Após desassoreamento, córregos e ribeirões continuam a emporcalhar a Lagoa da Pampulha

Ricardo Rodrigues - Hoje em Dia
29/12/2015 às 06:52.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:29
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Enquanto córregos e ribeirões que deságuam na Lagoa da Pampulha continuarem a ser usados como depósito de lixo, de nada adiantará investir milhões na despoluição do reservatório. Mal terminou a etapa de desassoreamento, que custou mais de R$ 100 milhões, uma nata negra e malcheirosa impregnava as margens, nessa segunda-feira (28).

Acredita-se que o catalizador do problema tenha sido o temporal de sábado. Animais mortos, brinquedos, garrafas plásticas e até a carcaça de uma televisão foram parar no local, trazidos pela forte enxurrada dos córregos. Cenário incondizente com o berço do conjunto arquitetônico candidato a Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

No período chuvoso, a contaminação da lagoa aumenta. Segundo a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), o acréscimo no volume de resíduos sólidos é de 30%. Em média, a superintendência retira seis toneladas de lixo domiciliar do espelho d’água por dia.

Servidores da SLU que trabalhavam na limpeza do local disseram que o despejo de lixo na lagoa é comum depois de chuvas torrenciais. Para especialistas, a orla sofre com a falta de educação dos moradores de Belo Horizonte e de Contagem, que ainda destinam o lixo de forma incorreta nos oito ribeirões que deságuam na lagoa.

Professor de geografia do Uni-BH e estudioso da bacia da Pampulha, Rodrigo Lemos afirma ser fundamental evitar a degradação dos córregos ainda em boas condições ou com nascentes pouco impactadas.

“Também é preciso que intervenções nos ribeirões sigam parâmetros legais e normativos válidos em Minas, de forma a não continuar as ações de canalização e retificação dos cursos d’água, tendo como referencial a diminuição do aporte de sedimentos para a lagoa”, afirma Lemos.

Insuficiência

O pesquisador Hiram Sartori, especialista em resíduos sólidos e professor do curso de engenharia civil da PUC Minas, explica que o lixo pode estar sendo trazido pelos córregos, sujeitos a um maior índice pluviométrico. Como no final do ano altera o fluxo de turistas na orla, lembra ele, pode ocorrer que as cestas de lixo não estejam disponíveis em número suficiente.

Sartori destaca também a falta de educação ambiental da população e a negligência dos gestores. “O nível de abandono dos equipamentos públicos é reflexo de uma administração pública pouco eficiente”.

Para ilustrar o que diz, o especialista cita a “teoria da janela quebrada”, experimento feito na periferia de Nova York, nos EUA.

Um carro seminovo foi deixado na rua, com o vidro de uma das janelas quebrado. Em menos de duas horas, foi depredado: rádio, pneus, volante, tudo foi retirado. Repetiram a experiência em bairro nobre, o que deflagrou o mesmo processo ocorrido na periferia. Aos poucos, o carro foi depredado.

Moral da história? “O lixo na orla está ligado ao abandono em que se encontra a lagoa. A falta de cuidado com a cidade é parte do problema. O indivíduo não percebe o cuidado que gostaria de ver nos equipamentos públicos, como praças e parques. Se ele vê lixo no chão, também vai jogar”, conclui Sartori.

Ele emenda que “a prefeitura de Nova York diminuiu a criminalidade à medida que passou a cuidar da cidade”.

Manutenção do espelho d’água tem demandado esforços permanentes de BH e Contagem

Responsável pela limpeza do espelho d’água, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) esclareceu que a etapa atual da despoluição da Pampulha não prevê desassoreamento e retirada de sedimentos.

A dragagem da lagoa foi concluída em outubro de 2014, com a retirada de 847 mil metros cúbicos de sedimentos, carreados ao longo dos anos pelos afluentes da bacia, composta pelos córregos Mergulhão, Tijuco, Ressaca, Sarandi, Água Funda, Braúna, Olhos D’água e AABB.

A iniciativa custou R$ 108 milhões à Prefeitura de Belo Horizonte e teve como objetivo viabilizar a retirada de parte do passivo de assoreamento da Lagoa da Pampulha, buscando resgatar a qualidade ambiental da lagoa e garantir a capacidade de amortecimento das ondas de cheias, bem como de processos de inundação da região e a jusante da represa.

Cidade vizinha

Já a Prefeitura de Contagem informou que a limpeza dos córregos que integram a bacia hidrográfica da Pampulha é feita periodicamente, incluindo a capina das margens.

Em dezembro, em parceria com a capital, Contagem assinou protocolo de intenções para a preservação das nascentes da bacia da Pampulha. Em parceria com a comunidade, será intensificado o trabalho de preservação na região.

Queima de fogos

Como o Réveillon é a principal festa comemorada na orla, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) terá 80 homens (sendo 70 garis), quatro caminhões-báscula e um caminhão-pipa empenhados na limpeza, nos dias 31 de dezembro e 1º de janeiro.

Além disso, conclui amanhã os serviços de capina, roçada e raspação nos 18 quilômetros da orla. O trabalho iniciou no dia do aniversário de Belo Horizonte, 12 dezembro, e deixará a lagoa pronta para receber o público que vai comemorar a entrada do Ano Novo.

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