As várias maneiras de enxergar a morte

Renato Fonseca - Hoje em Dia
02/11/2014 às 08:01.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:52
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

Nos túmulos, pétalas de rosas e arranjos com variadas flores. Nas mãos, terços para guiar as orações e, não raro, lenços para enxugar as lágrimas. Em uma demonstração de fé, milhares de pessoas lotarão, hoje, cemitérios dos quatro cantos do país. O motivo, celebrar o Dia de Finados. A secular tradição católica foi criada para que familiares e amigos prestem homenagens à memória de parentes e amigos falecidos.

Apesar de a data integrar, oficialmente, apenas o calendário cristão, o dia também é lembrado por outros religiosos no sentido de aliviar a dor e fortalecer as esperanças dos familiares. Cada doutrina encara a morte a seu modo, e são muitas as peculiaridades.

As diferenças vão desde a preparação do cadáver aos rituais após o enterro. Algumas crenças evitam a cremação e outras são terminantemente contra as cinzas, como o judaísmo. Pela teoria, após a morte, são feitas rezas a cada aniversário do falecimento, durante exatos 11 meses, pelos parentes de primeiro grau.

A visão espírita kardecista, por sua vez, vê a reencarnação como processo de evolução. Os adeptos da doutrina creem que os seres humanos são espíritos reencarnados para evoluir.
 
Islamismo
 
O enterro é imediato e sem direito ao tradicional velório. O corpo precisa ser lavado pelo menos três vezes, com água e sabão. As partes íntimas são preservadas em sinal de respeito. O banho só pode ser feito por pessoas do mesmo sexo. “Homem com homem e mulher com mulher”, aponta o sheik Mokhtar el Khal, responsável pela única mesquita em Minas, no bairro Mangabeiras, na capital. Em seguida, o cadáver é envolto com panos brancos e levado para ser sepultado, diretamente na terra. “Os muçulmanos tradicionais não usam caixão”, acrescenta.
Ao morrer, a alma fica aguardando  o dia da ressurreição do criador, no caso, Alá.
 
Judaísmo
 
No dia do enterro, o corpo é levado para um local sagrado próprio. Em Belo Horizonte, o cemitério israelita fica no bairro Jaraguá, na Pampulha. Pedras são colocadas por cima do túmulo, como forma de eternizar a vida naquele local. Em seguida, a família fortalece os laços de união e são necessários sete dias de recolhimento, em casa, além de 11 meses de orações a cada aniversário de morte. As rezas são feitas em aramaico. “O judaísmo possibilita múltiplas interpretações, mas a maioria crê na sobrevivência da alma”, destaca o rabino ortodoxo Israel Katri. Ele e a família mantêm uma sinagoga no bairro Funcionários, região Centro-Sul de BH.
 
Espiritismo
 
“O ser humano é imortal. São necessárias várias vidas para aprender e corrigir os erros”. A afirmação do juiz de direito, palestrante e escritor de dois livros sobre a doutrina, Haroldo Dutra Dias, resume a crença na reencarnação. Para o espiritismo, quem pratica o bem evolui rapidamente dentro desse conceito de
plano espiritual.
 
Hinduísmo
 
A transmigração é o mote do hinduísmo. Os praticantes acreditam que, logo após a morte, a alma da pessoa passa para outro ser vivo , seja humano, animal ou mesmo uma planta. “Antes, porém, é preciso cremar o corpo do falecido”, explica a mineira Talitha de Magalhães Ferreira, que há mais de 30 anos é hinduísta. Segundo ela, os hindus têm crenças distintas, mas todas baseadas na ideia de um ciclo, formado por nascimento, morte e renascimento.
 
Catolicismo
 
Céu, inferno e purgatório. Palavras conhecidas pelos católicos praticantes. Esses fiéis acreditam que há vida após a morte, mas o destino de cada um depende de seus atos na Terra. “Todos serão julgados. As almas boas vão para o céu, em busca da salvação. Outras terão a chance de ser purificadas no purgatório. E há os que irão para a perdição”, explica o padre Renato Alves de Oliveira, doutor em teologia pela Universidade
Gregoriana de Roma.
 
Evangélicos

 
De uma maneira geral, os evangélicos creem na mesma doutrina católica, do julgamento, possível condenação da alma e, por fim, a ressurreição. A principal diferença, na vida após a morte, é a inexistência de um purgatório. “O Dia de Finados não faz parte do nosso calendário. Ele é encarado como um feriado”, disse o pastor Cássio Miranda, que atua há mais de 20 anos na área.
 
Pelo mundo
 
Uma das principais curiosidades no que diz respeito ao Dia de Finados vem do México. Lá, a data é vista como uma das maiores festas populares do país. Multidões tomam as ruas, todos os anos, para prestar homenagens a amigos e parentes mortos. O principal símbolo do evento é a “La Santa Muerte” (Santa Morte, em português). Conhecida como protetora dos homens, é usada na veneração dos túmulos durante o Finados.

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