O estudo do ensino religioso pode se tornar obrigatório nas escolas municipais de Belo Horizonte. Aprovado em segundo turno pela Câmara Municipal, o Projeto de Lei (PL) 1.642/15, do vereador Vilmo Gomes, segue agora para apreciação do prefeito Marcio Lacerda, que pode sancioná-lo ou não.
De acordo com Gomes, o projeto pretende preservar a família. “Quando o adolescente tem o ensino religioso, a conduta dele junto à família e à sociedade é diferenciada. Fica mais fácil o relacionamento”, afirmou. Para o vereador, a disciplina deve ser ministrada por teólogos, filósofos ou historiadores. “A proposta é mostrar os ensinamentos bíblicos, cristãos”, observou.
Questionado pela reportagem sobre a obrigatoriedade do ensino religioso, Gomes afirmou que buscou atender ao anseio da maioria das pessoas. “Trabalho com vários segmentos e todos que caminham comigo me apoiaram”, garantiu ao dizer que, além de militar da reserva, é vicentino e teria o aval do segmento religioso.
Discussão
Para o professor da Faculdade de Educação da UFMG, Luciano Mendes de Faria Filho, a proposta é uma “agressão ao caráter laico do estado brasileiro”. “O ensino religioso sempre foi uma demanda de grupos religiosos. E a forma de respeitar todas as religiões é não ter disciplina de nenhuma. Não deveria ter ensino religioso nas escolas, muito menos obrigatoriamente”, afirmou.
O educador, porém, entende que as religiões possam ser retratadas nas escolas, mas não como uma disciplina específica. “As religiões podem ser estudadas dentro do campo da sociologia, filosofia, ética, mas como fenômeno, como objeto de discussão”, disse.
Também professor da Faculdade de Educação, o doutor em Educação Heli Sabino de Oliveira lembrou que o ensino religioso fazia parte da grade curricular até o fim dos anos 1980. “Durante muito tempo, essas aulas foram ligadas à Igreja Católica”, recordou.
Ele entende, contudo, que ao retirar esse conteúdo das escolas, está também “subtraindo, do ponto de vista antropológico, a questão da diversidade humana”. “Defendo que a escola deva trabalhar a religião como fator sociológico. O profissional não deve ser necessariamente um religioso, mas, sim, formado na ciência da religião ou filosofia”, observou.
O professor disse ainda que o ensinamento deve abranger todas as manifestações religiosas, pontuando seus diversos ângulos. “A religião deve ser abordada como algo importante, inerente à sociedade, mas também mostrando todas suas contradições”, frisou.