Assassinatos avançam em municípios pequenos por causa da migração de criminosos

Ernesto Braga
eleal@hojeemdia.com.br
26/11/2016 às 19:02.
Atualizado em 15/11/2021 às 21:49

Dez pessoas são assassinadas por dia em Minas. As estatísticas apontam ligeira queda do número de homicídios na capital. Porém, mostram que a violência está tirando o sossego dos moradores de pequenas cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e do interior. Um dos motivos do avanço da criminalidade em municípios de menor porte, segundo a polícia, é a migração de criminosos, inclusive de outros estados.

Dos 3.308 assassinatos registrados em Minas de janeiro a outubro deste ano, 460 foram na capital, 4,9% menos que no mesmo período de 2015. Mas, a apenas 60 quilômetros de distância, Jaboticatubas teve um avanço de 100% dos homicídios, o maior índice entre os 34 municípios da RMBH.

Em agosto, o corpo de uma senhora de 62 anos foi encontrado na zona rural de Jaboticatubas. A investigação levou à prisão de dois acusados: um de Marabá, no Pará, e outro de Potengi, no Ceará. Segundo o delegado Rafael Salim, eles cometeram o assassinato por acreditar que a vítima era uma delatora de ações criminosas no local.

“Jaboticatubas fica próxima a cidades importantes como BH, Santa Luzia e Vespasiano e há uma migração natural de criminosos para cá. O distrito de São José de Almeida é cheio de loteamentos irregulares, propício para o esconderijo de marginais. Há conflitos na disputa por terra e acertos relacionados ao tráfico de drogas, tudo isso somado à desvalorização da vida”, aponta o delegado.Flávio Tavares
SÃO JOSÉ DE ALMEIDA – Mauro Onofre reclama da violência no distrito de Jaboticatubas

Medo
Morador do distrito, o funcionário público aposentado Mauro Onofre dos Santos, de 62 anos, reclama. “Aqui está violento demais. Além dos homicídios, tem muito assalto a casas, comércio e condomínios”.

Efigênia da Silva, de 68, mora em Capão Grosso, na área rural do município. “Já entraram duas vezes na minha casa para roubar. Felizmente, não tinha ninguém. Meu medo é que nos matem”, diz. 

José Vieira, de 77, morador da localidade Casa de Telha, também tem medo da violência. “Quem mora na roça não está vivendo em paz”, afirma.

Disputa
Apenas 41 quilômetros separam Jaboticatubas de Baldim, uma das três cidades da RMBH sem registro de homicídio de janeiro a outubro deste ano (as outras são Itaguara e Nova União). A última ocorrência desta natureza no município foi em agosto de 2015.

“Três traficantes foram executados na comunidade de São Vicente em um acerto de contas. Os criminosos eram de fora de Minas”, ressalta o tenente Marcelo Luiz Arthuzo, comandante do Pelotão da Polícia Militar em Baldim.

Na avaliação do oficial, com cerca de 20 mil habitantes, Jaboticatubas fica mais vulnerável à violência por ter mais que o dobro da população de Baldim (quase 9 mil). “O clamor maior aqui é em relação aos roubos em residências e no comércio”, diz. Reflexo, de acordo com o tenente, da proximidade (45 quilômetros) com Sete Lagoas, na região Central.

Antônio Alves da Silva, de 73, trabalhou até 2014 como taxista em Baldim. “Aqui todo mundo se conhece e se respeita, mas o que vem de fora a gente não sabe. Antes, o carro podia ficar aberto na rua com a chave dentro, agora não dá mais. O que tem tirado muito a nossa paz são as explosões de caixas eletrônicos”, lamenta.

Violência
Entre as cidades mineiras que fecharam 2015 sem homicídios, Matipó tem o pior índice. Dez pessoas foram assassinadas de janeiro a outubro deste ano no município da Zona da Mata.

Policiamento precário aumenta vulnerabilidade no interior

A falta de estrutura das forças policiais e a ausência de programas de prevenção deixam os municípios de menor porte sujeitos ao avanço da criminalidade. A avaliação é do especialista em segurança pública Islande Batista.

“São municípios com destacamento policial pequeno, desprovido de contingente, que não consegue dar uma resposta adequada”, destaca o delegado aposentado da Polícia Civil.

Em Jaboticatubas, onde a quantidade de homicídios cresceu 100% neste ano, a delegacia conta com sete servidores. Os policiais civis também atendem o município de Santana do Riacho, na região Central, que fica a 67 quilômetros.

Livre dos assassinatos, Baldim foi atacada duas vezes em 2016 por assaltantes que explodiram caixas eletrônicos. Doze militares trabalham para conter a ação de marginais na cidade. “No feriado de 15 de novembro, uma viatura quebrou o rolamento da roda. Para não ficarmos com ela parada, pedi apoio da comunidade para consertá-la”, disse o tenente Marcelo Luiz Arthuzo, comandante do destacamento.
 

Fica Vivo!
Por causa do pequeno efetivo policial, uma simples discussão na praça pode desencadear um homicídio. “O que não ocorreria se tivesse a presença do policial. Isso também é uma forma de prevenção. Infelizmente, programas como o Fica Vivo!, que tirava adolescentes da mira da criminalidade, não funcionam como antes. Em 2003 e 2004, quando eu era delegado em Santa Luzia, a cidade era a quarta mais violenta de Minas. O Fica Vivo! foi muito importante para reverter esse quadro”, afirma Batista.

Entre as cidades mineiras mais populosas, Santa Luzia tem a nona maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes (20,2). Betim aparece no topo da lista (41,9) e BH é a 12ª (18,3).

‘Tendência de queda’
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) informou que as estatísticas de homicídios, em Minas, estão em tendência de queda desde 2015. “O acumulado de janeiro a outubro deste ano mostra diminuição de 3% na região metropolitana, 1,2% no Estado e estabilidade em Belo Horizonte, em relação ao mesmo período do ano passado”, diz nota enviada. Conforme o órgão, 320 municípios, o que representa 38% do total, não tiveram, até outubro, registros de assassinatos.

Ainda segundo a Sesp, entre as cerca de 300 cidades que apresentam, historicamente, mais regularidade no registro de homicídios, 47% estão em tendência de queda. Cinquenta municípios conseguiram “reverter a curva ascendente de criminalidade nos dois últimos anos”. Para a pasta, é preciso considerar uma média de três anos ao analisar os dados, para evitar picos extraordinários. “Nesse sentido, há 209 municípios que ficaram sem registros de homicídios entre 2013 e 2015. Desses, mais da metade, 134, se mantiveram sem ocorrências em 2016”.

 

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