(Wesley Rodrigues)
Concluir a faculdade, depois uma pós, quem sabe mestrado e doutorado. Investir na carreira, comprar um carro, apartamento, viajar, curtir a vida. A decisão de ter filhos para as mulheres está vindo cada vez mais tarde.
Para resguardar a possibilidade de engravidar no futuro, muitas têm recorrido ao congelamento de óvulos. A procura pelo procedimento chegou a dobrar nos últimos anos em algumas clínicas especializadas da capital. E a ação do zika vírus, que aumenta o temor de mulheres em engravidar agora, tende a ampliar esse fenômeno.
Diferentemente dos homens, cujos espermatozoides são renovados de tempos em tempos, as mulheres nascem com uma quantidade específica de óvulos, cerca de 2 milhões. Quando chegam à puberdade, esse número reduz para cerca de 500 mil e, a partir daí, mensalmente, perdem mais aproximadamente mil, explica o ginecologista especialista em reprodução assistida e diretor clínico do Instituto Brasileiro de Reprodução Assistida (Ibrra), Bruno Scheffer.
Além de ter a chamada “reserva ovariana” comprometida com o tempo, os óvulos também envelhecem e perdem qualidade. Nessa luta contra a natureza, a técnica de congelamento tem se tornado uma alternativa.
A demanda cresce ano a ano. Segundo Scheffer, de 2014 para 2015, a alta registrada no Ibrra foi de 30% – de 126 para 180 procedimentos.
O ginecologista Sandro Sabino, diretor da Clínica Vilara, também especializada em reprodução humana, diz que a busca por este procedimento na unidade subiu de 80, em 2013, para 140 no ano passado – alta de 75%.
Tratamento
O método consiste na indução de maior ovulação, para a captação e congelamento. A coleta é feita com aspiração guiada por ultrassom, técnica considerada pouco invasiva e que não exige internação.
Apesar da procura pelo congelamento de óvulos ter crescido, o custo ainda é alto. Segundo Sabino, na Clínica Vilara, o procedimento custa cerca de R$ 8 mil, com medicação incluída. Ainda há uma anuidade de aproximadamente R$ 1 mil para manutenção do óvulo no laboratório.
De acordo com Bruno Shaffer, o custo varia entre R$ 7.500 e R$ 9.500, mais R$ 4 mil com medicamentos. A manutenção gira em torno de R$ 100 a R$ 200 por mês.
Chance de sucesso na fertilização in vitro é de 40%
A psicóloga Letícia Carvalho, de 36 anos, pagou R$ 14 mil para congelar óvulos, no ano passado. Para ela, o investimento valeu a pena. “Criei a possibilidade de um sonho futuro. Ainda pretendo ter uma gravidez de forma natural, mas fiz para me resguardar. Caso não consiga, tenho esse plano B”.
Ela afirma ter tomado a decisão ao completar 35 anos, quando a fertilidade reduziu. Letícia iniciou o processo, que necessita de uma preparação de duas a três semanas, quando ainda estava solteira. No meio do caminho, começou a namorar. “Independentemente do relacionamento, teria feito de qualquer jeito”, afirma.
CHANCES
A diretora da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Inês Katerina Cavallo Cruzeiro, alerta que a técnica não é uma panaceia. “Muitas pacientes acham que basta congelar o óvulo para ter filho quando quiserem. Mas apenas 40% das mulheres que têm óvulo congelado vão ter um bebê por este método”.
A médica explica que não há tratamento que melhore a qualidade dos óvulos, à medida que vão envelhecendo. Por isso, ela recomenda que o ideal é congelar as células antes dos 35 anos, para eventualmente usar mais tarde, numa fertilização, caso não haja outra alternativa.
“Se a paciente tiver opção, o mais sensato é engravidar naturalmente, antes dos 40”, orienta Inês.
De acordo com a médica, o congelamento não é usado apenas por causas sociais, mas para pacientes que vão se submeter a tratamento oncológico, que compromete a qualidade dos óvulos, além de mulheres que vão passar por alguma cirurgia mutiladora que resulte na perda dos ovários.