscam ampliar o conceito de família, não acabar com ele”.

Ações em sala de aula valorizam respeito e aprendizado equilibrado, diz prefeitura

A ideologia de gênero é uma negação do sexo biológico, conforme o técnico do Núcleo de Gênero e Diversidade Sexual da Secretaria de Educação de BH, Magner Miranda. De acordo com esse princípio, todos são seres humanos, sem distinção entre homens e mulheres.

“Trabalhamos com gênero na perspectiva de que existem estudantes meninos e meninas e de que há uma assimetria na aprendizagem deles, verificada por avaliações de ensino. Nossa preocupação é que ambos tenham um aprendizado equilibrado. É isso que entendemos como trabalho de gênero na educação. Desconhecemos a ideologia”, afirma.

A polêmica, no entanto, soou um alerta entre especialistas comportamentais. Para a psicóloga especialista em desenvolvimento de crianças e adolescentes Simone Lacerda, a questão está muito além do sexo. “Não temos que tirar as referências, mas, sim, dar a correta, que é a do respeito. O preconceito religioso, racial ou de gênero se dá pela falha moral. Não adianta criar um monte de leis para isso”, diz.

A favor

“Todos os espaços da escola são educativos e o banheiro, também. As crianças se interessam pelos corpos masculino e feminino, mas, até os 4 anos, esse momento não é atravessado pela sexualidade, e, sim, pela descoberta. Enquanto o olhar for de diferenciação da anatomia, não vejo problema nenhum elas compartilharem um banheiro. As questões de gênero podem ser trabalhadas nesse espaço, porém, têm que ser tratadas, sempre que oportuno, em outros locais também, como complementação. Os elementos presentes em torno das crianças é que vão caracterizando o modo como elas vão perceber o gênero e eles vão aparecer de qualquer jeito, mesmo que não seja no banheiro” (ALESSANDRA LATALISA DE SÁ - Coordenadora do curso de pedagogia da Universidade Fumec)

Contra

“É algo completamente aberrante, coisa de gente irresponsável, que não vai trazer respeito por nada, apenas prejuízo psicológico, como o que vemos em adultos que sofreram violência na infância. Isso desenvolve nas crianças dúvidas sobre a sexualidade. Nessa fase, tem que ser uma coisa simplória, pão é pão, queijo é queijo. Depois, quando forem maduras, elas vão entender e aceitar as diferenças que aparecem no decorrer da vida, mas não na tenra infância. Sem falar que dividir o banheiro poderá ser um estímulo à prática sexual. Tem pessoas que são mais sexualizadas do que outras, isso é natural, mas a medida vai acabar incentivando as crianças mais avançadinhas” (PAULO ROBERTO REPSOLD - Psiquiatra e diretor da Associação Médica de Minas Gerais)
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por