Artista italiano Agostino Iacurci aceita convite do Instituto Mário Penna e deixa sua marca em BH

Pedro Artur e Patrícia Cassese - Hoje em Dia
03/03/2014 às 07:52.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:24
 (Samuel Costa/Hoje em Dia)

(Samuel Costa/Hoje em Dia)

Apontada – e não sem exagero – como um museu a céu aberto, a Itália ganhou, no curso da história, a reverência mundial quando o assunto em pauta é a arte. Gênios como Giotto, Da Vinci, Michelangelo, Tiziano, Raffaelo e outros não menos dignos de nota nasceram na “bota”. Mas como a roda do tempo não para, a arte contemporânea também marca presença. E o escaninho do grafite, claro, flerta com a atualidade sem agredir o passado.

A arte das ruas made in Italy traz à tona nomes como o de Agostino Iacurci, que, apesar da pouca idade – tem 27 anos – já ostenta um currículo de respeito, com trabalhos assinados em vários países. O mais recente (recentíssimo), o Brasil. E foi a capital mineira a primeira cidade a receber um dos grandes murais assinados por ele. A cereja do bolo foi o fato de que, não bastasse o lado artístico, a vinda de Iacurci inseriu-se num projeto de boas intenções: a pintura marcou o início da campanha do Instituto Mário Pena de arrecadar fundos para projeto que, se bem-sucedido, resultará em 80 novos leitos hospitalares, dez leitos de CTI, salas cirúrgicas, áreas de apoio e serviços de diagnóstico para o tratamento do câncer.

Um objetivo que, claro, comoveu o artista. “Este é, sem dúvida, um trabalho muito particular, porque fui convidado a pintar um mural em um hospital oncológico, dentro da ação de lançamento da campanha. E, claro, espero dar a minha contribuição, tanto para lançar bem essa iniciativa quanto para modificar a rotina deste lugar – ao menos por alguns dias”, diz, modesto.

A reportagem do Hoje em Dia acompanhou alguns momentos do ragazzo na Av. Churchill, onde Agostino se instalou após passar por uma imersão no complexo que acolhe pacientes e acompanhantes que vêm do interior de Minas Gerais para tratamento nessas unidades hospitalares – além do IMP, o Hospital Luxemburgo e a Casa de Apoio Beatriz Ferraz. Para se proteger do sol forte, o jovem tratou de colocar em cena um chapéu de palha. Bermuda e t-shirt de algodão também foram adotadas.
 
Talento espraiado em vários suportes
 
Agostino Iacurci nasceu na província italiana de Foggia, na região da Puglia, em 1986, mas já há alguns anos transferiu-se para a capital Roma, onde estudou ilustração e animação na Officina B5 — Academia de Belas Artes de Roma. Além dos murais que passou a produzir desde 2008, seu trabalho é variado e envolve ilustrações, gravuras e cenografia.
 
Admirador de Herbert Baglione e d’OsGemeos
 
Embora seja a primeira visita de Agostino Iacurci ao “país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza”, o italiano já é um admirador confesso de alguns “nativos” que labutam na mesma seara pela qual marcou um x, o grafite.

“Conheço vários artistas brasileiros, alguns pessoalmente, outros de nome. Seguramente, citaria OsGemeos (os irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, paulistanos), conhece-os e os admiro muito, e tem ainda um outro rapaz de São Paulo, cujo trabalho também aprecio bastante, e que tive oportunidade de conhecer, o Herbert Baglione”.
Cumpre dizer, aliás, que uma coincidência permeia a trajetória de ambos. Herbert também cruzou o Atlântico, no caso fazendo o caminho inverso do colega: rumo a Parma, na Itália, e também para desenvolver um trabalho num estabelecimento ligado à área da saúde, ainda que bastante distinto.


Por lá, o brasileiro fez uma etapa de seu projeto “1000 Shadows” em um hospital psiquiátrico abandonado – no caso, pintando silhuetas em paredes e no chão.
Como ilustrador, Iacurci colabora com editoras locais e internacionais, agências de publicidade, revistas e estúdios de animação. Seus trabalhos têm sido apresentados em exposições e festivais em países europeus, no Japão, Coreia do Sul, Rússia, Taiwan e Estados Unidos. Nesta passagem pelo Brasil, o moço inclui, em seu roteiro, além da capital mineira, as capitais Rio de Janeiro e São Paulo. “Vou dar prosseguimento ao meu tour e continuar a pintar”, promete.


Instado a falar sobre as impressões que colheu em sua rápida passagem por BH, disse: “Estou aqui há poucos dias (quando a entrevista foi feita), menos de uma semana, mas tive a oportunidade de visitar um pouco a cidade. Me pareceu muito diferente do que esperava do Brasil, achei Belo Horizonte uma cidade muito contemporânea, super viva e também dotada de uma natureza inacreditável”.
 
Convite para campanha veio a partir da internet
 
Agostino conta que a administração do Instituto Mário Penna chegou ao seu nome através da internet. “Através de blogs, de alguns brasileiros que escreviam comentários sobre o meu trabalho”, completa, com certa timidez – e fala rápida.
Ele revela, ainda, que, no curso de sua trajetória, sempre teve uma atenção particular ao espaço público – motivo pelo qual os seus traços podem ser vistos em fachadas ou muros de várias cidades.


“Uma coisa foi levando a outra”, diz, sobre o fato de convites terem se sucedido ao longo dos anos. Há cerca de dois anos, por exemplo, Agostino foi convidado a pintar um grande mural, marcando o lançamento da nova sede da Fine Art Academy of Rome.


Ainda em 2012, participou do Bien Urbain Festival, no qual trabalhou em um mural para três edifícios, para o Campus de Besançon, na França.
Criou, ainda, um mural de mais de 300 metros para a Saba School, na Argélia e, junto a presos, dois murais de grandes proporções para a prisão de segurança máxima de Rebbibia, em Roma – conhecida por ter servido de locação para o filme “César Deve Morrer” (2013), dos Irmãos Paolo e Vittorio Taviani. Nele, os presos foram os atores da encenação de “Julio César”, de Shakespeare. Voltando a Agostino, uma boa amostra do trabalho do artista pode ser vista no site www.agostinoiacurci.com E em tempo: na rápida passagem pela capital mineira, Agostino Iacurci encontrou tempo para visitar mostras de arte contemporânea. E frisou ter gostado muito do que viu.  

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